sábado, 30 de agosto de 2014
CASU 11 - Verão de 2014
Um novo desafio profissional veio neste Verão juntar mais um logotipo às páginas dos CASU's. O leitor destes Cadernos (personagem fictícia que só existe na cabeça do editor) terá dado conta disso: é a Escola Superior Gallaecia, em Vila Nova de Cerveira, onde irei dar aulas a partir de Setembro. Quando iniciámos este blogue, de facto inspirados no do Professor José Fariña (http://elblogdefarina.blogspot.pt/), confesso, para os menos atentos, estávamos longe de imaginar que entretanto tantas coisas mudassem... Mas é isso mesmo, fomo-nos habituando à mudança.
Nesta estação das férias é quando temos tempo para ler o Expresso, não as edições da época, mas as antigas que guardei por qualquer razão. Folheia-se mais rapidamente, e dá-se conta que tudo é bem mais relativo, por exemplo os problemas do grupo Espírito Santo apareciam já no princípio do ano... E neste Verão fiz essa tarefa, depois de muitos anos, já não tenho Expressos em casa. Mas aproveitei para aqui um artigo interessante que retive, de um economista, Ricardo Hausmann, que nos mostra aos urbanistas o "mito da especialização das cidades". Seria bom tê-lo lido em 2009, quando nos estudos de economia para a alteração ao Plano da Área Metropolitana de Lisboa me pediam para traçar os sectores económicos em que a região deveria apostar. Pois bem, algo que já intuía naquela altura: as cidades não se devem especializar, quanto mais diversificadas economicamente mais competitivas, e essa diversidade deve ser o estímulo das opções territoriais.
Nos outros três temas dos CASU's inserimos textos que nos dizem muito enquanto arquitecto urbanista e são importantes para esta nova etapa docente de um curso na fronteira do Minho. Um pequeno livro de desenhos de León Krier, que em mais de 3 décadas de esquissos a preto e branco nos permite tirar tantas conclusões sobre espaços e cidades, imagens que comunicam ideias que nos estão muito próximas e vamos promover, também enquanto fundadores do "capítulo" português da INTBAU. Por sua vez na etiqueta Espaço Público, das melhores linhas alguma vez escritas em enunciados de disciplinas, a de Teoria Geral da Organização do Espaço, do 1º ano da FAUP, claro está, do saudoso mestre Fernando Távora: "Aos alunos, portanto, um pedido de dedicada colaboração acompanhado da esperança de um mundo mais belo e mais feliz." E por último um excerto do Complexity and Contradiction in Architecture, de Robert Venturi, que muito nos influenciou já na parte final do curso, que termina com esta frase: "Más no es menos." Parece estranho, sim, mas em arquitectura, no ensino da arquitectura, é preciso dizê-lo.
Nesta 11ª edição, o leitor dispõe ainda da novidade de poder mais facilmente encontrar os diferentes mini-artigos dentro dos 4 temas dos CASU's, no menu em cima.
Já no início do Outono, participamos activamente em duas conferências. Vamos moderar uma das sessões do 3º seminário de Territórios e Cidades do Norte Atlântico Ibérico, 25 e 26 de Setembro, organização da Escola Superior Gallaecia e da Câmara Municipal de Viana do Castelo, que aproveito para aqui divulgar. E na semana seguinte lá estaremos a receber mais de uma centena de colegas, no XVI Congresso Iberoamericano de Urbanismo, Sintra 2014. Este grande evento internacional, que terá a participação de urbanistas de praticamente todos os países ibero-americanos (se puderem não faltem, será mesmo bom, acreditem), servirá então para um segundo número especial destes Cadernos.
sexta-feira, 22 de agosto de 2014
11.1 - Complejidad y Contradicción en la Arquitectura
por Robert Venturi
...Pero la arquitectura es necesariamente compleja y contradictoria por el hecho de incluir los tradicionales elementos vitruvianos de comodidad, solidez y beleza. Y hoy las necesidades de programa, estructura, equipo mecánico y expresión, incluso en edificios aislados en contextos simples, son diferentes y conflictivas de una manera antes inimaginable. La dimensión y escala creciente de la arquitectura en los planeamentos urbanos y regionales aumentan las dificultades. Doy la bienvenida a los problemas y exploto las incertidumbres. Al aceptar la contradicción y la complejidad, defendo tanto la vitalidad como la validez.
