domingo, 14 de dezembro de 2014

CASU 12 - Outono de 2014


Conforme indicado na última edição dos CASU, este número 12 é dedicado ao XVI Congresso Ibero-americano de Urbanismo, que a AUP organizou com o apoio da Câmara Municipal de Sintra. Nos primeiros dias de Outubro reuniram-se no Centro Cultural Olga Cadaval e em duas salas do contíguo Museu das Artes mais de duas centenas de profissionais, provenientes de quase todos os países ibero-americanos, para discutirem os 4 quatro tópicos do encontro, sob o tema geral: Sociedade e Território - novos desafios.
A sessão de abertura contou com a intervenção do Ministro do Ambiente, Ordenamento do Território e Energia, Eng.º Jorge Moreira da Silva, antecedente da excelente conferência inaugural, proferida pelo Prof. Sidónio Pardal, que presidiu à Comissão Científica do Congresso. Dando o mote para os trabalhos, foram de seguida lembradas as personalidades de Eduardo García de Enterría e Manuel da Costa Lobo, que tanto influenciaram a formação das disciplinas de urbanismo e planeamento, desde a transição política para a democracia, em Espanha e Portugal.
O programa foi organizado em 3 conferências plenárias e 10 sessões paralelas onde se apresentaram cerca de 80 comunicações. A primeira conferência plenária teve a participação do Prof. Sílvio Macedo, que versou sobre a ocupação da orla brasileira, tendo como referência o projecto Orla, da Prof.ª Ingrid Roche, sobre o ordenamento do litoral sur-este uruguayo, com o resumo aqui incluído (12.4), e do Eng.º Rodrigo Sarmento Beires, relativa ao cerne das dinâmicas de gestão e valorização dos espaços rústicos - a propriedade e a exploração agro-florestal.
A segunda conferência plenária contou com a intervenção dos arquitectos Desiree Martinez e Álvaro Gómez-Ferrer, com os títulos de, respectivamente: "Paisajes urbano multifuncionales, un caminho hacia el nuevo paradigma urbano" e "Património y Paisaje - un encuentro privilegiado, una oportunidad potenciadora". Em complemento, o Prof. Mário Moutinho apresentou uma comunicação sobre o ensino e a prática profissional do urbanismo em Portugal e na Comunidade dos Países de Língua Portuguesa.
Já no terceiro dia, a terceira conferência plenária teve a participação de Eduardo Rojas, sobre a conservação do património como um instrumento para o desenvolvimento urbano, e de Tiago Trigueiros, que apresentou o planos para o ordenamento do litoral de Sintra, com moderação de Ismael Fernández, presidente do Hábitat Professionals Fórum, que agrega várias associações internacionais nas áreas da Arquitectura, do Urbanismo e da Paisagem.
Houve também oportunidade para se assistir a uma mesa redonda sobre "cidades e sítios património mundial", dirigida pelo Presidente da Câmara Municipal de Sintra, Dr. Basílio Horta, e a uma sessão especial dedicada ao ensino do urbanismo, que tive o prazer de moderar e onde participaram colegas de vários cursos, que em Portugal formam os possíveis futuros urbanistas. Por último, foi definida a localização da 17ª edição, que se propõem organizar os urbanistas peruanos, em Lima.
Para além da comunicação relativa ao sub-tema 1, Ordenamento do Litoral, completamos este número dos CASU com um exemplo de cada um dos outros 3 sub-temas do Congresso. O Presidente da Associação Espanhola de Técnicos Urbanistas, Dr. Sebastià Grau, apresentou uma comunicação sobre o Parque Natural de Collserola, em Barcelona, versando o sub-tema 2 (Valorização dos Espaços Agrícolas e Florestais), e as Arquitectas Ana Baptista e Rita Monfort apresentaram trabalhos de investigação nos âmbitos dos sub-temas 3 e 4 (Património e Paisagem e Conceitos Inovadores para o Urbanismo), respectivamente "Aldeia sem Sociedade" e "Pequeñas actuaciones para un urbanismo flexible e sostenible".
Boas leituras, um Feliz Natal e próspero 2015!

12.1 - Aldeia sem Sociedade


por Ana Baptista *


No âmbito do trabalho a ser desenvolvido para tese de doutoramento na Universidade de Sevilha, em cooperação com a Escola Universitária das Artes de Coimbra, com o título “O caso das aldeias serranas – importância e limites destas unidades sociais e patrimoniais na sustentabilidade do território”, pretende-se apresentar neste Congresso uma reflexão teórica sob o tema: Aldeia sem sociedade.
As transformações verificadas nos meios rurais, que enquadradas no ambiente europeu foram em Portugal bastante tardias, bem como a crise que os atravessa, a perda das suas actividades agrícolas, o despovoamento e os desafios que enfrentam configuram um cenário de mudança identitária desses lugares.
Perante este facto, pretende-se reflectir sobre o que tem sido a “descoberta” (recente) deste património edificado. Como caso de estudo são analisadas as Aldeias de Xisto, assim designadas administrativamente, situadas na região centro (Beira), como possível instrumento, recurso de sustentabilidade e motor para o desenvolvimento destas áreas.
Assumindo que a valorização dos lugares e da sua memória, a potencialização de recursos, de culturas e actividades, assim como a divulgação de espaços esquecidos, cuja marca perdura no território, poderá ser uma forma de acção em contextos sócio – económicos deprimidos, particularmente em comunidades rurais fragilizadas, fortemente despovoadas e com dificuldades de afirmação como estas, a questão que se coloca é a de saber até que ponto (em alguns casos), este património tem vindo a ganhar uma dimensão retórica, folclórica e muitas vezes encenada, a pretexto de uma estratégia de desenvolvimento e promoção local, promovendo muitas vezes símbolos de singularidade, (de uma sociedade que lhes deu origem, mas que seguramente já não existe) utilizando-os apenas como atracções paisagísticas, gastronómicas ou arquitectónicas.
 
 
* Arquitecta.
 

