"O Risco do Arquitecto é um título propositadamente ambíguo, com dois sentidos: de um lado, revelar e dar a conhecer o enquadramento profissional do arquitecto, o modo como “risca”, o desígnio e os propósitos; e do outro, salientar para o “risco” que corre aquele desígnio, enquanto destino e propósito de futuro. A partir da génese da profissão e das suas organizações, o autor discorre sobre a formação em arquitectura e o exercício profissional. Como última profissão humanista e operativa, a Arquitectura sofreu no passado próximo uma modificação profunda, social e científica: actualmente, é exercida por mais de 21 000 arquitectos. A política profissional tem defendido a manutenção do território de actuação em vez de promover a sua ampliação. A uma preocupação legítima da falta de exclusividade na responsabilidade, quanto ao projecto de arquitectura, não se tem associado a preocupação de alargar o território de actividade, de criar a diversidade que contribui para a garantia da autonomia profissional."
O final de ano que agora termina ficou-nos marcado pela perda do Vasco Massapina, colega da Direcção da Associação dos Urbanistas Portugueses (AUP). Autor deste livro, do qual citámos o parágrafo anterior, com ele pude confirmar as principais inquietações da nossa profissão. O Vasco era de uma geração mais experiente, "batido" em tudo o que diz respeito à arquitectura e ao urbanismo: na prática, na teoria, na docência, na defesa do património, no conselho superior de obras públicas, no seu atelier "cidade aberta", nas associações profissionais... Mas partilhava contudo as minhas jovens intuições sobre estas disciplinas, na altura bem menos consolidadas, em particular as suas diferenças conceptuais e metodológicas, entre a arquitectura e o urbanismo, e quanto o arquitecto de "formação base" poderia ganhar em alargar a sua esfera de actividades. Isso sempre me deixou tranquilo, que o que pensava não era novo, havia quem o defendesse com maior experiência de vida, já há bastantes anos. O tempo dá-nos razão - fica certamente essa satisfação! No âmbito da AUP, em breve lhe faremos a devida homenagem, a uma pessoa que marcou pessoalmente cada um que teve a alegria de o conhecer.
Em 2012, conseguimos acertar o passo com a edição destes nano-artigos: em vez de somente 8 (em 2011), publicámos 16 CASU's, os tais 4 em cada número, acrescidos dos respectivos editoriais, por época do ano. Neste Outono com uma recolha de coisas que escrevemos também há bastantes anos. Um texto para uma obra do Arqt.º Sandro Lopes em Caminha, um artigo sobre o ensino do urbanismo (ambos de 2005), o excerto de uma comunicação a uma conferência (2003) e uma "carta aberta ao jovem arquitecto" (2001). Passada mais de uma década, por curiosidade, o André de ontem pode ser hoje o Director dessa mesma revista (JA), ou o aluno que tive o ano passado em Coimbra, ou qualquer outro jovem que se forme em Arquitectura nos próximos anos. Boas leituras e um excelente 2013.
segunda-feira, 24 de dezembro de 2012
domingo, 23 de dezembro de 2012
6.1 - Sem Preconceitos *
Fui habituado desde pequeno a olhar as povoações contínuas do Minho Litoral como lugares de passagem até chegar à Galiza, onde me esperavam 3 meses de imenso Verão. O percurso fazia-se durante todo o dia, por vezes muito lento devido às paragens próprias da época, em especial na EN 13, à passagem na Póvoa, em Ofir, Esposende, Viana, etc. Ansioso por chegar, era então que, já em Caminha, vislumbrava o encontro da foz do Minho com o mar e o Monte de Santa Tecla do outro lado, a anunciar que o nosso merecido descanso se aproximava.
Anos depois, acabei por conhecer um pouco dessa costa litoral, que tinha a sua própria história de férias em Moledo, onde alguns dos professores da “escola do Porto” haviam construído diferentes residências, algumas das quais tive a ocasião de visitar e através delas aprender também uma boa parte do que é o ofício da arquitectura, como os problemas de escala, dos usos e da construção, tão importantes na cultura arquitectónica desta região. A influência que essas obras tiveram na experiência profissional do Arq.º Sandro Lopes é ainda visível, mas o projecto desta habitação resulta também da sua prática em anteriores programas de âmbito público e de um constante diálogo com o proprietário, sempre indispensável para a consolidação teórica de uma obra desta natureza.
A “casa Fernando Martins” localiza-se já na dobra para o que resta da ruralidade de Caminha, virada a Norte para a foz do rio Coura. A escolha do local de implantação apresenta em resumo o valor da obra, que se “afasta” do acesso automóvel e aumenta a sua presença ao situar-se no ponto mais alto do terreno. Também por isso se distancía de preconceitos que poderiam complicar a sua leitura, como o imaginário minimal mais redutor ou as referências explícitas à tectónica local.
O projecto remete assim de maneira directa para as formas clássicas das obras de Frank Lloyd Wright, sem maior inquietude do que integrar todas as condicionantes na procura da melhor solução. Neste sentido comprova-se novamente a “lição venturiana”, que junta alegremente os problemas conceptuais e explora a partir deles as dificuldades com o que projecto se vai deparando. É o caso por exemplo das aberturas necessárias a Norte, de onde se obtém a melhor vista para o exterior, que se resolve através de uma agradável sequência de vãos, ao juntar a madeira das varandas salientes das salas com o ritmo das janelas dos quartos, por sua vez alinhadas com a superfície branca da parede que serve de transição para o remate com a cobertura.
No piso inferior, a parede corrida revestida a tijolo convida a entrar por debaixo desse grande balcão exterior e cobre a área técnica da casa, enquanto que do lado Sul, mais escondido pela inclinação do terreno, se concentram a cozinha, os escritórios e o corredor de acesso aos quartos, dando para um pequeno pátio. A cobertura em gravilha interrompe-se então para iluminar superiormente o hall e a escada de acesso, de forma a completar a luminosidade natural da área central da casa.
Num tempo estimulado pelo constante elogio do novo e das estranhas imagens da vanguarda arquitectónica, é no mínimo saudável observar esta “simples homenagem” à memória da “linguagem wrightiana”, apresentada sem preconceitos, afinal na melhor tradição do que sempre foi a arquitectura, o que revela uma maturidade pouco comum na sua geração, que só nos parece possível através de uma reflexão permanente sobre o desenho e os conteúdos e materiais preexistentes.
* artigo publicado na revista Arquitectura e Vida, nº 59, 2005.
segunda-feira, 17 de dezembro de 2012
6.2 - Da Escola para a actividade profissional (carta aberta ao recém licenciado)*
Caro André,
Serás tratado de jovem arquitecto, tal como eu, ainda por muitos anos, provavelmente até chegarmos aos 40. É uma designação com a qual concordo e me sinto bem, pois a prática da arquitectura, no sentido clássico do termo, e as obras de maior fôlego, exigem ambas uma experiência da vida que só o tempo nos poderá oferecer. Este “estatuto” de jovem arquitecto é assim, na minha perspectiva, uma condição preciosa que não devemos desperdiçar. Podemos assumir desde já a responsabilidade de exercer a nossa “profissão”, mas sabemos igualmente que não estamos ainda suficientemente preparados para a exercer em plenitude, tal como a arquitectura nos foi ensinada, actividade para qual queremos dar obviamente a nossa melhor contribuição. Por isso não avances com maior rapidez do que a necessária, para ti, e aproveita se possível todos estes anos para desenvolver um espírito crítico sobre a arquitectura, tanto no próprio seio do projecto, como nas suas manifestações junto da sociedade que vivemos.
Com efeito, os licenciados em arquitectura estão aptos a desenvolver outras actividades para além das que habitualmente exercem. Essa aptidão advém, principalmente, de dois factores. Por um lado, da nossa ampla percepção das escalas onde o homem se movimenta, do desenho construtivo ao planeamento urbano, e por outro, do nosso raciocínio de síntese, o qual integra, como prova o acto projectual, informações de áreas tão diferenciadas como a geografia, a engenharia, a história ou a economia. Emerge portanto a necessidade de tomarmos consciência que ser arquitecto, hoje em Portugal, pode significar muito mais do que ser o profissional que realiza projectos de arquitectura. E é aqui, sem dúvida, onde se colocam os problemas do ensino e da sua adaptação à realidade laboral existente.
Mesmo considerando um alargamento progressivo das áreas de actividade profissional, onde os arquitectos poderão intervir, parece-me que há outras formas de oferecer unidade a um curso de arquitectura sem ser pelo esmagamento dos conhecimentos parciais, em favor da acumulação de tempos na disciplina de Projecto. Isto porque também não é desejável a especialização ao nível da licenciatura (até pelas recentes orientações comunitárias) e muito menos existirem arquitectos da construção, da informática ou do planeamento. Mantém portanto a confiança no teu curso de arquitectura de espectro generalista e então, só depois, um espírito crítico e as oportunidades poderão fazer a diferença. Descobre o gosto pela investigação, apostando na diversidade, sem preconceitos ou juízos de valor. Encontra novos horizontes profissionais e assim darás uma contribuição inestimável para melhorar o ensino da arquitectura.
Os meus melhores cumprimentos,
Rui Florentino
* excerto de uma "carta do leitor", publicada no número 202 do Jornal Arquitectos da Ordem dos Arquitectos (2001).
Serás tratado de jovem arquitecto, tal como eu, ainda por muitos anos, provavelmente até chegarmos aos 40. É uma designação com a qual concordo e me sinto bem, pois a prática da arquitectura, no sentido clássico do termo, e as obras de maior fôlego, exigem ambas uma experiência da vida que só o tempo nos poderá oferecer. Este “estatuto” de jovem arquitecto é assim, na minha perspectiva, uma condição preciosa que não devemos desperdiçar. Podemos assumir desde já a responsabilidade de exercer a nossa “profissão”, mas sabemos igualmente que não estamos ainda suficientemente preparados para a exercer em plenitude, tal como a arquitectura nos foi ensinada, actividade para qual queremos dar obviamente a nossa melhor contribuição. Por isso não avances com maior rapidez do que a necessária, para ti, e aproveita se possível todos estes anos para desenvolver um espírito crítico sobre a arquitectura, tanto no próprio seio do projecto, como nas suas manifestações junto da sociedade que vivemos.
Com efeito, os licenciados em arquitectura estão aptos a desenvolver outras actividades para além das que habitualmente exercem. Essa aptidão advém, principalmente, de dois factores. Por um lado, da nossa ampla percepção das escalas onde o homem se movimenta, do desenho construtivo ao planeamento urbano, e por outro, do nosso raciocínio de síntese, o qual integra, como prova o acto projectual, informações de áreas tão diferenciadas como a geografia, a engenharia, a história ou a economia. Emerge portanto a necessidade de tomarmos consciência que ser arquitecto, hoje em Portugal, pode significar muito mais do que ser o profissional que realiza projectos de arquitectura. E é aqui, sem dúvida, onde se colocam os problemas do ensino e da sua adaptação à realidade laboral existente.
