segunda-feira, 17 de março de 2014

CASU 9 - Inverno de 2014


A Trienal de Arquitectura de Lisboa completou neste Inverno a sua 3ª edição, tendo atingido a desejada internacionalização com a participação diversificada de vários âmbitos de actividades artísticas, que amplificam o campo tradicional da arquitectura, a partir de experiências dos mais jovens profissionais. Nesta edição, o júri do prémio da Trienal nomeou o Professor e crítico de arquitectura inglês Kenneth Frampton, seguindo a linha de prestígio inaugurada pelos premiados anteriores, Álvaro Siza e Vittorio Gregotti. Como se sabe, Frampton foi um dos principais promotores do conceito de "regionalismo crítico", enquanto tendência de revitalização da arquitectura pós-moderna, através dos valores culturais presentes em cada região, reconhecida em Portugal nas obras da chamada "Escola do Porto". A sua conferência de encerramento da Trienal, no CCB em Lisboa, fez-me recordar a minha tese de Mestrado, apresentada em 2002, na Faculdade de Arquitectura da então Universidade Técnica de Lisboa, sob orientação do Prof. António Jacinto Rodrigues (que havia sido também meu docente na FAUP), com o título de Uma arquitectura sobre região: cultura arquitectónica na Galiza contemporânea. Das conclusões deste trabalho, que tive o gosto de desenvolver, são as linhas seguintes, que me parecem ainda muito actuais, mais de uma década depois. Para além desta lembrança, este número 9 dos CASU's integra dois resumos que foram aprovados para conferências internacionais nos próximos meses e a referência à Avaliação Ambiental Estratégica de um Plano de Urbanização, mantendo a ideia de registos breves nos 4 temas que compõem os CASU's: arquitectura, espaço público, urbanismo e ordenamento do território.
Passou já quase meio século desde que Pierre Francastel explicou esse inevitável encontro da Arte com a Técnica, sugerindo então que uma unidade global dos signos visuais será anterior à hipotética identidade política ou da linguagem. Mas o seu pensamento prospectivo parece ainda jovem, a cada dia, e por muito mais tempo. «Constrói-se e veste-se hoje da mesma maneira em Paris, Varsóvia, Rio de Janeiro ou no Paquistão. As exposições de pintura apresentam analogias extraordinárias, de Sidney a Oslo. Mesmo onde certas reticências se manifestam, como na Rússia soviética, recorre-se a formas da linguagem plástica que se negam a certas experiências modernas mas que prolongam a arte ocidental próxima passada, sem qualquer criação de forma ou de matéria. Em 1850, Victor Hugo dizia: “O mundo anda de comboio e fala francês.” Em 1950 pode-se dizer: o mundo anda de avião e desenha ou esculpe como em Paris.»
A diferença é que em 2000 o mundo comove-se através da internet, em qualquer espaço informatizado. Mas não há por enquanto motivos para outra precipitação: é certo que a economia, a informação e as tecnologias estão practicamente globalizadas, mas sobre a cultura dos povos e sociedades, nem no horizonte se vislumbra como, e muito menos quando. A arquitectura não será com certeza a forma de arte que mais se aproximou dessa hipotética tendência para a unidade dos significados culturais. Os compromissos técnicos e sociais, quando muito, levaram-na antes para os terrenos da singularidade, da sua própria singularidade, como expressão estética de uma era plural, e da sua singularidade como evento efémero, que apenas se cristaliza pelo nosso desejo de imagens em constante renovação. Esta dissertação prova, pelo contrário, que bem ao nosso lado formou-se uma cultura arquitectónica que levanta conscientemente os seus próprios temas, específicos face à diferença histórica e popular da comunidade que lhe dá vida.
 

quinta-feira, 13 de março de 2014

9.1 - Uma arquitectura sobre região - cultura arquitectónica na Galiza contemporânea