12.2 - Los espacios naturales protegidos y las actividades produtivas en su territorio. El caso del Parque Natural de Collserola, Área Metropolitana de Barcelona


por Marià Marti * y Sebastià Grau **


El Parque Natural de la Sierra de Collserola, con sus 83 Km 2 (8.300 ha.) de espacio natural protegido es el proyecto metropolitano de mayor envergadura territorial. Fue creado en  el año 1987 y en la actualidad el 36% de su superficie es propiedad pública.
Su gestión viable implica la participación de otros actores además de la administración, por ello es necesario incluir la iniciativa privada  para lograr una gestión compartida. Es primordial la  introducción de elementos de economía productiva en el territorio, sin que dañen o comprometan los valores ambientales. En este sentido se ha aprobado un Plan Agropecuario para fomentar las actividades agrícolas, ganaderas y forestales.
Más allá de estas actividades, que adquieren una dimensión esencial, las actividades de ocio, actividades turísticas, de investigación, de integración social, etc., pueden ser una alternativa idónea para la gestión y el control del territorio.
El patrimonio construido, que por falta de uso sufre un grave deterioro con el paso del tiempo, puede revertir esa situación, adaptándolo para uso residencial y, acogiendo nuevas actividades como es la hotelera de tipo “casa rural”, muy integrada con el medio, con la consiguiente obligación de gestionar el entorno territorial, obligando a actuar sobre el bosque y a producir agricultura.
Otra dimensión que puede encajar muy bien en un espacio natural periurbano es el emplazamiento de centros de educación, investigación, geriátricos, de acogida de colectivos en riesgo de exclusión, de rehabilitación, de inserción, de trabajo especial, etc., que además pueden realizar actividades sobre el territorio, lo cual significa cuidado y gestión.
Con todas estas actividades que generan empleo y riqueza, se produce un efecto inducido que es la gestión compartida del territorio por parte de los propios agentes privados/públicos insertados en él. Aunque no produce un aporte financiero directo al órgano gestor, si reduce la gestión que debería recaer sobre el organismo público que tutela el espacio, algo totalmente inasumible, y por lo tanto, el mantenimiento de ese espacio natural de uso público, resulta más viable y menos gravoso.


* Parque Natural de Collserola
** Área Metropolitana de Barcelona

12.3 - Pequeñas actuaciones para un urbanismo flexible y sostenible

 
por Rita Monfort Salvador *


Las ciudades se deben adaptar a las nuevas necesidades de sus habitantes, cambiar usos y modificar su espacio público, siendo lo más lo más sostenibles posible,  para cumplir con su cometido: el acoger a los ciudadanos y ser su hogar. Pero que deban cambiar no significa que tengan que renovarse por completo. En la mayoría de ocasiones solo se necesitan pequeños cambios, que respeten la ciudad y sus barrios, y, sobre todo, que respeten la cultura de sus ciudadanos, sus espacios, sus costumbres, su contexto.
Este estudio forma parte de uno más amplio sobre la transformación de barrios consolidados en más sostenibles, en el que también se estudiaron los indicadores necesarios. Uno de los objetivos fue obtener una serie de actuaciones sensibles con el barrio y sus ciudadanos, fáciles de implantar y que mejoren la calidad de vida de los ciudadanos, a la vez que ayudan a cumplir el objetivo de transformar el barrio hacia la sostenibilidad.
En la metodología de trabajo se han estudiado barrios consolidados de las ciudades españolas (escala donde se pueden implantar actuaciones sin necesidad de hacerlo en toda la ciudad). Se estudiaron los principales problemas, oportunidades y posibles mejoras que tienen estos barrios.
Se obtuvieron y desarrollaron 14 actuaciones fáciles de implantar,  respetuosas con el barrio y económicas. Estas actuaciones pretenden ser un listado de progresos a realizar en los barrios con el fin de que puedan ser lo más consecuentes posible con el significado global de sostenibilidad, pero también con el fin de mejorar la vida de las personas que viven en las ciudades. Son 14 actuaciones reales para llevar a cabo fácilmente, que actúan en respuesta a los problemas y carencias de cada barrio consolidado, y una base a tener en cuenta a la hora de proyectar un barrio de nueva planta.
Por último, se ejecutaron una serie de tablas en las que se recogía a que problemas, mejoras u oportunidades afectaban las actuaciones. También se recogía que indicadores modificaban positivamente cada una de las actuaciones.

 
* Arquitecta. Ciudad Observatorio.

12.4 - La ordenación del litoral sur-este uruguayo

por Ingrid Roche *


El propósito de este artículo es exponer a miradas conceptualmente críticas, los criterios, directrices y el instrumental contemporáneo y en gestación, para ordenar y proyectar el territorio litoral Sureste asomado al Río de la Plata y Océano Atlántico. El objetivo: analizar la congruencia de la legislación y políticas territoriales recientes, con la preservación y valorización para las generaciones futuras, de sus atributos naturales y los paisajes culturales creados, en el sentido de equilibrar los intereses de pobladores locales, visitantes y del conjunto social.
Las áreas y asentamientos costeros del Sureste del territorio uruguayo, por sus atractivos geo-históricos y singularidades, han concentrado desde su reconocimiento como país la mitad de su escasa población , hoy cercana a 3 millones y medio de habitantes. Resulta interesante comprender que su vocación turística receptora fue entrevista y promovida oficialmente desde muy temprano del siglo XX, en modalidades incluyentes de los grupos sociales de ingresos medios de las urbes rioplatenses. Actualmente los visitantes no residentes (de vacaciones y otros tipos de estadías), llegan en números fluctuantes al millón anual, muchos extranjeros especialmente regionales, invierten en el país en propiedades y servicios al sector turístico y empieza a ser significativa la radicación en forma estable de sus familias. Se ha acuñado el concepto de que la costa sur uruguaya tiende a constituirse en sector de residencia privilegiado del Cono sur.
Los diversos tramos de este litoral costero son apreciados por sus playas de arena muy fina, puntas rocosas de alto valor paisajístico, abundantes cursos de agua y la valoración que históricamente le han otorgado sus habitantes estables y ocasionales, creando paisajes culturales singulares. Contradictoriamente poseen alto potencial de modificación en futuro cercano, dado que alternan: áreas densamente urbanizadas, en Montevideo y Punta del Este, suburbanizadas u ocupadas en muy baja intensidad en fraccionamientos de barrios jardín, extensos tramos en estado de baja antropización por inaccesibilidad, ecosistemas lagunares u otras características naturales y ocupación rural, con variados valores de identidad morfológica y vulnerabilidades. Las tendencias a su ocupación residencial-turística y por instalaciones logísticas se están intensificando, las experiencias internacionales a ser recogidas críticamente indican, que es recomendable potenciar las características diferenciales, alternando áreas rústicas en producción y/o ambientalmente protegidas, adoptando políticas que impidan la urbanización continua y la masificación en la explotación de  recursos escasos.  Se plantea exponer algunos casos de aplicación de la recientemente aprobada legislación de Ordenamiento Territorial y Desarrollo Sustentable, su normativa y efectivización, el desarrollo de planes y diversos instrumentos, que por su novedad permiten entrever posibilidades de potenciar valores paisajísticos e identidades, y promover aportes.