Mesmo considerando um alargamento progressivo das áreas de actividade profissional, onde os arquitectos poderão intervir, parece-me que há outras formas de oferecer unidade a um curso de arquitectura sem ser pelo esmagamento dos conhecimentos parciais, em favor da acumulação de tempos na disciplina de Projecto. Isto porque também não é desejável a especialização ao nível da licenciatura (até pelas recentes orientações comunitárias) e muito menos existirem arquitectos da construção, da informática ou do planeamento. Mantém portanto a confiança no teu curso de arquitectura de espectro generalista e então, só depois, um espírito crítico e as oportunidades poderão fazer a diferença. Descobre o gosto pela investigação, apostando na diversidade, sem preconceitos ou juízos de valor. Encontra novos horizontes profissionais e assim darás uma contribuição inestimável para melhorar o ensino da arquitectura.
Os meus melhores cumprimentos,
Rui Florentino
* excerto de uma "carta do leitor", publicada no número 202 do Jornal Arquitectos da Ordem dos Arquitectos (2001).
quinta-feira, 6 de dezembro de 2012
6.3 - Ensinar Urbanismo ou "baralhar e voltar a dar"? *
Num livro introdutório, a
Professora Inés Sánchez de Madariaga explica como a história do urbanismo, enquanto
disciplina, se poderá fundamentar em 3 grandes tradições, relacionadas com
diferentes aproximações epistemológicas aos factos urbanos: uma aproximação estética e artística,
que relaciona a visão clássica da arte urbana renascentista e barroca com a
morfologia da cidade e o projecto urbano actual (numa lógica
estético-expressiva); uma aproximação técnica e racionalista,
segundo o pré-urbanismo científico, que se desenvolve no séc. XX através dos
movimentos modernos, do funcionalismo e da sustentabilidade ambiental (numa lógica
técnico-dedutiva); e uma aproximação ética e social, que
considera o urbanismo como um meio para a reforma social, desde a utopia à
filosofia política, passando pela institucionalização do planeamento municipal
até às experiências actuais de participação e de concertação social (numa lógica
ético-normativa).
Com base nesta leitura, parece-nos aceitável defender que daqui decorrem as três principais dimensões do urbanismo, que servem de base à sua área de conhecimento específica e se mantêm presentes nos nossos dias: uma primeira dimensão artística, uma segunda dimensão técnica e uma terceira dimensão social. Mas é também por esta dificuldade em se conciliar numa mesma estrutura universitária estes diferentes campos do saber que o licenciado dificilmente sairá com aptidões necessárias para a prática do urbanismo (e Urbanista como tal), ao fim de um primeiro ciclo de 4 ou 5 anos. Temos pois a sensação de que em Portugal, no ensino do urbanismo, corremos o risco de nos estarmos frequentemente a repetir, a “baralhar e a voltar a dar” os mesmos conhecimentos, seja em graduações ou em pós-graduações, em vez de se pensar num percurso sequencial de formação, que culminará sempre com a prática do planeamento.
Neste sentido, é importante reler as orientações para os conteúdos na formação dos Urbanistas que o Royal Town Planning Institute tem divulgado. Com base na definição da disciplina que o Conselho Europeu de Urbanistas estabeleceu, o Instituto recomenda às escolas de urbanismo diversos elementos de suporte à estrutura curricular, subdivididos em dois tipos de conhecimentos: os "Substantivos" e as Habilitações Práticas.
Este resumo é útil para nos recordarmos da complexidade inerente ao ensino do urbanismo e poderia encorajar as nossas Faculdades para um debate, ainda que inicialmente académico, sobre a formação que estamos a oferecer neste momento em urbanismo, planeamento e ordenamento do território, nas diferentes escolas (de Arquitectura, Engenharia, Geografia, Sociologia, Economia, etc.). Parece-nos que sem o esforço complementar das instituições de ensino seguiremos longe de atingir o nível profissional de outros países europeus e mantemos o risco de continuar a “baralhar e a voltar a dar” os mesmos conhecimentos, em diferentes graus, para alunos com diversos níveis de formação.
* por Rui Florentino. Excerto do artigo publicado na revista Urbanismo, nº 20 (2005), da AUP.
Com base nesta leitura, parece-nos aceitável defender que daqui decorrem as três principais dimensões do urbanismo, que servem de base à sua área de conhecimento específica e se mantêm presentes nos nossos dias: uma primeira dimensão artística, uma segunda dimensão técnica e uma terceira dimensão social. Mas é também por esta dificuldade em se conciliar numa mesma estrutura universitária estes diferentes campos do saber que o licenciado dificilmente sairá com aptidões necessárias para a prática do urbanismo (e Urbanista como tal), ao fim de um primeiro ciclo de 4 ou 5 anos. Temos pois a sensação de que em Portugal, no ensino do urbanismo, corremos o risco de nos estarmos frequentemente a repetir, a “baralhar e a voltar a dar” os mesmos conhecimentos, seja em graduações ou em pós-graduações, em vez de se pensar num percurso sequencial de formação, que culminará sempre com a prática do planeamento.
Neste sentido, é importante reler as orientações para os conteúdos na formação dos Urbanistas que o Royal Town Planning Institute tem divulgado. Com base na definição da disciplina que o Conselho Europeu de Urbanistas estabeleceu, o Instituto recomenda às escolas de urbanismo diversos elementos de suporte à estrutura curricular, subdivididos em dois tipos de conhecimentos: os "Substantivos" e as Habilitações Práticas.
Este resumo é útil para nos recordarmos da complexidade inerente ao ensino do urbanismo e poderia encorajar as nossas Faculdades para um debate, ainda que inicialmente académico, sobre a formação que estamos a oferecer neste momento em urbanismo, planeamento e ordenamento do território, nas diferentes escolas (de Arquitectura, Engenharia, Geografia, Sociologia, Economia, etc.). Parece-nos que sem o esforço complementar das instituições de ensino seguiremos longe de atingir o nível profissional de outros países europeus e mantemos o risco de continuar a “baralhar e a voltar a dar” os mesmos conhecimentos, em diferentes graus, para alunos com diversos níveis de formação.
* por Rui Florentino. Excerto do artigo publicado na revista Urbanismo, nº 20 (2005), da AUP.
domingo, 25 de novembro de 2012
6.4 - Orientações de sustentabilidade para os IGT's *
O Decreto-Lei 380/99, de 22 de
Setembro, “Regime Jurídico dos Instrumentos de Gestão Territorial”, representa
um grande passo para a evolução da política de ordenamento do território em
Portugal. De entre os diversos aspectos muito positivos pos si definidos,
podemos destacar estes dois: 1º, a integração num mesmo diploma dos âmbitos
nacional, regional e municipal, perante a complexidade dos objectivos
perseguidos, estabelecendo a coordenação e as hierarquias de todas as escalas
do planeamento territorial; e 2º, a explicitação dos mecanismos de execução dos
planos visando superar as dificuldades de implementação decorrentes do anterior
Decreto-Lei 69/90, de 2 de Março.
Sendo certo que as figuras do sistema de planeamento são suficientes para abranger a maior parte dos problemas territoriais, focando mesmo por vezes alguns temas e objectivos bem específicos, a presente comunicação procura relacionar a prática do processo de planeamento com aqueles três pilares da sustentabilidade: economia, sociedade e ambiente. Para facilitar o raciocínio faremos uma distinção entre planeamento supra-municipal e planeamento municipal.
No que se refere aos planos especiais de ordenamento do território, dos quais fazem parte os planos de ordenamento de áreas protegidas, os planos de ordenamento de albufeiras de águas públicas e os planos de ordenamento da orla costeira, assiste-se em ocasiões a uma “sacralização” das noções de ambiente e de património natural, optando-se por regulamentos penalizadores devido às necessidades de protecção e de conservação, em detrimento dos aspectos de valorização económica e social. Quanto aos planos regionais de ordenamento do território, parecem assumir finalmente a sua componente estratégica, embora por vezes de forma nem sempre explícita. Será conveniente reforçar ainda esta componente, considerando também os Planos Estratégicos já elaborados por alguns municípios, mas sem validade jurídica, com o objectivo de juntar as análises prospectivas aos diagnósticos SWOT, de pontos fortes, debilidades, oportunidades e ameaças.
No âmbito municipal, passadas mais de duas décadas desde que os PDM's constituem a base da gestão territorial à escala do município, o ordenamento não revela sinais de melhoria. Para tal contribui sem dúvida uma ausência global de planos de urbanização e de pormenor aprovados e não será por acaso que as operações urbanísticas mais conseguidas dos últimos anos surgem apoiadas em diplomas de excepção, elaboradas à margem das normas correntes. Em vez de promoverem o zonamento das actividades urbanas, os planos municipais de ordenamento do território devem estimular soluções que reforcem a diversidade social da cidade, compreendendo as estruturas urbanas já existentes e integrando os novos bairros através de espaços multifuncionais, públicos e privados, que garantam a acessibilidade aos equipamentos e ao trabalho como uma condição prioritária, sem prejuízo da alteração dos modos de vida.
Igualmente os PU's poderão passar por uma obrigatoriedade em todas as sedes de Concelho e integrar nos seus propósitos desde logo os mecanismos de execução previstos no Decreto-Lei 380/99, para promover um melhor desempenho dos traçados urbanísticos e garantir os princípios de igualdade de direitos e deveres a um nível superior, facilitando nesse sentido a passagem à escala de pormenor e aos lotamentos privados. Este objectivo poderá ser concretizado com o apoio de indicadores das actividades económicas do Concelho, junto com informações actualizadas sobre a titularidade do solo. Finalmente os planos de pormenor, aos quais compete fixar a imagem urbana, não apenas a estrutura do edificado em relação com os espaços livres, mas também os seus arruamentos, passeios e jardins, devem procurar soluções técnicas e de desenho que potenciem um melhor desempenho ambiental, agora à escala humana.
Desta breve leitura, verifica-se que a componente económica será aquela que carece de mais aprofundados estudos, para que o nosso território seja mais sustentável e correctamente ordenado, a longo prazo. E ao contrário do que se poderia pensar, a componente ambiental, ainda que por certo significativa em todos os níveis, não estará neste momento fora das preocupações da administração, ou pelo menos parece ser isso o que nos revela a legislação actual e a prática de planeamento do território.
* excerto da comunicação apresentada no 1º Congresso Nacional da Administração Pública, promovido pelo INA e celebrado no Centro de Congressos da Junqueira, Lisboa, em 2003.