Los arquitectos no pueden permitir que sean intimidados por el lenguaje puritano moral de la arquitectura moderna. Prefiero los elementos híbridos a los "puros", los comprometidos a los "limpios", los distorcionados a los "rectos", los ambíguos a los "articulados", los tergiversados que a la vez son impersonales, a los aburridos que a la vez son "interessantes", los convencionales a los "diseñados", los integradores a los "excluyentes", los redundantes a los sencillos, los reminiscentes que a la vez son innovadores, los irregulares y equívocos a los directos y claros. Defiendo la vitalidade confusa frente a la unidad transparente. Acepto la falta de lógica y proclamo la dualidad.
Defiendo la riqueza de significados en vez de la claridad de significados; la función implícita a la vez que la explícita. Prefiro "esto y lo outro" a "o esto o el outro", el blanco y el negro, y algunas veces el gris, al negro o al blanco. Una arquitectura válida evoca mucho niveles de significados y se centra en muchos puntos: su espácio y sus elementos se leen y funcionan de varias maneras a la vez.
Pero una arquitectura de la complejidad y la contradicción tiene que servir especialmente al conjunto; su verdad debe estar en su totalidad o en sus implicaciones. Debe incorporar la unidad difícil de la inclusión en vez de la unidad fácil de la exclusión. Más no es menos.
Traducción publicada en Gustavo Gili, del original de 1966.
...Pero la arquitectura es necesariamente compleja y contradictoria por el hecho de incluir los tradicionales elementos vitruvianos de comodidad, solidez y beleza. Y hoy las necesidades de programa, estructura, equipo mecánico y expresión, incluso en edificios aislados en contextos simples, son diferentes y conflictivas de una manera antes inimaginable. La dimensión y escala creciente de la arquitectura en los planeamentos urbanos y regionales aumentan las dificultades. Doy la bienvenida a los problemas y exploto las incertidumbres. Al aceptar la contradicción y la complejidad, defendo tanto la vitalidad como la validez.
Los arquitectos no pueden permitir que sean intimidados por el lenguaje puritano moral de la arquitectura moderna. Prefiero los elementos híbridos a los "puros", los comprometidos a los "limpios", los distorcionados a los "rectos", los ambíguos a los "articulados", los tergiversados que a la vez son impersonales, a los aburridos que a la vez son "interessantes", los convencionales a los "diseñados", los integradores a los "excluyentes", los redundantes a los sencillos, los reminiscentes que a la vez son innovadores, los irregulares y equívocos a los directos y claros. Defiendo la vitalidade confusa frente a la unidad transparente. Acepto la falta de lógica y proclamo la dualidad.
Defiendo la riqueza de significados en vez de la claridad de significados; la función implícita a la vez que la explícita. Prefiro "esto y lo outro" a "o esto o el outro", el blanco y el negro, y algunas veces el gris, al negro o al blanco. Una arquitectura válida evoca mucho niveles de significados y se centra en muchos puntos: su espácio y sus elementos se leen y funcionan de varias maneras a la vez.
Pero una arquitectura de la complejidad y la contradicción tiene que servir especialmente al conjunto; su verdad debe estar en su totalidad o en sus implicaciones. Debe incorporar la unidad difícil de la inclusión en vez de la unidad fácil de la exclusión. Más no es menos.
Traducción publicada en Gustavo Gili, del original de 1966.
11.2 - Teoria Geral da Organização do Espaço
por Fernando Távora
...O arquitecto..., para ele, porém, projectar, planear, desenhar, devem significar apenas encontrar a forma justa, a forma correcta, a forma que realiza com eficiência e beleza a síntese entre o necessário e possível, tendo em atenção que essa forma vai ter uma vida, vai constituir circunstância.
Sendo assim, projectar, planear, desenhar, não deverão traduzir-se para o arquitecto na criação de formas vazias de sentido, impostas por capricho da moda ou por capricho de qualquer outra natureza.
As formas que ele criará deverão resultar, antes, de um equilíbrio sábio entre a sua visão pessoal e a circunstância que o envolve e para tanto deverá ele conhecê-la intensamente, tão intensamente que conhecer e ser se confundem...
A cadeira de Teoria Geral da Organização do Espaço pretende, pelo seu programa teórico e sua aplicação prática, introduzir os alunos em matérias de carácter geral - mas fundamental - relativas ao espaço natural e humano que nos envolve considerado como efeito e causa do nosso comportamento.
A prática da cadeira, cujo programa se anuncia, reveste-se de especial interesse uma vez que por meio dela se analisam e se compreendem fenómenos próximos e do nosso dia a dia, nos quais participamos como actores e como utentes.
Aos alunos, portanto, um pedido de dedicada colaboração acompanhado da esperança de um mundo mais belo e mais feliz.
...O arquitecto..., para ele, porém, projectar, planear, desenhar, devem significar apenas encontrar a forma justa, a forma correcta, a forma que realiza com eficiência e beleza a síntese entre o necessário e possível, tendo em atenção que essa forma vai ter uma vida, vai constituir circunstância.