* Profesora del Instituto de Teoría de la Arquitectura y Urbanismo (ITU), Facultad de Arquitectura, UDELAR, Uruguay.

sábado, 30 de agosto de 2014

CASU 11 - Verão de 2014


Um novo desafio profissional veio neste Verão juntar mais um logotipo às páginas dos CASU's. O leitor destes Cadernos (personagem fictícia que só existe na cabeça do editor) terá dado conta disso: é a Escola Superior Gallaecia, em Vila Nova de Cerveira, onde irei dar aulas a partir de Setembro. Quando iniciámos este blogue, de facto inspirados no do Professor José Fariña (http://elblogdefarina.blogspot.pt/), confesso, para os menos atentos, estávamos longe de imaginar que entretanto tantas coisas mudassem... Mas é isso mesmo, fomo-nos habituando à mudança.
Nesta estação das férias é quando temos tempo para ler o Expresso, não as edições da época, mas as antigas que guardei por qualquer razão. Folheia-se mais rapidamente, e dá-se conta que tudo é bem mais relativo, por exemplo os problemas do grupo Espírito Santo apareciam já no princípio do ano... E neste Verão fiz essa tarefa, depois de muitos anos, já não tenho Expressos em casa. Mas aproveitei para aqui um artigo interessante que retive, de um economista, Ricardo Hausmann, que nos mostra aos urbanistas o "mito da especialização das cidades". Seria bom tê-lo lido em 2009, quando nos estudos de economia para a alteração ao Plano da Área Metropolitana de Lisboa me pediam para traçar os sectores económicos em que a região deveria apostar. Pois bem, algo que já intuía naquela altura: as cidades não se devem especializar, quanto mais diversificadas economicamente mais competitivas, e essa diversidade deve ser o estímulo das opções territoriais.
Nos outros três temas dos CASU's inserimos textos que nos dizem muito enquanto arquitecto urbanista e são importantes para esta nova etapa docente de um curso na fronteira do Minho. Um pequeno livro de desenhos de León Krier, que em mais de 3 décadas de esquissos a preto e branco nos permite tirar tantas conclusões sobre espaços e cidades, imagens que comunicam ideias que nos estão muito próximas e vamos promover, também enquanto fundadores do "capítulo" português da INTBAU. Por sua vez na etiqueta Espaço Público, das melhores linhas alguma vez escritas em enunciados de disciplinas, a de Teoria Geral da Organização do Espaço, do 1º ano da FAUP, claro está, do saudoso mestre Fernando Távora: "Aos alunos, portanto, um pedido de dedicada colaboração acompanhado da esperança de um mundo mais belo e mais feliz." E por último um excerto do Complexity and Contradiction in Architecture, de Robert Venturi, que muito nos influenciou já na parte final do curso, que termina com esta frase: "Más no es menos." Parece estranho, sim, mas em arquitectura, no ensino da arquitectura, é preciso dizê-lo.
Nesta 11ª edição, o leitor dispõe ainda da novidade de poder mais facilmente encontrar os diferentes mini-artigos dentro dos 4 temas dos CASU's, no menu em cima.
Já no início do Outono, participamos activamente em duas conferências. Vamos moderar uma das sessões do 3º seminário de Territórios e Cidades do Norte Atlântico Ibérico, 25 e 26 de Setembro, organização da Escola Superior Gallaecia e da Câmara Municipal de Viana do Castelo, que aproveito para aqui divulgar. E na semana seguinte lá estaremos a receber mais de uma centena de colegas, no XVI Congresso Iberoamericano de Urbanismo, Sintra 2014. Este grande evento internacional, que terá a participação de urbanistas de praticamente todos os países ibero-americanos (se puderem não faltem, será mesmo bom, acreditem), servirá então para um segundo número especial destes Cadernos.


sexta-feira, 22 de agosto de 2014

11.1 - Complejidad y Contradicción en la Arquitectura

por Robert Venturi

...Pero la arquitectura es necesariamente compleja y contradictoria por el hecho de incluir los tradicionales elementos vitruvianos de comodidad, solidez y beleza. Y hoy las necesidades de programa, estructura, equipo mecánico y expresión, incluso en edificios aislados en contextos simples, son diferentes y conflictivas de una manera antes inimaginable. La dimensión y escala creciente de la arquitectura en los planeamentos urbanos y regionales aumentan las dificultades. Doy la bienvenida a los problemas y exploto las incertidumbres. Al aceptar la contradicción y la complejidad, defendo tanto la vitalidad como la validez.

Los arquitectos no pueden permitir que sean intimidados por el lenguaje puritano moral de la arquitectura moderna. Prefiero los elementos híbridos a los "puros", los comprometidos a los "limpios", los distorcionados a los "rectos", los ambíguos a los "articulados", los tergiversados que a la vez son impersonales, a los aburridos que a la vez son "interessantes", los convencionales a los "diseñados", los integradores a los "excluyentes", los redundantes a los sencillos, los reminiscentes que a la vez son innovadores, los irregulares y equívocos a los directos y claros. Defiendo la vitalidade confusa frente a la unidad transparente. Acepto la falta de lógica y proclamo la dualidad.

Defiendo la riqueza de significados en vez de la claridad de significados; la función implícita a la vez que la explícita. Prefiro "esto y lo outro" a "o esto o el outro", el blanco y el negro, y algunas veces el gris, al negro o al blanco. Una arquitectura válida evoca mucho niveles de significados y se centra en muchos puntos: su espácio y sus elementos se leen y funcionan de varias maneras a la vez.

Pero una arquitectura de la complejidad y la contradicción tiene que servir especialmente al conjunto; su verdad debe estar en su totalidad o en sus implicaciones. Debe incorporar la unidad difícil de la inclusión en vez de la unidad fácil de la exclusión. Más no es menos.


Traducción publicada en Gustavo Gili, del original de 1966.