Sendo certo que as figuras do sistema de planeamento são suficientes para abranger a maior parte dos problemas territoriais, focando mesmo por vezes alguns temas e objectivos bem específicos, a presente comunicação procura relacionar a prática do processo de planeamento com aqueles três pilares da sustentabilidade: economia, sociedade e ambiente. Para facilitar o raciocínio faremos uma distinção entre planeamento supra-municipal e planeamento municipal.
No que se refere aos planos especiais de ordenamento do território, dos quais fazem parte os planos de ordenamento de áreas protegidas, os planos de ordenamento de albufeiras de águas públicas e os planos de ordenamento da orla costeira, assiste-se em ocasiões a uma “sacralização” das noções de ambiente e de património natural, optando-se por regulamentos penalizadores devido às necessidades de protecção e de conservação, em detrimento dos aspectos de valorização económica e social. Quanto aos planos regionais de ordenamento do território, parecem assumir finalmente a sua componente estratégica, embora por vezes de forma nem sempre explícita. Será conveniente reforçar ainda esta componente, considerando também os Planos Estratégicos já elaborados por alguns municípios, mas sem validade jurídica, com o objectivo de juntar as análises prospectivas aos diagnósticos SWOT, de pontos fortes, debilidades, oportunidades e ameaças.
No âmbito municipal, passadas mais de duas décadas desde que os PDM's constituem a base da gestão territorial à escala do município, o ordenamento não revela sinais de melhoria. Para tal contribui sem dúvida uma ausência global de planos de urbanização e de pormenor aprovados e não será por acaso que as operações urbanísticas mais conseguidas dos últimos anos surgem apoiadas em diplomas de excepção, elaboradas à margem das normas correntes. Em vez de promoverem o zonamento das actividades urbanas, os planos municipais de ordenamento do território devem estimular soluções que reforcem a diversidade social da cidade, compreendendo as estruturas urbanas já existentes e integrando os novos bairros através de espaços multifuncionais, públicos e privados, que garantam a acessibilidade aos equipamentos e ao trabalho como uma condição prioritária, sem prejuízo da alteração dos modos de vida.
Igualmente os PU's poderão passar por uma obrigatoriedade em todas as sedes de Concelho e integrar nos seus propósitos desde logo os mecanismos de execução previstos no Decreto-Lei 380/99, para promover um melhor desempenho dos traçados urbanísticos e garantir os princípios de igualdade de direitos e deveres a um nível superior, facilitando nesse sentido a passagem à escala de pormenor e aos lotamentos privados. Este objectivo poderá ser concretizado com o apoio de indicadores das actividades económicas do Concelho, junto com informações actualizadas sobre a titularidade do solo. Finalmente os planos de pormenor, aos quais compete fixar a imagem urbana, não apenas a estrutura do edificado em relação com os espaços livres, mas também os seus arruamentos, passeios e jardins, devem procurar soluções técnicas e de desenho que potenciem um melhor desempenho ambiental, agora à escala humana.
Desta breve leitura, verifica-se que a componente económica será aquela que carece de mais aprofundados estudos, para que o nosso território seja mais sustentável e correctamente ordenado, a longo prazo. E ao contrário do que se poderia pensar, a componente ambiental, ainda que por certo significativa em todos os níveis, não estará neste momento fora das preocupações da administração, ou pelo menos parece ser isso o que nos revela a legislação actual e a prática de planeamento do território.
* excerto da comunicação apresentada no 1º Congresso Nacional da Administração Pública, promovido pelo INA e celebrado no Centro de Congressos da Junqueira, Lisboa, em 2003.
terça-feira, 25 de setembro de 2012
CASU 5 - Verão de 2012
O Expresso tem a nossa idade. Faz 40 anos. É o jornal da geração de Abril. Da anterior e da posterior. E soube ir mudando com o tempo. Antecipando as necessidades de actualizações. De formas e conteúdos. Um dos directores que mais o marcou foi José António Saraiva. Arquitecto. Hoje Director do concorrente "Sol". Que escrevia assim. Exactamente. Muito nos influenciou. Com estas nano-frases. E assim descobrimos uma relação. Entre os seus editoriais e este blog. Que é um blog de nano-artigos.
Neste Verão, o Expresso deu voz a vários arquitectos. O que nos fez pensar novamente no modo como a arquitectura se apresenta ao público informado. Inicialmente, confirmámos o óbvio. Que os arquitectos dizem e escrevem coisas que não se percebem. Numa conversa com Zeinal Bava, Carrilho da Graça diz que "inovação é o reacerto entre o homem e o mundo quando falamos de arquitectura". Como? O que é que isto quer dizer? O problema deve ser nosso, porque é mesmo uma frase que o jornalista destacou em "letras gordas". Outro exemplo (se calhar o problema foi ter sido no início da conversa): "A arquitectura constrói-se e nós construímos milhões de metros cúbicos permanentemente em todo o mundo. A lógica ou a racionalidade ou a falta dela nesse conjunto de construção é decisiva." (?) Obviamente, Carrilho da Graça também diz coisas que se percebem, e interessantes, mas esta tendência para afirmar pensamentos profundos é um fenómeno dos arquitectos. Da qual nos temos afastado. Porque gostamos de escrever de uma forma simples, para descomplicar. Sobretudo daquelas coisas que não são de facto simples.Lá para o meio do Verão, precisamente talvez por isso, na segunda entrada de arquitectos, desta vez em conversa com Sobrinho Simões, Souto Moura fez esta analogia com o corpo humano. Que a estrutura e as fachadas dos edifícios são o esqueleto e a pele da arquitectura. E que as cidades sempre se construiram mais ou menos da mesma maneira, com base num traçado ortorreticular. Mileto, Buenos Aires, Lisboa, New York. Então ficámos mais satisfeitos, o que se confirmou com as entradas de Manuel Mateus, em conversa com uma boa aluna de Arquitectura, e de Álvaro Siza Vieira, em conversa com D. Manuel Clemente. E até o também Vereador Manuel Salgado se destacou, numa notícia sobre a implantação de novos pavimentos no chão de Lisboa, intercalando o calcário e o granito. Para evitar as quedas nos passeios.
Muito a propósito, Branca Neves escreve neste número sobre o espaço pedonal na requalificação da sua cidade. Ao que se juntam outras duas dissertações de Mestrado: de Ricardo Sousa Lopes sobre os bairros de habitação social após 74, com o sugestivo título de "Aprender com os erros"; e de Ana Baptista sobre a re-utilização de antigos Mosteiros, aproximando-nos do património, um tema a que muito provavelmente voltaremos noutros CASU's. Para além de um pequeno "abstract", cumpre-se assim um dos principais objectivos deste blog, de divulgar trabalhos académicos que tivémos também a oportunidade de discutir e avaliar.
terça-feira, 18 de setembro de 2012
5.1 - Os novos usos dos Mosteiros em Portugal. O caso de Santa Maria de Semide
por Ana Paula dos Santos Baptista *
O Mosteiro de Santa Maria de Semide, no concelho de Miranda do Corvo, é um edifício do séc. XII, classificado como imóvel de interesse público, pelo que o seu estado de conservação, os seus usos e a sua envolvente territorial constituíram as primeiras preocupações deste trabalho. Este património encontra-se hoje inserido num contexto rural próximo da cidade de Coimbra, sendo utilizado por três instituições: Igreja, Cáritas Diocesanas (centro de acolhimento de jovens) e Cearte (escola de formação profissional). Pelo facto de uma área significativa do conjunto se encontrar em ruína, entende-se como urgente a necessidade de uma solução de intervenção, sob pena de se incorrer no risco de perda de uma parte importante da sua história, bem como do símbolo, do legado memorial e da referência identitária que constitui para a região.
Em termos comparativos, os outros estudos de caso apresentados são exemplos de diferentes abordagens, opções de reconversão (turismo, ensino e cultura) e contextos (peri-urbano, rural e central), ilustrando a polifonia de estratégias de reutilização e valorização do património religioso. Nesse sentido, a Pousada de Santa Marinha da Costa e a Escola Superior Agrária de Refóios de Lima apresentam-se como dois casos de sucesso no campo da reconversão e de novos usos, quer pelas obras de referência que produziram, ou pelo papel desempenhado na conservação e reabilitação do património. Já São Bento da Vitória no Porto é um exemplo de mais difícil integração, ao se propor um programa de complexa adaptação a um espaço estruturalmente delimitado.
Constatou-se que a manutenção da memória do edificado e do lugar assume-se em Santa Maria de Semide como um dos aspectos de maior relevância, tratando-se de envolver as pessoas, de forma inclusiva, no seus valores culturais e afectivos. A estratégia proposta, de manutenção dos actuais usos, com a alteração do projecto existente, decorre assim da sensibilidade com que se encaram as necessidades e a vontade expressa pela população. Afinal esse valor da memória que se pretende conservar reside naqueles que habitam o lugar.
* Arquitecta
Fonte da imagem: www.trilhos.abutres.net
O Mosteiro de Santa Maria de Semide, no concelho de Miranda do Corvo, é um edifício do séc. XII, classificado como imóvel de interesse público, pelo que o seu estado de conservação, os seus usos e a sua envolvente territorial constituíram as primeiras preocupações deste trabalho. Este património encontra-se hoje inserido num contexto rural próximo da cidade de Coimbra, sendo utilizado por três instituições: Igreja, Cáritas Diocesanas (centro de acolhimento de jovens) e Cearte (escola de formação profissional). Pelo facto de uma área significativa do conjunto se encontrar em ruína, entende-se como urgente a necessidade de uma solução de intervenção, sob pena de se incorrer no risco de perda de uma parte importante da sua história, bem como do símbolo, do legado memorial e da referência identitária que constitui para a região.
Em termos comparativos, os outros estudos de caso apresentados são exemplos de diferentes abordagens, opções de reconversão (turismo, ensino e cultura) e contextos (peri-urbano, rural e central), ilustrando a polifonia de estratégias de reutilização e valorização do património religioso. Nesse sentido, a Pousada de Santa Marinha da Costa e a Escola Superior Agrária de Refóios de Lima apresentam-se como dois casos de sucesso no campo da reconversão e de novos usos, quer pelas obras de referência que produziram, ou pelo papel desempenhado na conservação e reabilitação do património. Já São Bento da Vitória no Porto é um exemplo de mais difícil integração, ao se propor um programa de complexa adaptação a um espaço estruturalmente delimitado.
Constatou-se que a manutenção da memória do edificado e do lugar assume-se em Santa Maria de Semide como um dos aspectos de maior relevância, tratando-se de envolver as pessoas, de forma inclusiva, no seus valores culturais e afectivos. A estratégia proposta, de manutenção dos actuais usos, com a alteração do projecto existente, decorre assim da sensibilidade com que se encaram as necessidades e a vontade expressa pela população. Afinal esse valor da memória que se pretende conservar reside naqueles que habitam o lugar.
