Austeridade é uma palavra que adquiriu uma conotação negativa, sinónimo da necessidade de cortes nos salários e nas despesas, com que nos deparamos todos os dias, perante as actuais políticas europeias. Já no contexto da actividade de urbanismo, a austeridade pode ter, contudo, um sentido positivo, como demonstrou em 1978 o livro do italiano Giuseppe Campos Venuti, que foi consultor do governo espanhol para os estudos de planeamento metropolitano em Madrid, a par de Nuno Portas, em 1981. No nº 8 da revista Estudios Territoriales, a recensão de Pedro Marin Cots à publicação deste livro destaca que o termo deve aplicar-se a uma proposta de melhoria da qualidade urbana. "Neste sentido, a austeridade significa a luta contra o desperdício de recursos, em benefício da ampliação dos consumos sociais e equipamentos públicos." Com efeito, a consciência ecológica hoje mais apurada, passadas mais de 3 décadas, evidencia que necessitamos também de um amplo compromisso, para enfrentar a situação territorial e ambiental.
Questionar o modo como olhamos e interpretamos os espaços colectivos, que habitamos no quotidiano da nossa vida urbana, é muitas vezes o que propomos em meio académico. O gosto com que o fazemos é ainda mais revelante quando os nossos interlocutores não são propriamente arquitectos ou urbanistas. Neste 3º número dos CASU, publicam-se resumos de trabalhos realizados para as aulas de Urbanismo e Território, no âmbito da Pós-Graduação em Gestão e Avaliação no Imobiliário, da Escola de Gestão Empresarial da UCP-Porto, que incluem autores licenciados em Ciências Farmaceuticas e Informática de Gestão (!). Ora, tal não impede que em pouco tempo consigam entender os problemas e as questões práticas essenciais de urbanismo e ordenamento. Assim, Madalena Macedo Pinto apresenta-nos a urbanização do Foco, na Avenida da Boavista, José Luis Lourenço analisa diferentes espaços verdes e de lazer, João Fonseca reflecte sobre um novo projecto urbano residencial e Ricardo Almeida salienta a importância da rede de transportes públicos, tendo nestes casos como denominador comum o território da cidade-região do Porto.
No fundo, a mensagem que sempre deixamos em diagonal, como quem escreve sobre o que já sabe, são observações sobre política urbana, que requerem bastante ponderação, sobretudo em tempos de austeridade, como este.
a) que a cidade deve ser vista como a solução para podermos viver melhor, como diz Jaime Lerner, porque ela permite uma sociedade mais próspera e coesa;
b) que com a evolução tecnológica os estilos de vida mudam muito rapidamente, mas a cidade demora mais tempo, pelo que os urbanistas somos algo conservadores;
c) que a administação local deve desenvolver competências, em qualidade ambiental, mobilidade urbana e reabilitação do espaço público;
d) e que os agentes económicos entendem agora que o rendimento urbano estará em territórios criativos, procurando juntar a inovação com o legado histórico.
Sem comentários:
Enviar um comentário