11.2 - Teoria Geral da Organização do Espaço

por Fernando Távora


...O arquitecto..., para ele, porém, projectar, planear, desenhar, devem significar apenas encontrar a forma justa, a forma correcta, a forma que realiza com eficiência e beleza a síntese entre o necessário e possível, tendo em atenção que essa forma vai ter uma vida, vai constituir circunstância.

Sendo assim, projectar, planear, desenhar, não deverão traduzir-se para o arquitecto na criação de formas vazias de sentido, impostas por capricho da moda ou por capricho de qualquer outra natureza.

As formas que ele criará deverão resultar, antes, de um equilíbrio sábio entre a sua visão pessoal e a circunstância que o envolve e para tanto deverá ele conhecê-la intensamente, tão intensamente que conhecer e ser se confundem...

A cadeira de Teoria Geral da Organização do Espaço pretende, pelo seu programa teórico e sua aplicação prática, introduzir os alunos em matérias de carácter geral - mas fundamental - relativas ao espaço natural e humano que nos envolve considerado como efeito e causa do nosso comportamento.

A prática da cadeira, cujo programa se anuncia, reveste-se de especial interesse uma vez que por meio dela se analisam e se compreendem fenómenos próximos e do nosso dia a dia, nos quais participamos como actores e como utentes.

Aos alunos, portanto, um pedido de dedicada colaboração acompanhado da esperança de um mundo mais belo e mais feliz.


11.3 - Drawing for Architecture

por Léon Krier


In addition to my architectural and urban projects, I produce a great number of doodles, ideograms that are the subject of this volume. They are not a natural occupation: they only come to me in discontinous, short, and generally angry bursts. They often sum up in one or two images what I had been previously trying to articulate in projects, writings, or speech. The first of such outbreaks came in 1980 after a protracted writing sweat, when in a few days I summarized two hundred pages of texto in approximately the same number of ideograms. These have mostly stringent undertone; they are, in fact, counterattacks against endured aggresions, absurdities, and paradoxes, with which life is so richly endowed.

Raw and whithout circumlocution, these ideograms are means not to console or please but reveal scandalous elements of architectural practices and ideology; they outline conceptual tools for refounding traditional urbanism and architecture. It is well known that actions cause reactions mostly of an unexpected or unintended kind. What will win as the end of human activities, of fulfilled or frustrated lives? The good or the bad, the right or the wrong, the intelligent or the stupid? Evidently neither human or artificial intelligence gains notable insight into ultimate issues. We can, however, no longer ignore that in matters of settlement, building, and energy policies, industrial civilization is engaged in a tragic impasse. We now generally build in the wrong places, in the wrong patterns, materials, types, densities, and heights, and for the wrong numeber of dwelleres.

In my opinion, the traditional architecture and building and settlement tecnhiques of the pre-fossil fuel age represent the operative tools of global ecological reconstruction. It is the condition of nature that will, as in the past, redefine our development possibilities. These doodles may help to point our thinking in that direction.



Book from the Writing Architecture Series, The MIT Press, Cambridge, Massachusetts ,and London, England, 2009.


quarta-feira, 20 de agosto de 2014

11.4 - O mito da especialização das cidades

por Ricardo Hausmann *

Embora algumas ideias sejam intuitivas e óbvias, podem também ser erradas e perigosas. Como é normalmente o caso, não é o que não se sabe, mas o que erradamente se pensa saber, que nos prejudica. E a ideia de que as cidades e os países acabam por se especializar, é uma dessas ideias muito erradas e perigosas.
Ora, as cidades são os sítios onde se reúnem as pessoas que se especializam em diferentes áreas, permitindo às indústrias combinar os seus conhecimentos. As cidades ricas caracterizam-se por um conjunto de competências mais diversificado, que suporta um conjunto de competências mais diversificado e complexo de indústrias - e fornece desse modo mais oportunidades de emprego a diferentes especialistas.
A escala à qual a especialização dos indivíduos leva à diversificação é a cidade. Entre cidades com populações similares - digamos, Salvador e Curitiba no Brasil, ou Guadalajara e Monterrey no México - as cidades mais diversificadas são mais ricas. Tendem a crescer mais depressa e a tornar-se ainda mais diversificadas, não apenas porque possuem um maior mercado interno, mas também porque são mais diversificadas em termos do que podem vender a outras cidades e países.
É por isso que a ideia de que as cidades, estados, ou países se deveriam especializar nas suas áreas actuais de vantagem comparativa é tão perigosa. Focar-se nas actividades limitadas em que se destacam actualmente apenas reduziria a variedade das capacidades que possuem. O desafio não consiste em escolher alguns vencedores entre as indústrias existentes, mas antes em facilitar a emergência de mais vencedores por alargamento do ecossistema de negócios e capacitar o seu apoio a novas actividades.
Isso é ainda mais importante hoje, porque a globalização das cadeias de valor está a deslocalizar as relações fornecedor-cliente. As cidades e os países fazem mal em focar-se em alguns agrupamentos (clusters) e consolidar as cadeias de valor nas suas localizações, como se recomenda frequentemente. Em vez disso, deveriam preocupar-se em ser um "nodo" em muitas diferentes cadeias de valor, o que implica encontrar outras indústrias que possam usar as suas capacidades, se estas fossem expandidas e ajustadas a novas necessidades.


* Professor de Economia da Universidade de Harvard e Director do Centro para o Desenvolvimento Internacional.
Excerto do artigo publicado no Expresso de 11-01-2014. www.project-syndicate.org
Fotografia do editor, do cartaz de uma área de expansão urbana em Amsterdão.