* Arquitecta
Fonte da imagem: www.trilhos.abutres.net
terça-feira, 28 de agosto de 2012
5.2 - O Espaço Pedonal na requalificação da cidade de Lisboa
por Branca Gameiro Neves *
Conclui-se que a requalificação urbana tem na intervenção no seu espaço público pedonal um “aliado”, que pode e deve contribuir para a qualidade de vida de todos os cidadãos, para o que é necessário que essas intervenções tenham em linha de conta a memória do local, o seu uso, a sua forma material e imaterial, as suas vivências e a sua envolvente construída, assim como as suas interligações com os espaços contíguos.
Perante novas formas de habitar, e novas formas de pensar a cidade, que os habitantes cada vez mais exigem, é necessário que os espaços públicos sejam atractivos, despertem novos modos de interacção e participação colectiva, e surpreendam os seus utilizadores proporcionando-lhes actividades diferentes e sensações de bem-estar.
Esse bem-estar, associado à noção de segurança, conforto e comodidade do mobiliário urbano, à iluminação e ao tipo de pavimentação, à qualidade estética e à manutenção do próprio espaço público, permite uma boa e cada vez maior sociabilização (tão importante num quadro de quase desagregação de valores e de relações interpessoais) e uma vivência saudável que é imprescindível para que os cidadãos se sintam bem e felizes.
* Arquitecta.
Câmara Municipal de Lisboa
** Desenho de Manuel Costa Lobo
A
partir de uma análise conceptual do que é o Espaço Público Pedonal e das suas
diversas componentes, pretende-se verificar de que modo é que a mobilidade
pedonal e a existência de espaços e percursos pedonais de qualidade contribuem
para a revitalização e qualificação da cidade, neste caso de Lisboa.
O
âmbito do estudo revê-se num conjunto de três projectos de que a autora foi
projectista ou coordenadora, que curiosamente se inscrevem nos três tipos de
espaços públicos mais dominantes em Lisboa – o Terreiro / Praça, o Largo e a
Rua, respectivamente o Terreiro do Paço, o Largo de S. Domingos, e as ruas do
núcleo Histórico de Carnide. Destas três intervenções, a primeira não
compreende uma intervenção física mas antes um programa de dinamização
sócio/cultural, que é uma componente de extrema importância no potenciar da
qualificação do espaço público pedonal.Conclui-se que a requalificação urbana tem na intervenção no seu espaço público pedonal um “aliado”, que pode e deve contribuir para a qualidade de vida de todos os cidadãos, para o que é necessário que essas intervenções tenham em linha de conta a memória do local, o seu uso, a sua forma material e imaterial, as suas vivências e a sua envolvente construída, assim como as suas interligações com os espaços contíguos.
Perante novas formas de habitar, e novas formas de pensar a cidade, que os habitantes cada vez mais exigem, é necessário que os espaços públicos sejam atractivos, despertem novos modos de interacção e participação colectiva, e surpreendam os seus utilizadores proporcionando-lhes actividades diferentes e sensações de bem-estar.
Esse bem-estar, associado à noção de segurança, conforto e comodidade do mobiliário urbano, à iluminação e ao tipo de pavimentação, à qualidade estética e à manutenção do próprio espaço público, permite uma boa e cada vez maior sociabilização (tão importante num quadro de quase desagregação de valores e de relações interpessoais) e uma vivência saudável que é imprescindível para que os cidadãos se sintam bem e felizes.
* Arquitecta.
Câmara Municipal de Lisboa
** Desenho de Manuel Costa Lobo
segunda-feira, 27 de agosto de 2012
5.3 - "Aprender com os erros" - os modelos urbanísticos dos bairros de habitação social no pós 25 de Abril
por Ricardo Sousa Lopes *
Na sequência do desenvolvimento da investigação “A concepção do espaço público em bairros de realojamento como pressuposto estruturador dos processos de inserção social”, este trabalho justapõe os modelos urbanísticos dos bairros à forma como a população os apropria, daí procurando extrair dados concretos relativamente ao real desempenho das soluções em causa. A leitura da forma de apropriação do bairro pelos seus utilizadores faz-se segundo duas dimensões, nomeadamente a partir de observações no local e através de uma análise sócio-urbanística, sustentada por entrevistas aos moradores.
Na sequência do desenvolvimento da investigação “A concepção do espaço público em bairros de realojamento como pressuposto estruturador dos processos de inserção social”, este trabalho justapõe os modelos urbanísticos dos bairros à forma como a população os apropria, daí procurando extrair dados concretos relativamente ao real desempenho das soluções em causa. A leitura da forma de apropriação do bairro pelos seus utilizadores faz-se segundo duas dimensões, nomeadamente a partir de observações no local e através de uma análise sócio-urbanística, sustentada por entrevistas aos moradores.
Pretende-se
apresentar uma contribuição para a elaboração de novos projectos de
arquitectura e urbanismo na área da habitação social, introduzindo no processo
uma ponderação conscienciosa e objectiva das questões sociais. O trabalho
poderá igualmente lançar pistas relativamente à melhor forma de requalificar os
bairros de realojamento, sobretudo os mais problemáticos. Na Área Metropolitana
de Lisboa foram estudados os seguintes bairros: Padre Cruz, Quinta do
Charquinho, Casal dos Machados, Condado, Quinta da Fonte, Amarelo, Bela Vista
(foto) e Manteigadas. E na Área Metropolitana do Porto: Aleixo, Lagarteiro e
Dr. Durão Barroso.
A palavra-chave que emergiu como definição do conceito que deverá nortear a abordagem urbanística e arquitectónica à problemática da habitação social é a“integração”. Foram identificadas várias questões que influenciam de forma significativa os níveis de integração dos bairros, relativamente ao seu contexto. Dessas questões, relevamos a localização e a dimensão como factores potencialmente decisivos no grau de integração dos bairros: uma má localização é altamente determinista, embora nalguns casos possa ser contornada através da construção de bons acessos e do alargamento da rede de transportes públicos; e por seu lado a dimensão tem a capacidade de ampliar ou reduzir o que é positivo, mas também o que é negativo.
Resulta assim a ideia de que é possível diluir muitos dos problemas associados à habitação social, através da decomposição do seu volume, disseminando-o pelas cidades, sob a forma de pequenos bairros, edifícios ou, em último caso, de fogos integrados noutros edifícios, a construir ou a reabilitar. É precisamente nesse sentido que apontam as mais recentes políticas europeias nesta matéria. No fundo, está em causa uma alteração de paradigma, tendencialmente deixamos de ter “bairros de realojamento” e passamos a ter “edifícios de realojamento”. Tal transformação permite encarar a habitação social como peça integrante de uma cidade contínua, afastando o conceito de bairro social fechado sobre ele próprio.
A palavra-chave que emergiu como definição do conceito que deverá nortear a abordagem urbanística e arquitectónica à problemática da habitação social é a“integração”. Foram identificadas várias questões que influenciam de forma significativa os níveis de integração dos bairros, relativamente ao seu contexto. Dessas questões, relevamos a localização e a dimensão como factores potencialmente decisivos no grau de integração dos bairros: uma má localização é altamente determinista, embora nalguns casos possa ser contornada através da construção de bons acessos e do alargamento da rede de transportes públicos; e por seu lado a dimensão tem a capacidade de ampliar ou reduzir o que é positivo, mas também o que é negativo.
Resulta assim a ideia de que é possível diluir muitos dos problemas associados à habitação social, através da decomposição do seu volume, disseminando-o pelas cidades, sob a forma de pequenos bairros, edifícios ou, em último caso, de fogos integrados noutros edifícios, a construir ou a reabilitar. É precisamente nesse sentido que apontam as mais recentes políticas europeias nesta matéria. No fundo, está em causa uma alteração de paradigma, tendencialmente deixamos de ter “bairros de realojamento” e passamos a ter “edifícios de realojamento”. Tal transformação permite encarar a habitação social como peça integrante de uma cidade contínua, afastando o conceito de bairro social fechado sobre ele próprio.
* Sousa Lopes Arquitectos
terça-feira, 21 de agosto de 2012
5.4 - Exploring metropolitan governance
por Rui Florentino
This paper explores the relation between the main issues to improve a metropolitan governance model, regarding the institutional context and the planning practices. In particular, it explains the relevance and implementation of processes that respond to the running governance challenges in capital regions. To find arguments and justify some possible innovations, even if they are unique, twelve variables are qualitatively measured, through a comparative case study methodology, concerning the regions of Lisbon, Madrid, Barcelona and Paris. In fact, the Portuguese capital does not seem to have a remarkable experience on the metropolitan governance, but how is it facing those challenges? What are the main differences in his currently governance and planning processes, when compared with the closer European cases?
The research concludes that there is a tendency to balance between the variables of a metropolitan governance system, which does not prevent different paths to register: for example the Paris region has developed good initiatives in “technical processes”, which then require adjustments in the context, while Madrid had in recent years less activity, in result of his institutional stability. The Lisbon region stays in an “intermediate position”, with a dynamic evolution that is difficult to predict. But according to that argument, it’s possible to admit that his processes can gradually lead to small improvements in this governance system, with his own path, implementing actions that must respect, in particular, the geography of the territory.
This paper explores the relation between the main issues to improve a metropolitan governance model, regarding the institutional context and the planning practices. In particular, it explains the relevance and implementation of processes that respond to the running governance challenges in capital regions. To find arguments and justify some possible innovations, even if they are unique, twelve variables are qualitatively measured, through a comparative case study methodology, concerning the regions of Lisbon, Madrid, Barcelona and Paris. In fact, the Portuguese capital does not seem to have a remarkable experience on the metropolitan governance, but how is it facing those challenges? What are the main differences in his currently governance and planning processes, when compared with the closer European cases?
The research concludes that there is a tendency to balance between the variables of a metropolitan governance system, which does not prevent different paths to register: for example the Paris region has developed good initiatives in “technical processes”, which then require adjustments in the context, while Madrid had in recent years less activity, in result of his institutional stability. The Lisbon region stays in an “intermediate position”, with a dynamic evolution that is difficult to predict. But according to that argument, it’s possible to admit that his processes can gradually lead to small improvements in this governance system, with his own path, implementing actions that must respect, in particular, the geography of the territory.
domingo, 20 de maio de 2012
CASU 4 - Primavera de 2012
Com este 4º número conclui-se a fase inicial de arranque dos CASU's. Apesar de não se ter cumprido temporalmente a sequência trimestral prometida, já que o 2º número apenas surgiu no final do Outono de 2011 (praticamente um ano após os primeiros 4 textos publicados), este site atingiu já o objectivo a que nos haviamos proposto: fazer um registo de diferentes trabalhos, que temos tido a oportunidade de realizar e acompanhar, nas actividades docentes e de investigação e consultoria, organizados por domínios / "etiquetas" - arquitectura, espaço público, urbanismo e ordenamento do território.
