sábado, 19 de maio de 2012

4.2 - Valorização ambiental do espaço público

por Rui Florentino

A componente física do espaço urbano exerce uma grande influência na comodidade com que realizamos as actividades quotidianas, condicionando o bem-estar dos cidadãos. Para além de certas normas administrativas, que podem favorecer o seu bom desempenho (a lógica da perequação de benefícios e encargos, em áreas relativamente homogéneas) ou, pelo contrário, o tornam anónimo (como o nivelamento, por baixo, das dimensões mínimas de arruamentos e passeios), importa entender o desenho urbano enquanto arte de construção do espaço público e aprender, então, não só com as boas práticas recentes, como também com as práticas populares e tradicionais de cada lugar.
As preocupações básicas são obviamente as funcionais e de dimensionamento: a correcta distribuição de usos do solo, entre público e privado, de áreas permeáveis e de implantação, de zonas de circulação pedonal e viária, de materiais de pavimento e vegetação. Mas existe igualmente alguma informação de carácter ambiental que pode proporcionar maior criatividade ao desenho urbano e conforto para o espaço público; desde logo o conhecimento das orientações solares mais adequadas, do sentido predominante dos ventos, da temperatura e humidade do microclima. Sabe-se, por exemplo, que é difícil conseguir uma boa orientação em simultâneo para edifícios e espaços públicos, face a estações climáticas opostas. Se um conjunto de edifícios protege uma praça de ventos frios desagradáveis no Inverno, esse espaço poderá necessitar de outro tipo de protecção para não aquecer demasiado no Verão, quando as brisas no mesmo sentido permitiriam baixar as altas temperaturas.
Em qualquer caso, algumas soluções bioclimáticas podem ser utilizadas para oferecer conforto ambiental ao espaço público, considerando elementos naturais como a vegetação e a água, ou inertes, como o mobiliário e os materiais dos pavimentos e as suas cores, porque estes elementos e variáveis proporcionam obviamente diferentes sensações de calor e de humidade, conforme os objectivos que se pretendem alcançar. A este nível, salientam-se também questões importantes como a manutenção (que muitas vezes é esquecida e passa a ser um custo não relacionado com o proveito público do espaço) e a segurança, que de forma voluntária deverá ser logo maximizada evitando os lugares escondidos, fora do alcance dos “olhos da rua” (as janelas dos edifícios), como referiu Jane Jacobs (1961).
Mas o sucesso do espaço público não depende apenas de aspectos ambientais ou de desenho. Se, finalmente, “o que mais atrai as pessoas são as outras pessoas” e o que importa assegurar é uma boa intensidade de uso, então a razão para o sucesso do espaço público está também relacionada com a densidade e diversidade funcional das actividades da envolvente próxima. Com base nestas simples recomendações, atenda-se ainda à preservação de memórias colectivas relevantes e a propostas inovadoras, porventura mais multi-funcionais e acessíveis para todos.
Em Castelo Branco promoveu-se a requalificação dos centros histórico e cívico, com intervenções integradas para a melhoria dos espaços públicos, da mobilidade e do estacionamento, iniciando a aposta em simultâneo no urbanismo e nos transportes, que é um dos requisitos fundamentais da sustentabilidade aplicada ao ambiente urbano. Ao nível do espaço público, a praça central (na foto) contemplou uma prévia avaliação do conforto bioclimático e é agora valorizada com novos equipamentos, a Biblioteca Municipal e o Centro de Arte Contemporânea.

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