Na sequência da recepção de um texto de Paul Ricouer, o “Civilização Universal e Culturas Nacionais”, original de 1955 e que, segundo Frampton, propõe «a tese de que uma cultura mundial híbrida só chegará a existir através de uma fecundação entre a cultura enraizada, por um lado, e a civilização universal por outro» o paradoxo, em arquitectura, era desmontar a tendência contemporânea para a internacionalização, recriando a memória dos elementos arquitectónicos locais, sem abandonar, contudo, o mesmo carácter progressista dos movimentos modernos.
Em Portugal, notaram-se também algumas obras de inspiração regional, em particular quando os arquitectos englobaram no seu exercício profissional as conclusões do citado Inquérito, que promoveram com grande entusiasmo. Todavia, por razões compreensíveis, a cultura arquitectónica estava sobretudo empenhada em acompanhar a transição política para a democracia, após 1974, eliminando o passado colonialista do Estado Novo, já que tudo o que pudesse significar desenvolvimento económico e social, constituiria um trunfo para a formação do “país moderno”. Tais compromissos políticos e sociais não foram, de resto, totalmente incompatíveis com interessantes projectos de vocação e espírito regional. De facto, as leituras já existentes da arquitectura portuguesa contemporânea, tão rica e contraditória ao longo do passado século, de Raul Lino a Álvaro Siza, só provam que muitas outras podem ainda desenvolver-se nesse mesmo tema. Porém, não encontramos em Portugal motivos suficientes para pensar numa arquitectura sobre região, o que nos impede de elaborar aqui a possível ideia de “região arquitectónica”.
Pelo contrário, uma investigação sobre cultura arquitectónica no âmbito da “Galiza contemporânea”, dando sentido àquela ideia no mesmo momento em que esta era pós-moderna avança, também sem receios, para a “hipotética globalização cultural”, parece ser pelo menos pertinente. Passados os “Séculos Escuros” (assim denominado o lapso de tempo, após a Idade Média, em que se apagam os valores culturais da região), é somente a partir da segunda metade do século XIX que se forma no “povo galego” uma consciência “para si”, de afirmação e identidade. Segundo diversos autores, a data de 1863, na qual se publica novamente uma obra literária escrita em galego (“Cantares Gallegos”, de Rosalía de Castro), é particularmente importante para se definir o início da época contemporânea na Galiza. Numa primeira modernidade, recriam-se os seus valores históricos, de individualidade cultural e especificidade ambiental, mas depois a crise económica, a sucessiva emigração e, em particular, a guerra civil entre 1936 e 39 e o regime que se lhe seguiu, travam o desenvolvimento daquele ressurgimento moderno, embora situado. As vanguardas artísticas do início do século, mesmo desde o exílio, retomaram o processo de afirmação social e cultural, mas só recentemente a nova situação política em Espanha, com a instituição das Autonomias, permitiu definir o tempo de uma segunda modernidade para a Galiza.
A presente dissertação elabora pois sobre a época contemporânea desta região histórica, entendida através da actividade de um grupo significativo de profissionais que, sobretudo após a fundação do Colexio Oficial de Arquitectos de Galicia (COAG), em 1973, estudou e construiu a singularidade arquitectónica da Galiza.
 
 

domingo, 9 de março de 2014

9.2 - Planeamento Urbano Saudável - lições do programa POLIS



A atenção para com o bem-estar físico e social dos cidadãos tem vindo a destacar-se no âmbito das práticas de planeamento. Progressivamente, esse “novo” objetivo vai tornando evidente a necessidade de incorporar a saúde nas estratégias de desenvolvimento urbano. O programa POLIS, para a valorização ambiental e requalificação das cidades, lançado pelo governo português no ano 2000, constitui um ponto de partida para se estudar esta nova relação, entre urbanismo e saúde.
Neste contexto global, considerando o aumento da sedentariedade da população e dos níveis de stress, relacionados com a vivência urbana e os riscos ambientais, as evidências empíricas salientam a importância das funções sociais e psicológicas induzidas pela boa apropriação dos espaços públicos. Em particular os espaços verdes, para além de contribuírem para o aumento da atividade física e da interação social, podem ter um efeito regenerativo, contribuindo para a redução do stress e a promoção da saúde dos habitantes (Santana, 2007).
No quadro de um ambiente urbano mais qualificado, os espaços verdes desempenham assim um papel relevante, reconhecendo que “a qualidade ambiental contribui para a harmonia social e a vitalidade cultural, sendo um dos “fatores chave” para o sucesso económico de uma cidade” (ECTP, 2003). Existe portanto um interesse saudável no planeamento, projeto e conservação dos espaços verdes públicos, no sentido de se potenciarem as suas funções ecológicas, hidrológicas e atmosféricas, favorecendo a sua apropriação e aumentando os níveis de satisfação física e psicológica dos cidadãos.
As lições apreendidas através da observação dos resultados do POLIS em oito cidades portuguesas oferecem pistas para o entendimento da relação entre o urbanismo e a saúde. E é sobretudo nos espaços públicos onde esta associação ganha maior relevo, evidenciada em indicadores quantitativos: áreas verdes criadas e/ou beneficiadas, percursos pedonalizados, áreas de tráfego condicionado, lugares de estacionamento dissuasores ou extensão de ciclovias. Mas também os indicadores qualitativos, como a participação da população, as diferentes atividades sociais, desportivas e económicas e o reforço da identificação com a cidade permitem que a comunidade local possa desenvolver os seus níveis de saúde.
Nos casos de Leiria e Viseu verifica-se uma intervenção estruturada de forma linear ao longo do rio. Mas enquanto o primeiro atravessa a cidade, o segundo caso apresenta uma situação algo mais periférica. A intervenção em Coimbra marca a transição de uma disposição linear para uma tipologia pontual. Apesar da sua posição junto ao Rio Mondego, ao não acompanhar as margens de forma contínua, o programa apresenta um carácter pontual, que é ainda mais evidente em Castelo Branco, inscrevendo-se no centro da cidade, e em Beja, onde se localiza na franja urbana. Estas diversidades de relações espaciais traduzem-se em diferentes resultados, com reflexos na utilização dos espaços e nos benefícios gerados para a cidade e a saúde dos seus habitantes.
 