Mas a principal satisfação, neste primeiro balanço editorial, é que a variedade de assuntos e autores terá certamente continuidade, porque novos desafios aparecem e mais estudantes acompanhamos, procurando valorizar a sua reflexão e o conhecimento de diferentes perspectivas de trabalho. Inerente a esta enriquecedora diversidade, é o olhar sobre muitos territórios, do Norte ao Sul de Portugal continental, que possivelmente no futuro serão alargados a outras fronteiras.
Por cá, a reforma territorial da administração portuguesa, que regressa agora à discussão pública, é um tema que acompanhamos há algum tempo, pelo menos desde 1998, quando um enviezado referendum adiou a regionalização. Passada quase década e meia, esta reforma já não é voluntária, passou a ser uma necessidade, imposta pela "assistência" política e financeira a que estamos subjugados. Ora, ela tem sem dúvida uma dimensão analítica, que o governo rapidamente quis traçar, com base nos indicadores quantitativos, mas não deve ser esquecida a sua dimensão geográfica, que tem a ver com os recursos naturais e as características especiais de cada território, como se deverá considerar pela aplicação da metodologia de avaliação estratégica, a que seguramente voltaremos.
Nesta edição dos Cadernos, apresenta-se o resumo de mais um trabalho de Pós-Graduação, neste caso sobre o planeamento de uma urbanização turística do Centro Litoral, e a memória de um projecto construído na margem Sul. O número completa-se com dois textos que são parte do 1º capítulo de um manual que ajudámos a redigir, em equipa coordenada por Fernando Nunes da Silva, sobre o desenvolvimento urbano sustentável, publicado pela Parque Expo em 2009.
Mas a principal satisfação, neste primeiro balanço editorial, é que a variedade de assuntos e autores terá certamente continuidade, porque novos desafios aparecem e mais estudantes acompanhamos, procurando valorizar a sua reflexão e o conhecimento de diferentes perspectivas de trabalho. Inerente a esta enriquecedora diversidade, é o olhar sobre muitos territórios, do Norte ao Sul de Portugal continental, que possivelmente no futuro serão alargados a outras fronteiras.
Por cá, a reforma territorial da administração portuguesa, que regressa agora à discussão pública, é um tema que acompanhamos há algum tempo, pelo menos desde 1998, quando um enviezado referendum adiou a regionalização. Passada quase década e meia, esta reforma já não é voluntária, passou a ser uma necessidade, imposta pela "assistência" política e financeira a que estamos subjugados. Ora, ela tem sem dúvida uma dimensão analítica, que o governo rapidamente quis traçar, com base nos indicadores quantitativos, mas não deve ser esquecida a sua dimensão geográfica, que tem a ver com os recursos naturais e as características especiais de cada território, como se deverá considerar pela aplicação da metodologia de avaliação estratégica, a que seguramente voltaremos.
Nesta edição dos Cadernos, apresenta-se o resumo de mais um trabalho de Pós-Graduação, neste caso sobre o planeamento de uma urbanização turística do Centro Litoral, e a memória de um projecto construído na margem Sul. O número completa-se com dois textos que são parte do 1º capítulo de um manual que ajudámos a redigir, em equipa coordenada por Fernando Nunes da Silva, sobre o desenvolvimento urbano sustentável, publicado pela Parque Expo em 2009.
sábado, 19 de maio de 2012
4.1 - Casa em Vale Flores, Almada
O lote situa-se numa pendente acentuada, em que a rua que lhe dá acesso está cerca de 6 metros acima do terreno plano, do lado nascente. Não sendo portanto aconselhável defender uma solução que passasse pela convencional
rampa de acesso à garagem no piso mais baixo, porque teríamos uma inclinação de 20 %, que implicaria, também, a
impermeabilização de grande parte do lote, optou-se por uma solução menos
corrente, mas que permite o parqueamento coberto à cota de entrada da rua, integrando-o
no piso superior da habitação. "Enterra-se" assim ligeiramente a casa, levando-a a um
contacto directo com o terreno natural em baixo, em zona mais privilegiada.
Por isso, ao contrário da maioria das habitações existentes e em construção
neste Loteamento, o projecto propõe somente um piso acima da
cota da rua, inclusivé rebaixado cerca de 1 metro na zona de entrada da casa,
precisamente para se potenciar o uso exterior do lote, a partir das suas áreas
de vida diurna, a sala e a cozinha.
Tal como imposto pelo Loteamento, não contando o parqueamento e a cave para arrumos, a área de construção da habitação é de 180 m2. A entrada faz-se a um patamar intermédio, ascendente para os quartos e descendente para a cozinha e a sala, que terão assim amplas aberturas para o terreno natural, ao qual se acede através de cinco degraus em deck permeável de madeira, formando-se uma zona de transição entre o interior e o exterior da habitação, à frente da área permeável ajardinada.
A cércea varia então entre os 3,5 e os 6,5 metros, dividindo-se em três pisos: o piso 1 com três quartos, duas instalações sanitárias mais o parqueamento, o piso 0 com a cozinha e a sala e o piso – 1, de arrumos, aproveitando a área fechada até às fundações, de acordo também com a sugestão dos serviços técnicos de licenciamento da Câmara. Ainda no exterior, nas partes laterais da habitação respeitam-se os afastamentos de 3 metros, deixando-se o terreno em pendente natural do lado Nordeste, enquanto que do lado Sudoeste optou-se por umas escadas de ligação à cozinha, sem necessidade de passar pelo interior da habitação.
Arqt.º Joaquim Novais (projecto base), Arqt.ª Andreia Pascoal (execução) e Rui Florentino.
Tal como imposto pelo Loteamento, não contando o parqueamento e a cave para arrumos, a área de construção da habitação é de 180 m2. A entrada faz-se a um patamar intermédio, ascendente para os quartos e descendente para a cozinha e a sala, que terão assim amplas aberturas para o terreno natural, ao qual se acede através de cinco degraus em deck permeável de madeira, formando-se uma zona de transição entre o interior e o exterior da habitação, à frente da área permeável ajardinada.
A cércea varia então entre os 3,5 e os 6,5 metros, dividindo-se em três pisos: o piso 1 com três quartos, duas instalações sanitárias mais o parqueamento, o piso 0 com a cozinha e a sala e o piso – 1, de arrumos, aproveitando a área fechada até às fundações, de acordo também com a sugestão dos serviços técnicos de licenciamento da Câmara. Ainda no exterior, nas partes laterais da habitação respeitam-se os afastamentos de 3 metros, deixando-se o terreno em pendente natural do lado Nordeste, enquanto que do lado Sudoeste optou-se por umas escadas de ligação à cozinha, sem necessidade de passar pelo interior da habitação.
Arqt.º Joaquim Novais (projecto base), Arqt.ª Andreia Pascoal (execução) e Rui Florentino.
4.2 - Valorização ambiental do espaço público
por Rui Florentino
A componente física do espaço urbano exerce uma grande influência na comodidade com que realizamos as actividades quotidianas, condicionando o bem-estar dos cidadãos. Para além de certas normas administrativas, que podem favorecer o seu bom desempenho (a lógica da perequação de benefícios e encargos, em áreas relativamente homogéneas) ou, pelo contrário, o tornam anónimo (como o nivelamento, por baixo, das dimensões mínimas de arruamentos e passeios), importa entender o desenho urbano enquanto arte de construção do espaço público e aprender, então, não só com as boas práticas recentes, como também com as práticas populares e tradicionais de cada lugar.
As preocupações básicas são obviamente as funcionais e de dimensionamento: a correcta distribuição de usos do solo, entre público e privado, de áreas permeáveis e de implantação, de zonas de circulação pedonal e viária, de materiais de pavimento e vegetação. Mas existe igualmente alguma informação de carácter ambiental que pode proporcionar maior criatividade ao desenho urbano e conforto para o espaço público; desde logo o conhecimento das orientações solares mais adequadas, do sentido predominante dos ventos, da temperatura e humidade do microclima. Sabe-se, por exemplo, que é difícil conseguir uma boa orientação em simultâneo para edifícios e espaços públicos, face a estações climáticas opostas. Se um conjunto de edifícios protege uma praça de ventos frios desagradáveis no Inverno, esse espaço poderá necessitar de outro tipo de protecção para não aquecer demasiado no Verão, quando as brisas no mesmo sentido permitiriam baixar as altas temperaturas.
Em qualquer caso, algumas soluções bioclimáticas podem ser utilizadas para oferecer conforto ambiental ao espaço público, considerando elementos naturais como a vegetação e a água, ou inertes, como o mobiliário e os materiais dos pavimentos e as suas cores, porque estes elementos e variáveis proporcionam obviamente diferentes sensações de calor e de humidade, conforme os objectivos que se pretendem alcançar. A este nível, salientam-se também questões importantes como a manutenção (que muitas vezes é esquecida e passa a ser um custo não relacionado com o proveito público do espaço) e a segurança, que de forma voluntária deverá ser logo maximizada evitando os lugares escondidos, fora do alcance dos “olhos da rua” (as janelas dos edifícios), como referiu Jane Jacobs (1961).
Mas o sucesso do espaço público não depende apenas de aspectos ambientais ou de desenho. Se, finalmente, “o que mais atrai as pessoas são as outras pessoas” e o que importa assegurar é uma boa intensidade de uso, então a razão para o sucesso do espaço público está também relacionada com a densidade e diversidade funcional das actividades da envolvente próxima. Com base nestas simples recomendações, atenda-se ainda à preservação de memórias colectivas relevantes e a propostas inovadoras, porventura mais multi-funcionais e acessíveis para todos.
Em Castelo Branco promoveu-se a requalificação dos centros histórico e cívico, com intervenções integradas para a melhoria dos espaços públicos, da mobilidade e do estacionamento, iniciando a aposta em simultâneo no urbanismo e nos transportes, que é um dos requisitos fundamentais da sustentabilidade aplicada ao ambiente urbano. Ao nível do espaço público, a praça central (na foto) contemplou uma prévia avaliação do conforto bioclimático e é agora valorizada com novos equipamentos, a Biblioteca Municipal e o Centro de Arte Contemporânea.
A componente física do espaço urbano exerce uma grande influência na comodidade com que realizamos as actividades quotidianas, condicionando o bem-estar dos cidadãos. Para além de certas normas administrativas, que podem favorecer o seu bom desempenho (a lógica da perequação de benefícios e encargos, em áreas relativamente homogéneas) ou, pelo contrário, o tornam anónimo (como o nivelamento, por baixo, das dimensões mínimas de arruamentos e passeios), importa entender o desenho urbano enquanto arte de construção do espaço público e aprender, então, não só com as boas práticas recentes, como também com as práticas populares e tradicionais de cada lugar.
