segunda-feira, 27 de agosto de 2012

5.3 - "Aprender com os erros" - os modelos urbanísticos dos bairros de habitação social no pós 25 de Abril

por Ricardo Sousa Lopes *

Na sequência do desenvolvimento da investigação “A concepção do espaço público em bairros de realojamento como pressuposto estruturador dos processos de inserção social”, este trabalho justapõe os modelos urbanísticos dos bairros à forma como a população os apropria, daí procurando extrair dados concretos relativamente ao real desempenho das soluções em causa. A leitura da forma de apropriação do bairro pelos seus utilizadores faz-se segundo duas dimensões, nomeadamente a partir de observações no local e através de uma análise sócio-urbanística, sustentada por entrevistas aos moradores.
Pretende-se apresentar uma contribuição para a elaboração de novos projectos de arquitectura e urbanismo na área da habitação social, introduzindo no processo uma ponderação conscienciosa e objectiva das questões sociais. O trabalho poderá igualmente lançar pistas relativamente à melhor forma de requalificar os bairros de realojamento, sobretudo os mais problemáticos. Na Área Metropolitana de Lisboa foram estudados os seguintes bairros: Padre Cruz, Quinta do Charquinho, Casal dos Machados, Condado, Quinta da Fonte, Amarelo, Bela Vista (foto) e Manteigadas. E na Área Metropolitana do Porto: Aleixo, Lagarteiro e Dr. Durão Barroso.
A palavra-chave que emergiu como definição do conceito que deverá nortear a abordagem urbanística e arquitectónica à problemática da habitação social é a“integração”. Foram identificadas várias questões que influenciam de forma significativa os níveis de integração dos bairros, relativamente ao seu contexto. Dessas questões, relevamos a localização e a dimensão como factores potencialmente decisivos no grau de integração dos bairros: uma má localização é altamente determinista, embora nalguns casos possa ser contornada através da construção de bons acessos e do alargamento da rede de transportes públicos; e por seu lado a dimensão tem a capacidade de ampliar ou reduzir o que é positivo, mas também o que é negativo.
Resulta assim a ideia de que é possível diluir muitos dos problemas associados à habitação social, através da decomposição do seu volume, disseminando-o pelas cidades, sob a forma de pequenos bairros, edifícios ou, em último caso, de fogos integrados noutros edifícios, a construir ou a reabilitar. É precisamente nesse sentido que apontam as mais recentes políticas europeias nesta matéria. No fundo, está em causa uma alteração de paradigma, tendencialmente deixamos de ter “bairros de realojamento” e passamos a ter “edifícios de realojamento”. Tal transformação permite encarar a habitação social como peça integrante de uma cidade contínua, afastando o conceito de bairro social fechado sobre ele próprio.

* Sousa Lopes Arquitectos

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