por Rui Florentino
A componente física do espaço urbano exerce uma grande influência na comodidade com que realizamos as actividades quotidianas, condicionando
o bem-estar dos cidadãos. Para além de certas normas administrativas, que podem
favorecer o seu bom desempenho (a lógica da perequação de benefícios e
encargos, em áreas relativamente homogéneas) ou, pelo contrário, o tornam
anónimo (como o nivelamento, por baixo, das dimensões mínimas de arruamentos e
passeios), importa entender o desenho urbano enquanto arte de construção do
espaço público e aprender, então, não só com as boas práticas recentes, como
também com as práticas populares e tradicionais de cada lugar.
As preocupações básicas são obviamente as funcionais e de
dimensionamento: a correcta distribuição de usos do solo, entre público e
privado, de áreas permeáveis e de implantação, de zonas de circulação pedonal e
viária, de materiais de pavimento e vegetação. Mas existe igualmente alguma
informação de carácter ambiental que pode proporcionar maior criatividade ao
desenho urbano e conforto para o espaço público; desde logo o conhecimento das
orientações solares mais adequadas, do sentido predominante dos ventos, da temperatura
e humidade do microclima. Sabe-se, por exemplo, que é difícil conseguir uma boa
orientação em simultâneo para edifícios e espaços públicos, face a estações
climáticas opostas. Se um conjunto de edifícios protege uma praça de ventos
frios desagradáveis no Inverno, esse espaço poderá necessitar de outro tipo de
protecção para não aquecer demasiado no Verão, quando as brisas no mesmo
sentido permitiriam baixar as altas temperaturas.
Em qualquer caso, algumas soluções bioclimáticas podem ser utilizadas
para oferecer conforto ambiental ao espaço público, considerando elementos
naturais como a vegetação e a água, ou inertes, como o mobiliário e os
materiais dos pavimentos e as suas cores, porque estes elementos e variáveis proporcionam
obviamente diferentes sensações de calor e de humidade, conforme os objectivos
que se pretendem alcançar. A este nível, salientam-se também questões
importantes como a manutenção (que muitas vezes é esquecida e passa a ser um
custo não relacionado com o proveito público do espaço) e a segurança, que de
forma voluntária deverá ser logo maximizada evitando os lugares escondidos,
fora do alcance dos “olhos da rua” (as janelas dos edifícios), como referiu Jane
Jacobs (1961).
Mas o sucesso do espaço público não depende apenas de aspectos ambientais
ou de desenho. Se, finalmente, “o que mais atrai as pessoas são as outras
pessoas” e o que importa assegurar é uma boa intensidade de uso, então a razão
para o sucesso do espaço público está também relacionada com a densidade e
diversidade funcional das actividades da envolvente próxima. Com base nestas
simples recomendações, atenda-se ainda à preservação de memórias colectivas
relevantes e a propostas inovadoras, porventura mais multi-funcionais e
acessíveis para todos.
Em Castelo Branco promoveu-se a
requalificação dos centros histórico e cívico, com intervenções integradas para
a melhoria dos espaços públicos, da mobilidade e do estacionamento, iniciando a
aposta em simultâneo no urbanismo e nos transportes, que é um dos requisitos
fundamentais da sustentabilidade aplicada ao ambiente urbano. Ao nível do espaço público, a praça central (na foto) contemplou uma prévia avaliação do
conforto bioclimático e é agora valorizada com
novos equipamentos, a Biblioteca Municipal e o Centro de Arte
Contemporânea.
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