As preocupações básicas são obviamente as funcionais e de dimensionamento: a correcta distribuição de usos do solo, entre público e privado, de áreas permeáveis e de implantação, de zonas de circulação pedonal e viária, de materiais de pavimento e vegetação. Mas existe igualmente alguma informação de carácter ambiental que pode proporcionar maior criatividade ao desenho urbano e conforto para o espaço público; desde logo o conhecimento das orientações solares mais adequadas, do sentido predominante dos ventos, da temperatura e humidade do microclima. Sabe-se, por exemplo, que é difícil conseguir uma boa orientação em simultâneo para edifícios e espaços públicos, face a estações climáticas opostas. Se um conjunto de edifícios protege uma praça de ventos frios desagradáveis no Inverno, esse espaço poderá necessitar de outro tipo de protecção para não aquecer demasiado no Verão, quando as brisas no mesmo sentido permitiriam baixar as altas temperaturas.
Em qualquer caso, algumas soluções bioclimáticas podem ser utilizadas para oferecer conforto ambiental ao espaço público, considerando elementos naturais como a vegetação e a água, ou inertes, como o mobiliário e os materiais dos pavimentos e as suas cores, porque estes elementos e variáveis proporcionam obviamente diferentes sensações de calor e de humidade, conforme os objectivos que se pretendem alcançar. A este nível, salientam-se também questões importantes como a manutenção (que muitas vezes é esquecida e passa a ser um custo não relacionado com o proveito público do espaço) e a segurança, que de forma voluntária deverá ser logo maximizada evitando os lugares escondidos, fora do alcance dos “olhos da rua” (as janelas dos edifícios), como referiu Jane Jacobs (1961).
Mas o sucesso do espaço público não depende apenas de aspectos ambientais ou de desenho. Se, finalmente, “o que mais atrai as pessoas são as outras pessoas” e o que importa assegurar é uma boa intensidade de uso, então a razão para o sucesso do espaço público está também relacionada com a densidade e diversidade funcional das actividades da envolvente próxima. Com base nestas simples recomendações, atenda-se ainda à preservação de memórias colectivas relevantes e a propostas inovadoras, porventura mais multi-funcionais e acessíveis para todos.
Em Castelo Branco promoveu-se a requalificação dos centros histórico e cívico, com intervenções integradas para a melhoria dos espaços públicos, da mobilidade e do estacionamento, iniciando a aposta em simultâneo no urbanismo e nos transportes, que é um dos requisitos fundamentais da sustentabilidade aplicada ao ambiente urbano. Ao nível do espaço público, a praça central (na foto) contemplou uma prévia avaliação do conforto bioclimático e é agora valorizada com novos equipamentos, a Biblioteca Municipal e o Centro de Arte Contemporânea.
4.3 - O programa POLIS
De facto, deve-se valorizar o mecanismo de excepção administrativa utilizado nos POLIS, perante os procedimentos da gestão urbanística mais corrente, embora o que realmente interesse seja aprender das boas experiências. Nesse sentido, o projecto do Cacém resulta mesmo num exemplo para futuras intervenções em áreas periféricas dos principais centros urbanos, tanto para os processos contínuos da gestão municipal, como na política de cidades promovida pelo governo central. Na cidade de Viseu, a intervenção abrange uma área urbana considerável, com cerca de 260 hectares e integrando quatro Planos de Pormenor previstos no PDM, de objectivos bem diferentes, mas complementares entre si: o parque urbano da Aguieira; a envolvente urbana do rio Pavia; a Cava de Viriato e suas áreas envolventes; e ainda o prolongamento da Av. António José de Almeida.
Em Viana, o programa tocou também em diferentes espaços urbanos, fazendo neste caso um percurso mais linear, ao longo da margem norte do rio Lima, do campo da Agonia, passando pelo Plano de reabilitação do centro histórico, até ao Parque da Cidade, do lado nascente da ponte Eiffel. A intervenção contempla a renovação de toda a frente ribeirinha, permitindo a construção de espaços públicos e equipamentos para fruição da população, numa área com um elevado valor paisagístico. Regulou-se a circulação automóvel, em benefício de amplos espaços para a mobilidade pedonal, e obteve-se ainda um óptimo resultado na relação entre os planos e a arquitectura, com obras marcantes para o perfil urbano, como a Biblioteca Municipal e o Pavilhão Multiusos.
Já no caso de Albufeira, o programa visa qualificar a cidade para um turismo mais equilibrado, que supere os constrangimentos da sazonalidade e apresente novas oportunidades de desenvolvimento das actividades económicas, durante todo o ano. Trata-se de outra intervenção paradigmática do POLIS, dirigida à valorização do espaço público, num ambiente paisagístico, histórico e natural, de inegável qualidade. O conceito de ordenamento assenta então em vários planos integrados, não apenas ao nível urbanístico, mas também de transportes, estacionamento e valorização turística, com os quais se pretende alargar o centro funcional da cidade, reforçar a articulação do espaço público com as praias, condicionar a circulação automóvel e pedonalizar as áreas mais sensíveis.
4.4 - Plano de Pormenor do aldeamento Mira Villas
por Luis Gil *
Ao longo do tempo e com o evoluir das sociedades, todos os planos estão sujeitos à necessidade de ajustamentos, por forma a considerarem novas realidades territoriais e exigências da população. Inicialmente, a área residencial do Plano de Pormenor do aldeamento Mira Villas destinava-se fundamentalmente a segunda habitação, mas com a melhoria das acessibilidades exteriores passou a haver uma maior procura, com vista à residência permanente.
De facto, a melhoria da estrada nacional de acesso a Coimbra, com a construção da variante externa à vila de Mira, bem como a construção da A17, facilitando a ligação, em menos de 30 minutos, às cidades de Aveiro e Figueira da Foz, levou a que muitas pessoas que trabalham nesses centros urbanos optassem por residir neste aldeamento. Esta alteração, pela maior frequência de utilização dos espaços, obrigou também a outro tipo de funcionalidades, como os transportes públicos, que permitem a deslocação da população mais jovem para as escolas situadas na envolvente próxima.
Pelo seu enquadramento singular, ponderou-se também a construção de uma pequena unidade hoteleira no interior da urbanização, que não estava contemplada no Plano de Pormenor aprovado, bem como de um campo de golfe, situação igualmente não prevista no antecedente Plano Geral de Urbanização. Apesar ter sido o principal factor nas decisões dos investimentos efectuados no empreendimento, sucede no entanto que o campo de golfe acabou por ser inviabilizado com a aprovação de uma área protegida classificada como Rede Natura. Também em menor escala, mas não menos exempleficativo, um caminho pedonal que ligaria o centro da urbanização directamente à praia, nunca foi executado devido à intransigência do Plano de Ordenamento da Orla Costeira, que entrou em vigor algum tempo após o início do empreendimento.
Apenas o aparthotel veio a ser aprovado e verificou-se assim que é possível urbanizar certas infra-estruturas turísticas, mesmo em zonas ambientalmente sensíveis, desde que não provoquem conflitos irreversíveis, ficando demonstrada a boa coabitação entre o património natural e o construído.
* Engenheiro Civil.
Mira Development, SA
Ao longo do tempo e com o evoluir das sociedades, todos os planos estão sujeitos à necessidade de ajustamentos, por forma a considerarem novas realidades territoriais e exigências da população. Inicialmente, a área residencial do Plano de Pormenor do aldeamento Mira Villas destinava-se fundamentalmente a segunda habitação, mas com a melhoria das acessibilidades exteriores passou a haver uma maior procura, com vista à residência permanente.
De facto, a melhoria da estrada nacional de acesso a Coimbra, com a construção da variante externa à vila de Mira, bem como a construção da A17, facilitando a ligação, em menos de 30 minutos, às cidades de Aveiro e Figueira da Foz, levou a que muitas pessoas que trabalham nesses centros urbanos optassem por residir neste aldeamento. Esta alteração, pela maior frequência de utilização dos espaços, obrigou também a outro tipo de funcionalidades, como os transportes públicos, que permitem a deslocação da população mais jovem para as escolas situadas na envolvente próxima.
Pelo seu enquadramento singular, ponderou-se também a construção de uma pequena unidade hoteleira no interior da urbanização, que não estava contemplada no Plano de Pormenor aprovado, bem como de um campo de golfe, situação igualmente não prevista no antecedente Plano Geral de Urbanização. Apesar ter sido o principal factor nas decisões dos investimentos efectuados no empreendimento, sucede no entanto que o campo de golfe acabou por ser inviabilizado com a aprovação de uma área protegida classificada como Rede Natura. Também em menor escala, mas não menos exempleficativo, um caminho pedonal que ligaria o centro da urbanização directamente à praia, nunca foi executado devido à intransigência do Plano de Ordenamento da Orla Costeira, que entrou em vigor algum tempo após o início do empreendimento.
Apenas o aparthotel veio a ser aprovado e verificou-se assim que é possível urbanizar certas infra-estruturas turísticas, mesmo em zonas ambientalmente sensíveis, desde que não provoquem conflitos irreversíveis, ficando demonstrada a boa coabitação entre o património natural e o construído.
* Engenheiro Civil.
Mira Development, SA
domingo, 11 de março de 2012
CASU 3 - Inverno de 2012
Austeridade é uma palavra que adquiriu uma conotação negativa, sinónimo da necessidade de cortes nos salários e nas despesas, com que nos deparamos todos os dias, perante as actuais políticas europeias. Já no contexto da actividade de urbanismo, a austeridade pode ter, contudo, um sentido positivo, como demonstrou em 1978 o livro do italiano Giuseppe Campos Venuti, que foi consultor do governo espanhol para os estudos de planeamento metropolitano em Madrid, a par de Nuno Portas, em 1981. No nº 8 da revista Estudios Territoriales, a recensão de Pedro Marin Cots à publicação deste livro destaca que o termo deve aplicar-se a uma proposta de melhoria da qualidade urbana. "Neste sentido, a austeridade significa a luta contra o desperdício de recursos, em benefício da ampliação dos consumos sociais e equipamentos públicos." Com efeito, a consciência ecológica hoje mais apurada, passadas mais de 3 décadas, evidencia que necessitamos também de um amplo compromisso, para enfrentar a situação territorial e ambiental.