sábado, 3 de maio de 2014

CASU 10 - Primavera de 2014


Os CASU completam 10 números e podemos aproveitar esta ocasião para um breve balanço. A proposta apresentada em 2011 cumpriu-se, se não integralmente, pelo menos em grande medida. A ideia foi a de registar uma série de textos relativos a trabalhos em que estejamos de algum modo envolvidos, ou que nos são próximos, por uma ou outra razão. E assim aqui estão reunidos 40 mini-artigos, relacionados com os 4 tópicos dos CASU - arquitectura, espaço público, urbanismo e ordenamento do território.
Em Portugal, foram 3 anos de protectorado político e financeiro de uma Troika, que para além da Comissão Europeia integra as siglas FMI (Fundo Monetário Internacional) e BCE (Banco Central Europeu). Nestes anos, não foi austeridade a palavra mais odiada, como justifiquei no editorial do número 3, no Inverno de 2012. É a palavra "medidas" que já não posso mais ouvir. "Medida" para mim tem um significado interessante, até na perspectiva profissional: é a distância entre duas coisas. Só que aparece agora no dicionário da Troika, reduzindo a política apenas ao processo de escolha entre um "menu de medidas". Estamos no tempo do orçamento, da folha de excell, sem criatividade e invenção, para apreciar a distância entre duas coisas.
Mas neste blog várias outras dimensões apareceram. Com muitos intervenientes, que aqui recordo: Joana Lavado, Gonçalo Machado, Patrícia Canelas, Álvaro Nascimento, Isabel Costa Lobo, Joaquim Novais, Andreia Pascoal, Ricardo Almeida, João Fonseca, José Luis Lourenço, Madalena Macedo Pinto, Luis Gil, Ricardo Sousa Lopes, Branca Gameiro Neves, Ana Baptista, Ana Catarina Matias, Margarida Pereira, Luis Grave, Fernando Jesus, José Baganha, António Castelbranco, António Ramalho, Cristina Soares Cavaco, Fernanda Magalhães, David Leite Viana, Fátima Bernardo, Isabel Loupa Ramos, Carlos Lourenço Fernandes e Sidónio Pardal. Comigo, somos 30. É a riqueza desta diversidade que mais me apraz registar.
Nesta 10ª edição dos CASU escrevo sobre o início de um projecto de reabilitação de um edifício devoluto em Lisboa, pedido por amigos e que dá para não me esquecer da arquitectura; no âmbito do espaço público, a criação do "chapter" português da INTBAU (International Network for Traditional Building, Architecture and Urbanism); e o resumo de uma apresentação para a Conferência Nacional de Geodecisão, a partir dos trabalhos de revisão de PDM's que tenho vindo a desenvolver. Relacionado com a imagem acima, destaco finalmente o próximo Congresso Iberoamericano de Urbanismo, que decorrerá pela segunda vez em Portugal, agora na sua décima sexta edição, em Sintra, no início do Outono, depois da oitava, que se realizou no Porto, em 1998. Todos os leitores estão convidados a apresentar uma proposta de resumo, de acordo com o modelo disponível no site do Congresso: www.ciu2014.com 
O prazo será em princípio estendido até ao final de Maio, com saída limpa ou programa cautelar. Amanhã se saberá...


quinta-feira, 1 de maio de 2014

10.1 - Reabilitação do prédio da Rua Almeida Amaral


No âmbito do Plano Director Municipal de Lisboa, na Planta de Ordenamento o edifício insere-se na classe de Espaços Consolidados, Espaços Centrais e Residenciais – Traçado Urbano A, encontrando-se na zona de protecção do Hospital dos Capuchos e na área abrangida por um imóvel de interesse público – Campo dos Mártires da Pátria, enquanto Condicionantes. Tendo sido consultado o processo de obra deste prédio, verificou-se que data do início do séc. XX, mas os desenhos ali existentes não estão conforme a situação real da construção. Nesse sentido, os desenhos de plantas, corte e alçados organizam-se em quatro coleções. Na primeira, assinala-se a amarelo a parte dos desenhos que não corresponde à realidade, designadamente na implantação do prédio, já que as paredes de empena não são perpendiculares face à rua. De cor azul, identificam-se as componentes do prédio que estavam em falta, como um piso inteiro e as janelas integradas na cobertura, uma para a frente e duas para o tardoz.

A segunda coleção de desenhos apresenta o levantamento real da situação atual do edifício, que é constituído por 4 pisos (R/c + 3) e um piso com aproveitamento sob a cobertura inclinada de duas águas. A sua estrutura tem elementos de pedra e betão na fachada principal, metálicos na fachada traseira e madeira no suporte dos pavimentos e da cobertura, que é revestida a telha. As obras que o proprietário pretende realizar visam a reconstrução do prédio e dos seus elementos, incluindo a alteração de algumas divisões interiores, para garantir maior habitabilidade e conforto. Neste Pedido de Informação Prévia, coloca-se ainda à consideração as propostas de alinhar a parede do piso 4 pelo prédio vizinho, conforme desenhado no corte, e de centrar a posição da janela de cobertura na fachada principal, também de acordo com a planta.

Estas alterações surgem na terceira coleção dos desenhos, segundo a convenção de amarelos e vermelhos. A tipologia existente, que se mantém, é de um fogo por piso, à exceção do último, que se reconfigura para um duplex, dispensando a necessidade de cozinha e instalação sanitária sob a cobertura. Por último, a quarta coleção apresenta as peças desenhadas de acordo com esta proposta. Tal como referido, mantêm-se os alinhamentos da estrutura e a sua principal alteração é a junção de duas divisões interiores, que dão para fachada principal, tendo em vista formar uma só, com uma área mais adequada à sua função, de quarto ou sala de estar.


10.2 - Criação da INTBAU Portugal



No dia 4 de Abril de 2014 realizou-se em Lisboa a 1ª Assembleia Geral da Associação INTBAU Portugal, tendo sido aprovados o seu regulamento e os primeiros órgãos sociais. Esta Associação é o “chapter” português da INTBAU – “International Network for Traditional Building, Architecture and Urbanism”, com sede em Londres e cujo patrono é sua alteza real o Príncipe de Gales. Esta rede internacional visa a promoção das formas de construção tradicional, numa perspectiva culturalista, em todos os países onde tem delegações, não apenas na Europa, mas também em todos os continentes, no Canadá, na Índia, no Irão ou na Austrália, por exemplo.

Por ocasião da recente criação do “chapter” Espanhol, surgiu a hipótese de se constituir uma Associação Ibérica, mas a sede da INTBAU entendeu que se deveria formalizar a delegação portuguesa, dado ter nos seus registos cerca de 40 membros inscritos, residentes no nosso país. No final de 2013, a Direcção da INTBAU celebrou então com o Arqt.º José Franqueira Baganha o acordo para a constituição da INTBAU Portugal, que veio a registar-se enquanto associação sem fins lucrativos, de direito português, a 3 de Fevereiro deste ano. Nos seus objectivos está, como não poderia deixar de ser, a promoção da construção, da arquitectura e do urbanismo tradicionais em Portugal, mediante a organização de actividades destinadas a esse fim.