Santana, Paula: A cidade e a saúde, Almedina
ECTP: A Nova Carta de Atenas
 
* Resumo da comunicação aceite para o Geosaúde 2014, por Rui Florentino, Fátima Bernardo e Isabel Loupa Ramos
 

terça-feira, 4 de março de 2014

9.3 - The influence of city form in public health


The concept of “Health in All Policies” that came up a few years ago, during the Finnish Presidency of the European Union (2006), has increased the study of city form and urban design as important elements to build healthy communities. In that sense, grows the knowledge about the relevance of life style patterns for public health, promoting global changes in the urban environment and on the way we manage our cities.
In this ongoing research, the intention is to prove, trough the analysis of international case studies, which are the good practices, in design and urban planning, according to their influence in the local communities health. It’s therefore an operational purpose, to present some contribution on how city form can improve our common future.
The state of the art shows that the urban models of unlimited growth and the cities without human concerns or cultural approaches became unpleased places, with major impacts in environment and all kind of diseases. Part of those problems can be related to the practice of “zoning plans”, which separate urban functions, with great distances between residential areas, affecting the health of the commuters in their daily movements.
On other hand, the medium densities, traditional urban forms and more compacts cities are usually presented as better ways to develop the health of the community, with also remarkable benefits on environment, social integration and local economy. In the European context, three of these better examples are the “New Poundbury” neighborhood in Dorchester (UK), the German city of Freiburg and the regeneration of Plessis Robinson, near Paris, recognized by organizations like the Prince’s Foundation for Building Community, the Council for European Urbanism and the Fondation Philippe Rotthier pour l’Architecture.


Resumo de comunicação aceite no ISUF 2014, por Rui Florentino e José Baganha

9.4 - Avaliação Ambiental Estratégica do PUETA


PUETA é a sigla do Plano de Urbanização do Empreendimento Turístico da Agolada, no concelho de Coruche, com cerca de 900 ha., que está a ser desenvolvido sob proposta de José Baganha Arquitectos Associados. Os seus objectivos são: i) Contribuir para o crescimento da procura turística nesta região e em particular no município de Coruche, enquanto actividade económica relevante para o seu desenvolvimento; ii) Preservar as principais características deste território, em especial as suas áreas de maior sensibilidade ambiental e ecológica, através de processos de gestão mais pro-activos; iii) Apresentar uma utilização turística adequada às condições naturais e culturais da região, que assente na prevenção dos riscos territoriais e no aproveitamento dos recursos; iv) Ordenar o território de acordo com os princípios do desenvolvimento sustentável, em termos de valorização ambiental, mobilidade suave e qualidade de vida; e v) Garantir um excelente desempenho energético e ambiental, durante todo o ciclo de vida das várias fases de construção e exploração dos edifícios e infra-estruturas.
No âmbito da Avaliação Ambiental Estratégica, considerando também o quadro de referência para a elaboração do Plano e as valências ambientais em presença, foram identificados 4 Factores Críticos para a Decisão (FCD). Com o FCD 1 – Valorização de Recursos, salienta-se a necessidade do Plano aproveitar as características naturais do território, em termos do solo, da água, das áreas de maior sensibilidade ecológica e das infra-estruturas físicas já existentes. Com o FCD 2 – Prevenção de Riscos, destaca-se a importância do Plano considerar medidas de minimização dos riscos de incêndio, cheias e poluição, do solo e do ar. Com o FCD 3 – Ordenamento do Território, prevê-se que a elaboração do Plano integre as questões da densidade e da diversidade de funções, bem como a promoção dos modos suave de mobilidade, pedonal e ciclista. E com o FCD 4 – Turismo Sustentável, pretende-se o recurso a fontes de energia renovável, a valorização de resíduos e o crescimento económico, de forma a garantir comportamentos saudáveis, qualidade urbana e coesão social.


Desenho de José Baganha, Arquitecto