domingo, 9 de março de 2014

9.2 - Planeamento Urbano Saudável - lições do programa POLIS



A atenção para com o bem-estar físico e social dos cidadãos tem vindo a destacar-se no âmbito das práticas de planeamento. Progressivamente, esse “novo” objetivo vai tornando evidente a necessidade de incorporar a saúde nas estratégias de desenvolvimento urbano. O programa POLIS, para a valorização ambiental e requalificação das cidades, lançado pelo governo português no ano 2000, constitui um ponto de partida para se estudar esta nova relação, entre urbanismo e saúde.
Neste contexto global, considerando o aumento da sedentariedade da população e dos níveis de stress, relacionados com a vivência urbana e os riscos ambientais, as evidências empíricas salientam a importância das funções sociais e psicológicas induzidas pela boa apropriação dos espaços públicos. Em particular os espaços verdes, para além de contribuírem para o aumento da atividade física e da interação social, podem ter um efeito regenerativo, contribuindo para a redução do stress e a promoção da saúde dos habitantes (Santana, 2007).
No quadro de um ambiente urbano mais qualificado, os espaços verdes desempenham assim um papel relevante, reconhecendo que “a qualidade ambiental contribui para a harmonia social e a vitalidade cultural, sendo um dos “fatores chave” para o sucesso económico de uma cidade” (ECTP, 2003). Existe portanto um interesse saudável no planeamento, projeto e conservação dos espaços verdes públicos, no sentido de se potenciarem as suas funções ecológicas, hidrológicas e atmosféricas, favorecendo a sua apropriação e aumentando os níveis de satisfação física e psicológica dos cidadãos.
As lições apreendidas através da observação dos resultados do POLIS em oito cidades portuguesas oferecem pistas para o entendimento da relação entre o urbanismo e a saúde. E é sobretudo nos espaços públicos onde esta associação ganha maior relevo, evidenciada em indicadores quantitativos: áreas verdes criadas e/ou beneficiadas, percursos pedonalizados, áreas de tráfego condicionado, lugares de estacionamento dissuasores ou extensão de ciclovias. Mas também os indicadores qualitativos, como a participação da população, as diferentes atividades sociais, desportivas e económicas e o reforço da identificação com a cidade permitem que a comunidade local possa desenvolver os seus níveis de saúde.
Nos casos de Leiria e Viseu verifica-se uma intervenção estruturada de forma linear ao longo do rio. Mas enquanto o primeiro atravessa a cidade, o segundo caso apresenta uma situação algo mais periférica. A intervenção em Coimbra marca a transição de uma disposição linear para uma tipologia pontual. Apesar da sua posição junto ao Rio Mondego, ao não acompanhar as margens de forma contínua, o programa apresenta um carácter pontual, que é ainda mais evidente em Castelo Branco, inscrevendo-se no centro da cidade, e em Beja, onde se localiza na franja urbana. Estas diversidades de relações espaciais traduzem-se em diferentes resultados, com reflexos na utilização dos espaços e nos benefícios gerados para a cidade e a saúde dos seus habitantes.
 
Santana, Paula: A cidade e a saúde, Almedina
ECTP: A Nova Carta de Atenas
 
* Resumo da comunicação aceite para o Geosaúde 2014, por Rui Florentino, Fátima Bernardo e Isabel Loupa Ramos
 

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