Na 1ª Assembleia Geral da INTBAU Portugal ficou decidido o princípio de não se implementar qualquer quota aos seus membros, procurando-se que a Associação possa gerar receitas das suas actividades e de mecenato, sobretudo institucional. Os primeiros órgãos sociais são formados, na sua grande maioria, por Arquitectos: a Mesa da Assembleia Geral está a cargo de Cristina Cavaco, Jorge Silva e Catarina Santos, o Conselho Fiscal de Eduardo Figueiredo, Álvaro Barbosa e Alexandre Reffóios e a Direcção de José Baganha, Alexandre Gamelas e Rui Florentino. Na Assembleia foi também decidida a agenda de uma nova reunião, para debate sobre as primeiras actividades da Associação, que deverá realizar-se no Convento de Cristo, em Tomar. 


Notícia que será incluída no 2º número da Revista de Morfologia Urbana, a convite do seu editor, Prof. Vítor Oliveira.
 

10.3 - XVI Congresso Iberoamericano de Urbanismo


Sociedade e Território: novos desafios
 
Sub-temas:
Ordenamento do Litoral
Valorização dos Espaços Agrícolas e Florestais
Paisagem e Património
Conceitos Inovadores para o Urbanismo
 
O urbanismo contemporâneo utiliza o território como suporte para a criação de riqueza e o desenvolvimento da sociedade. Mas o ordenamento do espaço do litoral, a economia dos espaços agrícolas e florestais e a gestão da paisagem e do património cultural são matérias que nem sempre têm focado a atenção dos urbanistas. Reconhecidamente, é uma agenda urbana que ocupa a nossa atenção dedicada e contínua.
Ora, o território como recurso económico apresenta novos desafios que não se esgotam na cidade. A competitividade global, as problemáticas alimentar e ambiental, a exploração de materiais-suporte do modo de produção urbana, a importância crescente do interface do litoral, o lazer e a economia de montanha e a pressão sobre os solos agrícolas e florestais, na amplitude dos espaços rústicos, obrigam ao ordenamento do território além da cidade, à valorização de ativos estratégicos e à consideração da biodiversidade, da paisagem e do património cultural. Em exercício de bem-fazer.
O ordenamento das frentes de mar e do litoral (onde se inicia e esgota 90% do comércio mundial), que convocam o lazer da cidade, a classificação dos solos e a economia em meio rústico, onde se acolhem e estimulam inúmeras utilizações compatíveis e desejáveis com as funções dominantes, o avanço sobre a paisagem e o património cultural, de atividades dirigidas à satisfação de procuras de todo o tipo, determinam o dever dos urbanistas, em refletir e propor quadros de intervenção e critérios compatíveis com equilíbrios múltiplos.
 
É no cumprimento desse dever que se convoca o XVI CONGRESSO IBERO AMERICANO DE URBANISMO, à reflexão e proposição, centrada no Ordenamento do Litoral, na Valorização dos Espaços Agrícolas e Florestais e na Gestão da Paisagem e do Património, garantindo-se elevação de competência ampla e matriz coordenada, valor do Urbanista. Relacionado com estes subtemas, acrescenta-se um quarto, relativo a conceitos inovadores no nosso âmbito profissional.
 
 
Texto de introdução, de Carlos Lourenço Fernandes, Rui Florentino e Sidónio Pardal.
Sítio do Congresso: www.ciu2014.com

10.4 - A informação geográfica na revisão dos PDM's


Para o planeamento territorial, é hoje fundamental poder dispor de uma informação georreferenciada de qualidade, que conduza a melhores decisões, considerando os objetivos definidos a cada escala de trabalho. Na presente revisão dos Planos Diretores Municipais (PDM’s), a sua elaboração baseia-se em fontes e programas de informação geográfica, o que se traduz em importantes mudanças, em relação aos documentos em vigor. Por um lado, é certo que um estudo mais rigoroso do território aumenta os níveis de exigência dos serviços prestados pela administração. Por outro, a reflexão coletiva em sede de planeamento tem vindo a motivar igualmente a evolução dos próprios sistemas de informação, em termos normativos.

Neste quadro, o presente artigo tem por objetivo identificar as contribuições da informação geográfica para a melhoria do planeamento municipal, através de alguns exemplos da revisão de PDM’s, no caso dos concelhos de Alcanena, na região do Oeste e Vale do Tejo, de Castro Daire, no Centro, e de São Brás de Alportel, no Algarve. Para além da elaboração da proposta de Ordenamento em si, aborda-se a relevância dessa informação para os processos complementares de Avaliação Ambiental Estratégica (AAE) e das delimitações da Reserva Agrícola e da Reserva Ecológica.

Considerando embora as diferenças dos casos em análise, verifica-se, em todos eles, que um sistema de informação geográfica de qualidade, devidamente integrado, permite articular os instrumentos de trabalho que correspondem às diversas áreas de competência dos municípios (planeamento, projeto e licenciamento) e os seus sectores de atividade (urbanismo, obras, proteção civil, etc.). De igual modo, o rigor dessa informação permite reduzir os conflitos entre as áreas a proteger, de maior sensibilidade ecológica ou potencial agrícola, e a proposta de expansão de infraestruturas, contribuindo assim para um desenvolvimento mais equilibrado e sustentável.


Resumo da comunicação aceite na Conferência Nacional de Geodecisão, que será realizada a 15 e 16 de Maio na Escola Superior de Tecnologia do Barreiro do Instituto Politécnico de Setúbal.

 

