domingo, 14 de dezembro de 2014

12.1 - Aldeia sem Sociedade


por Ana Baptista *


No âmbito do trabalho a ser desenvolvido para tese de doutoramento na Universidade de Sevilha, em cooperação com a Escola Universitária das Artes de Coimbra, com o título “O caso das aldeias serranas – importância e limites destas unidades sociais e patrimoniais na sustentabilidade do território”, pretende-se apresentar neste Congresso uma reflexão teórica sob o tema: Aldeia sem sociedade.
As transformações verificadas nos meios rurais, que enquadradas no ambiente europeu foram em Portugal bastante tardias, bem como a crise que os atravessa, a perda das suas actividades agrícolas, o despovoamento e os desafios que enfrentam configuram um cenário de mudança identitária desses lugares.
Perante este facto, pretende-se reflectir sobre o que tem sido a “descoberta” (recente) deste património edificado. Como caso de estudo são analisadas as Aldeias de Xisto, assim designadas administrativamente, situadas na região centro (Beira), como possível instrumento, recurso de sustentabilidade e motor para o desenvolvimento destas áreas.
Assumindo que a valorização dos lugares e da sua memória, a potencialização de recursos, de culturas e actividades, assim como a divulgação de espaços esquecidos, cuja marca perdura no território, poderá ser uma forma de acção em contextos sócio – económicos deprimidos, particularmente em comunidades rurais fragilizadas, fortemente despovoadas e com dificuldades de afirmação como estas, a questão que se coloca é a de saber até que ponto (em alguns casos), este património tem vindo a ganhar uma dimensão retórica, folclórica e muitas vezes encenada, a pretexto de uma estratégia de desenvolvimento e promoção local, promovendo muitas vezes símbolos de singularidade, (de uma sociedade que lhes deu origem, mas que seguramente já não existe) utilizando-os apenas como atracções paisagísticas, gastronómicas ou arquitectónicas.
 
 
* Arquitecta.
 

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