segunda-feira, 5 de março de 2012

3.1 - Complexo residencial da Boavista

por Madalena Macedo Pinto *

O complexo residencial da Boavista foi inicialmente designado por "Urbanização William Graham", devido a ter sido edificado no terreno que ocupava a área de uma antiga fábrica textil, pertencente a essa firma inglesa, construída nos finais do séc. XIX. Após a paralização da unidade fabril, a William Graham, proprietária do imóvel e de terrenos anexos, decidiu rentabilizar o local, projectando um complexo residencial.
A ideia de construir uma urbanização nesta zona estava de acordo com o Plano Director da cidade do Porto, do urbanista Robert Auzelle, do início dos anos 60. Actualmente, este complexo é mais conhecido por "Foco", devido ao nome do cinema entretanto aí instalado. Realizado a partir de 1962 pelo Arquitecto Agostinho Ricca, o projecto caracteriza-se por um urbanismo moderno, em que se abandonam os elementos morfológicos da cidade tradicional - "o quarteirão fechado" e "a rua corredor", desenhando a urbanização com um ambiente humanizado, integrado por amplos espaços verdes.
Trata-se de uma zona residencial a par de escritórios, galerias comerciais, um hotel, um clube destinado aos moradores, uma sala de espectáculos e uma igreja, projectada em 1979, também por Ricca. Todos estes equipamentos se desenvolvem à volta de um espaço verde destinado ao convívio. Na concepção desta área, é notório o cuidado que houve em dar aos espaços de lazer um carácter reservado, que os torna bastante agradáveis. Isto foi conseguido separando-os da rua e do estacionamento, através da aplicação de diferentes patamares, encontrando-se a circulação viária a uma cota mais elevada. Criou-se um desnível entre a vegetação e os edifícios, que dá uma sensação de maior acolhimento. As extensas galerias comerciais situam-se nos edifícios dos dois lados deste jardim central.
Inicialmente, a única entrada existente para "o Foco" era pela Avenida da Boavista, o que dava a este complexo um cariz de "condomínio fechado". Só muitos anos mais tarde, em 2004, foi aberta uma saída para Norte, que transformou o Foco numa zona de passagem para acesso a outras partes da cidade e sua envolvente, através da Via de Cintura Interna.
O facto de ter sido construído em várias fases, explica a evolução de um desenho inicial muito racionalista, para um diálogo com os upgrades que a arquitectura foi entretanto adquirindo. Este complexo residencial revela assim um enorme estudo e aplicação de conhecimentos da vivência urbana, resultando num espaço interessantíssimo, que cumpre, na sua maioria, todos os objectivos a que se propôs, estimulando relações sociais que acontecem da simples rotina diária.

* Pós-Graduada em Gestão e Avaliação no Imobiliário

Fonte da imagem - http://pt.wikipedia.org/wiki/Agostinho_Ricca

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