segunda-feira, 17 de março de 2014

CASU 9 - Inverno de 2014


A Trienal de Arquitectura de Lisboa completou neste Inverno a sua 3ª edição, tendo atingido a desejada internacionalização com a participação diversificada de vários âmbitos de actividades artísticas, que amplificam o campo tradicional da arquitectura, a partir de experiências dos mais jovens profissionais. Nesta edição, o júri do prémio da Trienal nomeou o Professor e crítico de arquitectura inglês Kenneth Frampton, seguindo a linha de prestígio inaugurada pelos premiados anteriores, Álvaro Siza e Vittorio Gregotti. Como se sabe, Frampton foi um dos principais promotores do conceito de "regionalismo crítico", enquanto tendência de revitalização da arquitectura pós-moderna, através dos valores culturais presentes em cada região, reconhecida em Portugal nas obras da chamada "Escola do Porto". A sua conferência de encerramento da Trienal, no CCB em Lisboa, fez-me recordar a minha tese de Mestrado, apresentada em 2002, na Faculdade de Arquitectura da então Universidade Técnica de Lisboa, sob orientação do Prof. António Jacinto Rodrigues (que havia sido também meu docente na FAUP), com o título de Uma arquitectura sobre região: cultura arquitectónica na Galiza contemporânea. Das conclusões deste trabalho, que tive o gosto de desenvolver, são as linhas seguintes, que me parecem ainda muito actuais, mais de uma década depois. Para além desta lembrança, este número 9 dos CASU's integra dois resumos que foram aprovados para conferências internacionais nos próximos meses e a referência à Avaliação Ambiental Estratégica de um Plano de Urbanização, mantendo a ideia de registos breves nos 4 temas que compõem os CASU's: arquitectura, espaço público, urbanismo e ordenamento do território.
Passou já quase meio século desde que Pierre Francastel explicou esse inevitável encontro da Arte com a Técnica, sugerindo então que uma unidade global dos signos visuais será anterior à hipotética identidade política ou da linguagem. Mas o seu pensamento prospectivo parece ainda jovem, a cada dia, e por muito mais tempo. «Constrói-se e veste-se hoje da mesma maneira em Paris, Varsóvia, Rio de Janeiro ou no Paquistão. As exposições de pintura apresentam analogias extraordinárias, de Sidney a Oslo. Mesmo onde certas reticências se manifestam, como na Rússia soviética, recorre-se a formas da linguagem plástica que se negam a certas experiências modernas mas que prolongam a arte ocidental próxima passada, sem qualquer criação de forma ou de matéria. Em 1850, Victor Hugo dizia: “O mundo anda de comboio e fala francês.” Em 1950 pode-se dizer: o mundo anda de avião e desenha ou esculpe como em Paris.»
A diferença é que em 2000 o mundo comove-se através da internet, em qualquer espaço informatizado. Mas não há por enquanto motivos para outra precipitação: é certo que a economia, a informação e as tecnologias estão practicamente globalizadas, mas sobre a cultura dos povos e sociedades, nem no horizonte se vislumbra como, e muito menos quando. A arquitectura não será com certeza a forma de arte que mais se aproximou dessa hipotética tendência para a unidade dos significados culturais. Os compromissos técnicos e sociais, quando muito, levaram-na antes para os terrenos da singularidade, da sua própria singularidade, como expressão estética de uma era plural, e da sua singularidade como evento efémero, que apenas se cristaliza pelo nosso desejo de imagens em constante renovação. Esta dissertação prova, pelo contrário, que bem ao nosso lado formou-se uma cultura arquitectónica que levanta conscientemente os seus próprios temas, específicos face à diferença histórica e popular da comunidade que lhe dá vida.
 

quinta-feira, 13 de março de 2014

9.1 - Uma arquitectura sobre região - cultura arquitectónica na Galiza contemporânea


Na sequência da recepção de um texto de Paul Ricouer, o “Civilização Universal e Culturas Nacionais”, original de 1955 e que, segundo Frampton, propõe «a tese de que uma cultura mundial híbrida só chegará a existir através de uma fecundação entre a cultura enraizada, por um lado, e a civilização universal por outro» o paradoxo, em arquitectura, era desmontar a tendência contemporânea para a internacionalização, recriando a memória dos elementos arquitectónicos locais, sem abandonar, contudo, o mesmo carácter progressista dos movimentos modernos.
Em Portugal, notaram-se também algumas obras de inspiração regional, em particular quando os arquitectos englobaram no seu exercício profissional as conclusões do citado Inquérito, que promoveram com grande entusiasmo. Todavia, por razões compreensíveis, a cultura arquitectónica estava sobretudo empenhada em acompanhar a transição política para a democracia, após 1974, eliminando o passado colonialista do Estado Novo, já que tudo o que pudesse significar desenvolvimento económico e social, constituiria um trunfo para a formação do “país moderno”. Tais compromissos políticos e sociais não foram, de resto, totalmente incompatíveis com interessantes projectos de vocação e espírito regional. De facto, as leituras já existentes da arquitectura portuguesa contemporânea, tão rica e contraditória ao longo do passado século, de Raul Lino a Álvaro Siza, só provam que muitas outras podem ainda desenvolver-se nesse mesmo tema. Porém, não encontramos em Portugal motivos suficientes para pensar numa arquitectura sobre região, o que nos impede de elaborar aqui a possível ideia de “região arquitectónica”.
Pelo contrário, uma investigação sobre cultura arquitectónica no âmbito da “Galiza contemporânea”, dando sentido àquela ideia no mesmo momento em que esta era pós-moderna avança, também sem receios, para a “hipotética globalização cultural”, parece ser pelo menos pertinente. Passados os “Séculos Escuros” (assim denominado o lapso de tempo, após a Idade Média, em que se apagam os valores culturais da região), é somente a partir da segunda metade do século XIX que se forma no “povo galego” uma consciência “para si”, de afirmação e identidade. Segundo diversos autores, a data de 1863, na qual se publica novamente uma obra literária escrita em galego (“Cantares Gallegos”, de Rosalía de Castro), é particularmente importante para se definir o início da época contemporânea na Galiza. Numa primeira modernidade, recriam-se os seus valores históricos, de individualidade cultural e especificidade ambiental, mas depois a crise económica, a sucessiva emigração e, em particular, a guerra civil entre 1936 e 39 e o regime que se lhe seguiu, travam o desenvolvimento daquele ressurgimento moderno, embora situado. As vanguardas artísticas do início do século, mesmo desde o exílio, retomaram o processo de afirmação social e cultural, mas só recentemente a nova situação política em Espanha, com a instituição das Autonomias, permitiu definir o tempo de uma segunda modernidade para a Galiza.
A presente dissertação elabora pois sobre a época contemporânea desta região histórica, entendida através da actividade de um grupo significativo de profissionais que, sobretudo após a fundação do Colexio Oficial de Arquitectos de Galicia (COAG), em 1973, estudou e construiu a singularidade arquitectónica da Galiza.
 
