terça-feira, 18 de setembro de 2012

5.1 - Os novos usos dos Mosteiros em Portugal. O caso de Santa Maria de Semide

por Ana Paula dos Santos Baptista *

O Mosteiro de Santa Maria de Semide, no concelho de Miranda do Corvo, é um edifício do séc. XII, classificado como imóvel de interesse público, pelo que o seu estado de conservação, os seus usos e a sua envolvente territorial constituíram as primeiras preocupações deste trabalho. Este património encontra-se hoje inserido num contexto rural próximo da cidade de Coimbra, sendo utilizado por três instituições: Igreja, Cáritas Diocesanas (centro de acolhimento de jovens) e Cearte (escola de formação profissional). Pelo facto de uma área significativa do conjunto se encontrar em ruína, entende-se como urgente a necessidade de uma solução de intervenção, sob pena de se incorrer no risco de perda de uma parte importante da sua história, bem como do símbolo, do legado memorial e da referência identitária que constitui para a região.
Em termos comparativos, os outros estudos de caso apresentados são exemplos de diferentes abordagens, opções de reconversão (turismo, ensino e cultura) e contextos (peri-urbano, rural e central), ilustrando a polifonia de estratégias de reutilização e valorização do património religioso. Nesse sentido, a Pousada de Santa Marinha da Costa e a Escola Superior Agrária de Refóios de Lima apresentam-se como dois casos de sucesso no campo da reconversão e de novos usos, quer pelas obras de referência que produziram, ou pelo papel desempenhado na conservação e reabilitação do património. Já São Bento da Vitória no Porto é um exemplo de mais difícil integração, ao se propor um programa de complexa adaptação a um espaço estruturalmente delimitado.
Constatou-se que a manutenção da memória do edificado e do lugar assume-se em Santa Maria de Semide como um dos aspectos de maior relevância, tratando-se de envolver as pessoas, de forma inclusiva, no seus valores culturais e afectivos. A estratégia proposta, de manutenção dos actuais usos, com a alteração do projecto existente, decorre assim da sensibilidade com que se encaram as necessidades e a vontade expressa pela população. Afinal esse valor da memória que se pretende conservar reside naqueles que habitam o lugar.

* Arquitecta

Fonte da imagem: www.trilhos.abutres.net

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