Sendo assim, projectar, planear, desenhar, não deverão traduzir-se para o arquitecto na criação de formas vazias de sentido, impostas por capricho da moda ou por capricho de qualquer outra natureza.
As formas que ele criará deverão resultar, antes, de um equilíbrio sábio entre a sua visão pessoal e a circunstância que o envolve e para tanto deverá ele conhecê-la intensamente, tão intensamente que conhecer e ser se confundem...
A cadeira de Teoria Geral da Organização do Espaço pretende, pelo seu programa teórico e sua aplicação prática, introduzir os alunos em matérias de carácter geral - mas fundamental - relativas ao espaço natural e humano que nos envolve considerado como efeito e causa do nosso comportamento.
A prática da cadeira, cujo programa se anuncia, reveste-se de especial interesse uma vez que por meio dela se analisam e se compreendem fenómenos próximos e do nosso dia a dia, nos quais participamos como actores e como utentes.
Aos alunos, portanto, um pedido de dedicada colaboração acompanhado da esperança de um mundo mais belo e mais feliz.
11.3 - Drawing for Architecture
por Léon Krier
In addition to my architectural and urban projects, I produce a great number of doodles, ideograms that are the subject of this volume. They are not a natural occupation: they only come to me in discontinous, short, and generally angry bursts. They often sum up in one or two images what I had been previously trying to articulate in projects, writings, or speech. The first of such outbreaks came in 1980 after a protracted writing sweat, when in a few days I summarized two hundred pages of texto in approximately the same number of ideograms. These have mostly stringent undertone; they are, in fact, counterattacks against endured aggresions, absurdities, and paradoxes, with which life is so richly endowed.
Raw and whithout circumlocution, these ideograms are means not to console or please but reveal scandalous elements of architectural practices and ideology; they outline conceptual tools for refounding traditional urbanism and architecture. It is well known that actions cause reactions mostly of an unexpected or unintended kind. What will win as the end of human activities, of fulfilled or frustrated lives? The good or the bad, the right or the wrong, the intelligent or the stupid? Evidently neither human or artificial intelligence gains notable insight into ultimate issues. We can, however, no longer ignore that in matters of settlement, building, and energy policies, industrial civilization is engaged in a tragic impasse. We now generally build in the wrong places, in the wrong patterns, materials, types, densities, and heights, and for the wrong numeber of dwelleres.
In my opinion, the traditional architecture and building and settlement tecnhiques of the pre-fossil fuel age represent the operative tools of global ecological reconstruction. It is the condition of nature that will, as in the past, redefine our development possibilities. These doodles may help to point our thinking in that direction.
Book from the Writing Architecture Series, The MIT Press, Cambridge, Massachusetts ,and London, England, 2009.
In addition to my architectural and urban projects, I produce a great number of doodles, ideograms that are the subject of this volume. They are not a natural occupation: they only come to me in discontinous, short, and generally angry bursts. They often sum up in one or two images what I had been previously trying to articulate in projects, writings, or speech. The first of such outbreaks came in 1980 after a protracted writing sweat, when in a few days I summarized two hundred pages of texto in approximately the same number of ideograms. These have mostly stringent undertone; they are, in fact, counterattacks against endured aggresions, absurdities, and paradoxes, with which life is so richly endowed.
Raw and whithout circumlocution, these ideograms are means not to console or please but reveal scandalous elements of architectural practices and ideology; they outline conceptual tools for refounding traditional urbanism and architecture. It is well known that actions cause reactions mostly of an unexpected or unintended kind. What will win as the end of human activities, of fulfilled or frustrated lives? The good or the bad, the right or the wrong, the intelligent or the stupid? Evidently neither human or artificial intelligence gains notable insight into ultimate issues. We can, however, no longer ignore that in matters of settlement, building, and energy policies, industrial civilization is engaged in a tragic impasse. We now generally build in the wrong places, in the wrong patterns, materials, types, densities, and heights, and for the wrong numeber of dwelleres.
In my opinion, the traditional architecture and building and settlement tecnhiques of the pre-fossil fuel age represent the operative tools of global ecological reconstruction. It is the condition of nature that will, as in the past, redefine our development possibilities. These doodles may help to point our thinking in that direction.
Book from the Writing Architecture Series, The MIT Press, Cambridge, Massachusetts ,and London, England, 2009.
quarta-feira, 20 de agosto de 2014
11.4 - O mito da especialização das cidades
por Ricardo Hausmann *
Embora algumas ideias sejam intuitivas e óbvias, podem também ser erradas e perigosas. Como é normalmente o caso, não é o que não se sabe, mas o que erradamente se pensa saber, que nos prejudica. E a ideia de que as cidades e os países acabam por se especializar, é uma dessas ideias muito erradas e perigosas.