Questionar o modo como olhamos e interpretamos os espaços colectivos, que habitamos no quotidiano da nossa vida urbana, é muitas vezes o que propomos em meio académico. O gosto com que o fazemos é ainda mais revelante quando os nossos interlocutores não são propriamente arquitectos ou urbanistas. Neste 3º número dos CASU, publicam-se resumos de trabalhos realizados para as aulas de Urbanismo e Território, no âmbito da Pós-Graduação em Gestão e Avaliação no Imobiliário, da Escola de Gestão Empresarial da UCP-Porto, que incluem autores licenciados em Ciências Farmaceuticas e Informática de Gestão (!). Ora, tal não impede que em pouco tempo consigam entender os problemas e as questões práticas essenciais de urbanismo e ordenamento. Assim, Madalena Macedo Pinto apresenta-nos a urbanização do Foco, na Avenida da Boavista, José Luis Lourenço analisa diferentes espaços verdes e de lazer, João Fonseca reflecte sobre um novo projecto urbano residencial e Ricardo Almeida salienta a importância da rede de transportes públicos, tendo nestes casos como denominador comum o território da cidade-região do Porto.
No fundo, a mensagem que sempre deixamos em diagonal, como quem escreve sobre o que já sabe, são observações sobre política urbana, que requerem bastante ponderação, sobretudo em tempos de austeridade, como este.
a) que a cidade deve ser vista como a solução para podermos viver melhor, como diz Jaime Lerner, porque ela permite uma sociedade mais próspera e coesa;
b) que com a evolução tecnológica os estilos de vida mudam muito rapidamente, mas a cidade demora mais tempo, pelo que os urbanistas somos algo conservadores;
c) que a administação local deve desenvolver competências, em qualidade ambiental, mobilidade urbana e reabilitação do espaço público;
d) e que os agentes económicos entendem agora que o rendimento urbano estará em territórios criativos, procurando juntar a inovação com o legado histórico.
Questionar o modo como olhamos e interpretamos os espaços colectivos, que habitamos no quotidiano da nossa vida urbana, é muitas vezes o que propomos em meio académico. O gosto com que o fazemos é ainda mais revelante quando os nossos interlocutores não são propriamente arquitectos ou urbanistas. Neste 3º número dos CASU, publicam-se resumos de trabalhos realizados para as aulas de Urbanismo e Território, no âmbito da Pós-Graduação em Gestão e Avaliação no Imobiliário, da Escola de Gestão Empresarial da UCP-Porto, que incluem autores licenciados em Ciências Farmaceuticas e Informática de Gestão (!). Ora, tal não impede que em pouco tempo consigam entender os problemas e as questões práticas essenciais de urbanismo e ordenamento. Assim, Madalena Macedo Pinto apresenta-nos a urbanização do Foco, na Avenida da Boavista, José Luis Lourenço analisa diferentes espaços verdes e de lazer, João Fonseca reflecte sobre um novo projecto urbano residencial e Ricardo Almeida salienta a importância da rede de transportes públicos, tendo nestes casos como denominador comum o território da cidade-região do Porto.
No fundo, a mensagem que sempre deixamos em diagonal, como quem escreve sobre o que já sabe, são observações sobre política urbana, que requerem bastante ponderação, sobretudo em tempos de austeridade, como este.
a) que a cidade deve ser vista como a solução para podermos viver melhor, como diz Jaime Lerner, porque ela permite uma sociedade mais próspera e coesa;
b) que com a evolução tecnológica os estilos de vida mudam muito rapidamente, mas a cidade demora mais tempo, pelo que os urbanistas somos algo conservadores;
c) que a administação local deve desenvolver competências, em qualidade ambiental, mobilidade urbana e reabilitação do espaço público;
d) e que os agentes económicos entendem agora que o rendimento urbano estará em territórios criativos, procurando juntar a inovação com o legado histórico.
segunda-feira, 5 de março de 2012
3.1 - Complexo residencial da Boavista
por Madalena Macedo Pinto *
O complexo residencial da Boavista foi inicialmente designado por "Urbanização William Graham", devido a ter sido edificado no terreno que ocupava a área de uma antiga fábrica textil, pertencente a essa firma inglesa, construída nos finais do séc. XIX. Após a paralização da unidade fabril, a William Graham, proprietária do imóvel e de terrenos anexos, decidiu rentabilizar o local, projectando um complexo residencial.
A ideia de construir uma urbanização nesta zona estava de acordo com o Plano Director da cidade do Porto, do urbanista Robert Auzelle, do início dos anos 60. Actualmente, este complexo é mais conhecido por "Foco", devido ao nome do cinema entretanto aí instalado. Realizado a partir de 1962 pelo Arquitecto Agostinho Ricca, o projecto caracteriza-se por um urbanismo moderno, em que se abandonam os elementos morfológicos da cidade tradicional - "o quarteirão fechado" e "a rua corredor", desenhando a urbanização com um ambiente humanizado, integrado por amplos espaços verdes.
Trata-se de uma zona residencial a par de escritórios, galerias comerciais, um hotel, um clube destinado aos moradores, uma sala de espectáculos e uma igreja, projectada em 1979, também por Ricca. Todos estes equipamentos se desenvolvem à volta de um espaço verde destinado ao convívio. Na concepção desta área, é notório o cuidado que houve em dar aos espaços de lazer um carácter reservado, que os torna bastante agradáveis. Isto foi conseguido separando-os da rua e do estacionamento, através da aplicação de diferentes patamares, encontrando-se a circulação viária a uma cota mais elevada. Criou-se um desnível entre a vegetação e os edifícios, que dá uma sensação de maior acolhimento. As extensas galerias comerciais situam-se nos edifícios dos dois lados deste jardim central.
Inicialmente, a única entrada existente para "o Foco" era pela Avenida da Boavista, o que dava a este complexo um cariz de "condomínio fechado". Só muitos anos mais tarde, em 2004, foi aberta uma saída para Norte, que transformou o Foco numa zona de passagem para acesso a outras partes da cidade e sua envolvente, através da Via de Cintura Interna.
O facto de ter sido construído em várias fases, explica a evolução de um desenho inicial muito racionalista, para um diálogo com os upgrades que a arquitectura foi entretanto adquirindo. Este complexo residencial revela assim um enorme estudo e aplicação de conhecimentos da vivência urbana, resultando num espaço interessantíssimo, que cumpre, na sua maioria, todos os objectivos a que se propôs, estimulando relações sociais que acontecem da simples rotina diária.
* Pós-Graduada em Gestão e Avaliação no Imobiliário
Fonte da imagem - http://pt.wikipedia.org/wiki/Agostinho_Ricca
O complexo residencial da Boavista foi inicialmente designado por "Urbanização William Graham", devido a ter sido edificado no terreno que ocupava a área de uma antiga fábrica textil, pertencente a essa firma inglesa, construída nos finais do séc. XIX. Após a paralização da unidade fabril, a William Graham, proprietária do imóvel e de terrenos anexos, decidiu rentabilizar o local, projectando um complexo residencial.
A ideia de construir uma urbanização nesta zona estava de acordo com o Plano Director da cidade do Porto, do urbanista Robert Auzelle, do início dos anos 60. Actualmente, este complexo é mais conhecido por "Foco", devido ao nome do cinema entretanto aí instalado. Realizado a partir de 1962 pelo Arquitecto Agostinho Ricca, o projecto caracteriza-se por um urbanismo moderno, em que se abandonam os elementos morfológicos da cidade tradicional - "o quarteirão fechado" e "a rua corredor", desenhando a urbanização com um ambiente humanizado, integrado por amplos espaços verdes.
Trata-se de uma zona residencial a par de escritórios, galerias comerciais, um hotel, um clube destinado aos moradores, uma sala de espectáculos e uma igreja, projectada em 1979, também por Ricca. Todos estes equipamentos se desenvolvem à volta de um espaço verde destinado ao convívio. Na concepção desta área, é notório o cuidado que houve em dar aos espaços de lazer um carácter reservado, que os torna bastante agradáveis. Isto foi conseguido separando-os da rua e do estacionamento, através da aplicação de diferentes patamares, encontrando-se a circulação viária a uma cota mais elevada. Criou-se um desnível entre a vegetação e os edifícios, que dá uma sensação de maior acolhimento. As extensas galerias comerciais situam-se nos edifícios dos dois lados deste jardim central.
Inicialmente, a única entrada existente para "o Foco" era pela Avenida da Boavista, o que dava a este complexo um cariz de "condomínio fechado". Só muitos anos mais tarde, em 2004, foi aberta uma saída para Norte, que transformou o Foco numa zona de passagem para acesso a outras partes da cidade e sua envolvente, através da Via de Cintura Interna.
O facto de ter sido construído em várias fases, explica a evolução de um desenho inicial muito racionalista, para um diálogo com os upgrades que a arquitectura foi entretanto adquirindo. Este complexo residencial revela assim um enorme estudo e aplicação de conhecimentos da vivência urbana, resultando num espaço interessantíssimo, que cumpre, na sua maioria, todos os objectivos a que se propôs, estimulando relações sociais que acontecem da simples rotina diária.
* Pós-Graduada em Gestão e Avaliação no Imobiliário
Fonte da imagem - http://pt.wikipedia.org/wiki/Agostinho_Ricca
3.2 - Os espaços verdes e de lazer da cidade do Porto
por José Luis Lourenço *
Se parece consensual afirmar que quanto maior for a área de Espaços Verdes de uma cidade, melhor será a qualidade do ar e da vida das populações, bem como que as zonas verdes podem contribuir para mais facilmente reduzir a poluição sonora e aumentar o conforto térmico das zonas habitacionais, também é verdade que a cidade é um espaço urbano e não meio rural, devendo os Planos e Regulamentos ter a função de tentar definir o equilíbrio e as regras destas áreas. É também consensual que a cidade do Porto teve uma melhoria significativa nos últimos 20 anos em termos de espaços verdes, em que muito contribuiu o Parque da Cidade e o aumento de ruas arborizadas, mas também o incremento de áreas verdes de proximidade. Mas mesmo nos casos em que as capitações dos espaços verdes de proximidade estão de acordo com os regulamentos e a legislação vigentes, verifica-se que os mesmos têm um cariz essencialmente estético e não convidam ao usufruto pela população.
Afigura-se assim que existe alguma falta de coerência na política de implementação de espaços verdes com identidade na cidade do Porto, quer em temos de distribuição espacial dos mesmos pela cidade, quer na sua tipologia e configuração, quer na falta de definição de espaços de lazer complementares atractivos. Não basta haver mais áreas verdes na cidade do Porto, é necessário a Câmara ter uma postura pró-activa, passando a fazer estudos sistemáticos, da adequação dos mesmos às expectativas das populações, que certamente também serão diferentes conforme a idade, extracto sócio/económico/cultural, para além de evoluírem com os tempos. Assim, é importante a diversidade de tipos de espaços verdes, e fazer experiências com a utilização dos mesmos.