 

domingo, 9 de março de 2014

9.2 - Planeamento Urbano Saudável - lições do programa POLIS



A atenção para com o bem-estar físico e social dos cidadãos tem vindo a destacar-se no âmbito das práticas de planeamento. Progressivamente, esse “novo” objetivo vai tornando evidente a necessidade de incorporar a saúde nas estratégias de desenvolvimento urbano. O programa POLIS, para a valorização ambiental e requalificação das cidades, lançado pelo governo português no ano 2000, constitui um ponto de partida para se estudar esta nova relação, entre urbanismo e saúde.
Neste contexto global, considerando o aumento da sedentariedade da população e dos níveis de stress, relacionados com a vivência urbana e os riscos ambientais, as evidências empíricas salientam a importância das funções sociais e psicológicas induzidas pela boa apropriação dos espaços públicos. Em particular os espaços verdes, para além de contribuírem para o aumento da atividade física e da interação social, podem ter um efeito regenerativo, contribuindo para a redução do stress e a promoção da saúde dos habitantes (Santana, 2007).
No quadro de um ambiente urbano mais qualificado, os espaços verdes desempenham assim um papel relevante, reconhecendo que “a qualidade ambiental contribui para a harmonia social e a vitalidade cultural, sendo um dos “fatores chave” para o sucesso económico de uma cidade” (ECTP, 2003). Existe portanto um interesse saudável no planeamento, projeto e conservação dos espaços verdes públicos, no sentido de se potenciarem as suas funções ecológicas, hidrológicas e atmosféricas, favorecendo a sua apropriação e aumentando os níveis de satisfação física e psicológica dos cidadãos.
As lições apreendidas através da observação dos resultados do POLIS em oito cidades portuguesas oferecem pistas para o entendimento da relação entre o urbanismo e a saúde. E é sobretudo nos espaços públicos onde esta associação ganha maior relevo, evidenciada em indicadores quantitativos: áreas verdes criadas e/ou beneficiadas, percursos pedonalizados, áreas de tráfego condicionado, lugares de estacionamento dissuasores ou extensão de ciclovias. Mas também os indicadores qualitativos, como a participação da população, as diferentes atividades sociais, desportivas e económicas e o reforço da identificação com a cidade permitem que a comunidade local possa desenvolver os seus níveis de saúde.
Nos casos de Leiria e Viseu verifica-se uma intervenção estruturada de forma linear ao longo do rio. Mas enquanto o primeiro atravessa a cidade, o segundo caso apresenta uma situação algo mais periférica. A intervenção em Coimbra marca a transição de uma disposição linear para uma tipologia pontual. Apesar da sua posição junto ao Rio Mondego, ao não acompanhar as margens de forma contínua, o programa apresenta um carácter pontual, que é ainda mais evidente em Castelo Branco, inscrevendo-se no centro da cidade, e em Beja, onde se localiza na franja urbana. Estas diversidades de relações espaciais traduzem-se em diferentes resultados, com reflexos na utilização dos espaços e nos benefícios gerados para a cidade e a saúde dos seus habitantes.
 
Santana, Paula: A cidade e a saúde, Almedina
ECTP: A Nova Carta de Atenas
 
* Resumo da comunicação aceite para o Geosaúde 2014, por Rui Florentino, Fátima Bernardo e Isabel Loupa Ramos
 

terça-feira, 4 de março de 2014

9.3 - The influence of city form in public health


The concept of “Health in All Policies” that came up a few years ago, during the Finnish Presidency of the European Union (2006), has increased the study of city form and urban design as important elements to build healthy communities. In that sense, grows the knowledge about the relevance of life style patterns for public health, promoting global changes in the urban environment and on the way we manage our cities.
In this ongoing research, the intention is to prove, trough the analysis of international case studies, which are the good practices, in design and urban planning, according to their influence in the local communities health. It’s therefore an operational purpose, to present some contribution on how city form can improve our common future.
The state of the art shows that the urban models of unlimited growth and the cities without human concerns or cultural approaches became unpleased places, with major impacts in environment and all kind of diseases. Part of those problems can be related to the practice of “zoning plans”, which separate urban functions, with great distances between residential areas, affecting the health of the commuters in their daily movements.
On other hand, the medium densities, traditional urban forms and more compacts cities are usually presented as better ways to develop the health of the community, with also remarkable benefits on environment, social integration and local economy. In the European context, three of these better examples are the “New Poundbury” neighborhood in Dorchester (UK), the German city of Freiburg and the regeneration of Plessis Robinson, near Paris, recognized by organizations like the Prince’s Foundation for Building Community, the Council for European Urbanism and the Fondation Philippe Rotthier pour l’Architecture.


Resumo de comunicação aceite no ISUF 2014, por Rui Florentino e José Baganha

9.4 - Avaliação Ambiental Estratégica do PUETA


PUETA é a sigla do Plano de Urbanização do Empreendimento Turístico da Agolada, no concelho de Coruche, com cerca de 900 ha., que está a ser desenvolvido sob proposta de José Baganha Arquitectos Associados. Os seus objectivos são: i) Contribuir para o crescimento da procura turística nesta região e em particular no município de Coruche, enquanto actividade económica relevante para o seu desenvolvimento; ii) Preservar as principais características deste território, em especial as suas áreas de maior sensibilidade ambiental e ecológica, através de processos de gestão mais pro-activos; iii) Apresentar uma utilização turística adequada às condições naturais e culturais da região, que assente na prevenção dos riscos territoriais e no aproveitamento dos recursos; iv) Ordenar o território de acordo com os princípios do desenvolvimento sustentável, em termos de valorização ambiental, mobilidade suave e qualidade de vida; e v) Garantir um excelente desempenho energético e ambiental, durante todo o ciclo de vida das várias fases de construção e exploração dos edifícios e infra-estruturas.
No âmbito da Avaliação Ambiental Estratégica, considerando também o quadro de referência para a elaboração do Plano e as valências ambientais em presença, foram identificados 4 Factores Críticos para a Decisão (FCD). Com o FCD 1 – Valorização de Recursos, salienta-se a necessidade do Plano aproveitar as características naturais do território, em termos do solo, da água, das áreas de maior sensibilidade ecológica e das infra-estruturas físicas já existentes. Com o FCD 2 – Prevenção de Riscos, destaca-se a importância do Plano considerar medidas de minimização dos riscos de incêndio, cheias e poluição, do solo e do ar. Com o FCD 3 – Ordenamento do Território, prevê-se que a elaboração do Plano integre as questões da densidade e da diversidade de funções, bem como a promoção dos modos suave de mobilidade, pedonal e ciclista. E com o FCD 4 – Turismo Sustentável, pretende-se o recurso a fontes de energia renovável, a valorização de resíduos e o crescimento económico, de forma a garantir comportamentos saudáveis, qualidade urbana e coesão social.


Desenho de José Baganha, Arquitecto