Ora, as cidades são os sítios onde se reúnem as pessoas que se especializam em diferentes áreas, permitindo às indústrias combinar os seus conhecimentos. As cidades ricas caracterizam-se por um conjunto de competências mais diversificado, que suporta um conjunto de competências mais diversificado e complexo de indústrias - e fornece desse modo mais oportunidades de emprego a diferentes especialistas.
A escala à qual a especialização dos indivíduos leva à diversificação é a cidade. Entre cidades com populações similares - digamos, Salvador e Curitiba no Brasil, ou Guadalajara e Monterrey no México - as cidades mais diversificadas são mais ricas. Tendem a crescer mais depressa e a tornar-se ainda mais diversificadas, não apenas porque possuem um maior mercado interno, mas também porque são mais diversificadas em termos do que podem vender a outras cidades e países.
É por isso que a ideia de que as cidades, estados, ou países se deveriam especializar nas suas áreas actuais de vantagem comparativa é tão perigosa. Focar-se nas actividades limitadas em que se destacam actualmente apenas reduziria a variedade das capacidades que possuem. O desafio não consiste em escolher alguns vencedores entre as indústrias existentes, mas antes em facilitar a emergência de mais vencedores por alargamento do ecossistema de negócios e capacitar o seu apoio a novas actividades.
Isso é ainda mais importante hoje, porque a globalização das cadeias de valor está a deslocalizar as relações fornecedor-cliente. As cidades e os países fazem mal em focar-se em alguns agrupamentos (clusters) e consolidar as cadeias de valor nas suas localizações, como se recomenda frequentemente. Em vez disso, deveriam preocupar-se em ser um "nodo" em muitas diferentes cadeias de valor, o que implica encontrar outras indústrias que possam usar as suas capacidades, se estas fossem expandidas e ajustadas a novas necessidades.
* Professor de Economia da Universidade de Harvard e Director do Centro para o Desenvolvimento Internacional.
Excerto do artigo publicado no Expresso de 11-01-2014. www.project-syndicate.org
Fotografia do editor, do cartaz de uma área de expansão urbana em Amsterdão.
Embora algumas ideias sejam intuitivas e óbvias, podem também ser erradas e perigosas. Como é normalmente o caso, não é o que não se sabe, mas o que erradamente se pensa saber, que nos prejudica. E a ideia de que as cidades e os países acabam por se especializar, é uma dessas ideias muito erradas e perigosas.
Ora, as cidades são os sítios onde se reúnem as pessoas que se especializam em diferentes áreas, permitindo às indústrias combinar os seus conhecimentos. As cidades ricas caracterizam-se por um conjunto de competências mais diversificado, que suporta um conjunto de competências mais diversificado e complexo de indústrias - e fornece desse modo mais oportunidades de emprego a diferentes especialistas.
A escala à qual a especialização dos indivíduos leva à diversificação é a cidade. Entre cidades com populações similares - digamos, Salvador e Curitiba no Brasil, ou Guadalajara e Monterrey no México - as cidades mais diversificadas são mais ricas. Tendem a crescer mais depressa e a tornar-se ainda mais diversificadas, não apenas porque possuem um maior mercado interno, mas também porque são mais diversificadas em termos do que podem vender a outras cidades e países.
É por isso que a ideia de que as cidades, estados, ou países se deveriam especializar nas suas áreas actuais de vantagem comparativa é tão perigosa. Focar-se nas actividades limitadas em que se destacam actualmente apenas reduziria a variedade das capacidades que possuem. O desafio não consiste em escolher alguns vencedores entre as indústrias existentes, mas antes em facilitar a emergência de mais vencedores por alargamento do ecossistema de negócios e capacitar o seu apoio a novas actividades.
Isso é ainda mais importante hoje, porque a globalização das cadeias de valor está a deslocalizar as relações fornecedor-cliente. As cidades e os países fazem mal em focar-se em alguns agrupamentos (clusters) e consolidar as cadeias de valor nas suas localizações, como se recomenda frequentemente. Em vez disso, deveriam preocupar-se em ser um "nodo" em muitas diferentes cadeias de valor, o que implica encontrar outras indústrias que possam usar as suas capacidades, se estas fossem expandidas e ajustadas a novas necessidades.
* Professor de Economia da Universidade de Harvard e Director do Centro para o Desenvolvimento Internacional.
Excerto do artigo publicado no Expresso de 11-01-2014. www.project-syndicate.org
Fotografia do editor, do cartaz de uma área de expansão urbana em Amsterdão.
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