Tomando como base a investigação desenvolvida no
âmbito do trabalho de doutoramento, o presente artigo pretende apresentar uma
nova narrativa para as formas da suburbanização na Área Metropolitana de
Lisboa. Ao contrário daquele que tem sido o entendimento veiculado nas últimas
décadas de que as periferias são territórios de caos e desordem, sem desenho
nem regra, a presente narrativa pretende introduzir uma leitura dos territórios
suburbanos que os configura num diálogo assíduo e incessante entre a regra e o
modelo, numa oscilação ambivalente entre a norma e a inovação. Por um lado as
formas da suburbanização veiculam a uniformização das regras e dos padrões; por
outro lado configuram uma formulação experimental do espaço edificado da
modernidade.
Com efeito, foi com a construção da periferia que,
nos últimos 60 anos, se testaram e aferiram políticas públicas, se acolheram e
conformaram leis e princípios reguladores, e se assistiu, concomitantemente, ao
próprio esvaziamento das normas, à sua transgressão e violação. Foi também com
a construção da periferia que, nos últimos 60 anos, se puseram em prática
modelos de espaço e de uso para a cidade moderna, se exploraram e
transfiguraram os argumentos e os padrões urbanísticos da modernidade e que, no
contexto da cidade extensiva, novas formas e padrões foram progressivamente
surgindo como novos cambiantes ao espaço da modernidade.
Nesta perspetiva a tese que se pretende defender é
a de que as periferias e as formas da suburbanização, particularmente na região
de Lisboa, edificam a história do espaço urbano da modernidade, nas suas
diferentes etapas e formulações.
Nesta ótica, e assente numa aproximação tipológica
às formas da suburbanização, esta narrativa vem distinguir diferentes momentos e
categorias no processo de urbanização da Área Metropolitana de Lisboa – as
formas típicas da suburbanização na AML: Pegadas
de arranque da suburbanização; Fragmentos
poligonais de expansão; Intervalos
eruditos de exceção; Arranjos de
pormenor esporádicos; Operações
urbanísticas de grande escala. Com base na análise de alguns casos de estudo que
se centraram nos concelhos de Almada e Odivelas, esta narrativa das formas da
suburbanização na periferia de Lisboa acaba por traçar uma viagem que oscila
entra as formas e os argumentos do projeto e urbanismo modernos, a história do
Direito do Urbanismo em Portugal, a sua normalização e as práticas de gestão
urbanística, e a concretização da cidade e do espaço edificado no decorrer do
período urbano expansionista.
* Professora da Faculdade de Arquitectura da Universidade de Lisboa. Sub-Directora Geral do Território.
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