A baixa frequência de utilizadores de todos os espaços verdes analisados nos fins de semana de observação para este trabalho, contrastante com o sucesso de público na marginal da Foz e nos parques infantis da Quinta do Covelo e Praia do Homem do Leme, sugerem pistas de análise futura relativas às apostas de investimento em Espaços Verdes e de Lazer na Cidade do Porto, face às necessidades actuais de rentabilização dos escassos recursos económicos e do fomento generalizado da qualidade de vida.
* Engenheiro Civil.
Fase, Estudos e Projectos SA
Fonte da imagem - http://sidoniopardal.com
Se parece consensual afirmar que quanto maior for a área de Espaços Verdes de uma cidade, melhor será a qualidade do ar e da vida das populações, bem como que as zonas verdes podem contribuir para mais facilmente reduzir a poluição sonora e aumentar o conforto térmico das zonas habitacionais, também é verdade que a cidade é um espaço urbano e não meio rural, devendo os Planos e Regulamentos ter a função de tentar definir o equilíbrio e as regras destas áreas. É também consensual que a cidade do Porto teve uma melhoria significativa nos últimos 20 anos em termos de espaços verdes, em que muito contribuiu o Parque da Cidade e o aumento de ruas arborizadas, mas também o incremento de áreas verdes de proximidade. Mas mesmo nos casos em que as capitações dos espaços verdes de proximidade estão de acordo com os regulamentos e a legislação vigentes, verifica-se que os mesmos têm um cariz essencialmente estético e não convidam ao usufruto pela população.
Afigura-se assim que existe alguma falta de coerência na política de implementação de espaços verdes com identidade na cidade do Porto, quer em temos de distribuição espacial dos mesmos pela cidade, quer na sua tipologia e configuração, quer na falta de definição de espaços de lazer complementares atractivos. Não basta haver mais áreas verdes na cidade do Porto, é necessário a Câmara ter uma postura pró-activa, passando a fazer estudos sistemáticos, da adequação dos mesmos às expectativas das populações, que certamente também serão diferentes conforme a idade, extracto sócio/económico/cultural, para além de evoluírem com os tempos. Assim, é importante a diversidade de tipos de espaços verdes, e fazer experiências com a utilização dos mesmos.
A baixa frequência de utilizadores de todos os espaços verdes analisados nos fins de semana de observação para este trabalho, contrastante com o sucesso de público na marginal da Foz e nos parques infantis da Quinta do Covelo e Praia do Homem do Leme, sugerem pistas de análise futura relativas às apostas de investimento em Espaços Verdes e de Lazer na Cidade do Porto, face às necessidades actuais de rentabilização dos escassos recursos económicos e do fomento generalizado da qualidade de vida.
* Engenheiro Civil.
Fase, Estudos e Projectos SA
Fonte da imagem - http://sidoniopardal.com
3.3 - O Plano de Pormenor da Gist-Brocades
por João Fonseca*
A antiga fábrica da Gist-Brocades, em Matosinhos, produzia levedura de panificação para aplicação na indústria alimentar e também penicilina. Ocupava uma área aproximada de 3 ha, numa zona industrial constituída desde os inícios do séc. XX, na entrada sul da cidade. Tendo laborado durante cinquenta anos, cessou a sua actividade no ano de 2001, fruto da pressão exercida no sentido de recuperar e reconverter a zona, eliminando o forte impacte ambiental negativo. A transformação deste espaço deu origem ao empreendimento designado Palácio da Enseada.
A criação do Plano de Pormenor da Gist-Brocades vem no seguimento de uma política de obtenção de mais valias urbanísticas de forma a aproveitar o grande impluso dado ao mercado residencial pela conjuntura económica e de concessão de crédito para compra de habitação, em vigor no início deste século. Para um desenvolvimento urbano sustentável seria essencial que neste Plano em particular, e no Plano de urbanização de Matosinhos Sul em geral, fosse considerada uma mistura de usos - instituições públicas e privadas, escritórios, habitação e hóteis.
No caso deste Plano de Pormenor criou-se um fluxo estimado de cerca de 600 habitantes que vão estar fora da zona durante um largo período do dia e que só voltam a esta área quando o comércio de rua está fechado ou não proporciona condições de conforto e estacionamento que motivem o seu recurso. A existência de uma zona forte em serviços, nomeadamente escritórios, iria trazer para a área envolvente ao Plano um número considerável de pessoas que poderiam utilizá-la durante o dia. Desta forma, seria possível desenvolver uma série de políticas activas de fomento do comércio de rua, atendendo a que existiria público consumidor.
Em resumo, levantam-se algumas interrogações quanto aos índices adoptados, é questionada a utillização do espaço público para acesso ao estacionamento privado, a ausência de estacionamento público, a mobilidade, a falta de mistura de usos com consequências nefastas para a dinamização da zona comercial da envolvente e também a componente ambiental do projecto.
* Perito Avaliador de Imóveis.
Formatos. Formadores e Consultores Associados, Lda.
Fonte da imagem - http://palaciodaenseada.com
A antiga fábrica da Gist-Brocades, em Matosinhos, produzia levedura de panificação para aplicação na indústria alimentar e também penicilina. Ocupava uma área aproximada de 3 ha, numa zona industrial constituída desde os inícios do séc. XX, na entrada sul da cidade. Tendo laborado durante cinquenta anos, cessou a sua actividade no ano de 2001, fruto da pressão exercida no sentido de recuperar e reconverter a zona, eliminando o forte impacte ambiental negativo. A transformação deste espaço deu origem ao empreendimento designado Palácio da Enseada.
A criação do Plano de Pormenor da Gist-Brocades vem no seguimento de uma política de obtenção de mais valias urbanísticas de forma a aproveitar o grande impluso dado ao mercado residencial pela conjuntura económica e de concessão de crédito para compra de habitação, em vigor no início deste século. Para um desenvolvimento urbano sustentável seria essencial que neste Plano em particular, e no Plano de urbanização de Matosinhos Sul em geral, fosse considerada uma mistura de usos - instituições públicas e privadas, escritórios, habitação e hóteis.
No caso deste Plano de Pormenor criou-se um fluxo estimado de cerca de 600 habitantes que vão estar fora da zona durante um largo período do dia e que só voltam a esta área quando o comércio de rua está fechado ou não proporciona condições de conforto e estacionamento que motivem o seu recurso. A existência de uma zona forte em serviços, nomeadamente escritórios, iria trazer para a área envolvente ao Plano um número considerável de pessoas que poderiam utilizá-la durante o dia. Desta forma, seria possível desenvolver uma série de políticas activas de fomento do comércio de rua, atendendo a que existiria público consumidor.
Em resumo, levantam-se algumas interrogações quanto aos índices adoptados, é questionada a utillização do espaço público para acesso ao estacionamento privado, a ausência de estacionamento público, a mobilidade, a falta de mistura de usos com consequências nefastas para a dinamização da zona comercial da envolvente e também a componente ambiental do projecto.
* Perito Avaliador de Imóveis.
Formatos. Formadores e Consultores Associados, Lda.
Fonte da imagem - http://palaciodaenseada.com
domingo, 4 de março de 2012
3.4 - Metro do Porto. A vida em movimento
por Ricardo Almeida*
O Metro do Porto é mais do que uma simples infra-estrutura. É um projecto de referência, uma ideia ambiciosa e um alicerce que contribui para o aumento da auto-estima de quem usufrui e se sente integrado nesta região.
As perspectivas de crescimento nos seus utilizadores mantêm-se, nomeadamente com o alargamento da rede. Neste contexto, será relevante a extensão da linha amarela em Gaia até à Vila d'Este. Além da valorização local, os aspectos sociais desta zona são muito importantes e por certo a expansão do Metro do Porto continuará a contribuir para o aumento da qualidade de vida desta população, conjuntamente com a requalificação urbana que está actualmente a ser implementada.
A discussão em torno do projecto do Metro do Porto é um processo participativo, com o envolvimento das pessoas, dos políticos e dos principais stakeholders da região: Voluntário, porque envolveu as pessoas, projectando para um futuro melhor; Inclusivo, tentou não deixar nenhum componente de fora, incluindo diversas visões sobre o projecto; Contínuo, depois da obra concluída, continua a existir um acompanhamento permanente por parte da empresa pública de transportes; Indicativo, recebe continuadamente sugestões de melhoria do espaço, como é exemplo a inclusão de iniciativas culturais dentro das estações de metro; Orientado para a procura, não estando desfasado com a realidade, ou seja, existe procura e necessidade desta infra-estrutura; Ultrapassa limites, não é pensado apenas nos limites territoriais de cada concelho; Participado, continua a ter uma participação grande do público que se sente orgulhoso e envolvido na melhoria da sua qualidade de vida; Sustentável, reduz em muito as emissões de CO2 e existe uma conduta eco-eficiente em todas as práticas da empresa, nomeadamente a contabilização dos fluxos de energia; e Intermodal, pela articulação com as outras redes de transportes públicos da região.
* Engenheiro do Ambiente.
Gaianima
O Metro do Porto é mais do que uma simples infra-estrutura. É um projecto de referência, uma ideia ambiciosa e um alicerce que contribui para o aumento da auto-estima de quem usufrui e se sente integrado nesta região.
As perspectivas de crescimento nos seus utilizadores mantêm-se, nomeadamente com o alargamento da rede. Neste contexto, será relevante a extensão da linha amarela em Gaia até à Vila d'Este. Além da valorização local, os aspectos sociais desta zona são muito importantes e por certo a expansão do Metro do Porto continuará a contribuir para o aumento da qualidade de vida desta população, conjuntamente com a requalificação urbana que está actualmente a ser implementada.
A discussão em torno do projecto do Metro do Porto é um processo participativo, com o envolvimento das pessoas, dos políticos e dos principais stakeholders da região: Voluntário, porque envolveu as pessoas, projectando para um futuro melhor; Inclusivo, tentou não deixar nenhum componente de fora, incluindo diversas visões sobre o projecto; Contínuo, depois da obra concluída, continua a existir um acompanhamento permanente por parte da empresa pública de transportes; Indicativo, recebe continuadamente sugestões de melhoria do espaço, como é exemplo a inclusão de iniciativas culturais dentro das estações de metro; Orientado para a procura, não estando desfasado com a realidade, ou seja, existe procura e necessidade desta infra-estrutura; Ultrapassa limites, não é pensado apenas nos limites territoriais de cada concelho; Participado, continua a ter uma participação grande do público que se sente orgulhoso e envolvido na melhoria da sua qualidade de vida; Sustentável, reduz em muito as emissões de CO2 e existe uma conduta eco-eficiente em todas as práticas da empresa, nomeadamente a contabilização dos fluxos de energia; e Intermodal, pela articulação com as outras redes de transportes públicos da região.
* Engenheiro do Ambiente.
Gaianima
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