por Gonçalo Machado *
É difícil dissociar, historicamente, a cidade da função comercial. As tipologias dos diferentes usos contribuem para a organização geral e a posterior dinâmica dos espaços urbanos, tal como o seu ordenamento afecta, significativamente, o potencial das actividades comerciais.
Nas últimas décadas, as novas infraestruturas e tecnologias urbanas, o aumento extraordinário da mobilidade e as alterações gerais nas formas de consumo produziram efeitos substanciais nestes espaços vitais. Com problemas estruturais internos, os amplos segmentos da oferta do chamado "comércio tradicional" apresentam hoje uma extrema debilidade competitiva, agravada com a crescente procura das "grandes superfícies comerciais".
O planeamento urbanístico, pela sua missão fundamental de ordenar os usos e as formas dos espaços, possui recursos de intervenção e capacidade para influenciar a organização territorial das diferentes actividades comerciais, sensíveis à distribuição e às qualidades intrínsecas de cada área urbana. Com a emergência de novos instrumentos municipais e a inclusão de uma carta de ordenamento comercial no novo Plano Director, Lisboa tem uma grande oportunidade para desenvolver propostas urbanísticas que fortaleçam a relação entre a actividade comercial e a vivência do espaço público.
No contexto do comércio de proximidade, o formato do equipamento conhecido por Mercado Municipal, pela ampla oferta e variedade de produtos, bem como pela sua localização estratégica no interior dos bairros, constitui uma referência urbana muito forte, que interessa não só preservar, mas principlamente dinamizar. Neste sentido, os seus valores patrimoniais e funcionais são pontos de partida para fazer deles uma importante âncora com vista à revitalização do centro da cidade, invertendo o actual panorama de degradação e desertificação diagnosticado.
* Arquitecto
Ecoperfil. Sistemas Urbanos Sustentáveis
Sem comentários:
Enviar um comentário