Algumas das recentes políticas territoriais das áreas
metropolitanas do país têm vindo a refletir sobre a possível descentralização
do turismo em Lisboa e no Porto, visando melhor gerir a pressão urbanística nos
diferentes bairros das cidades. Naturalmente, para que tal seja viável, devemos
salientar o interesse patrimonial e cultural também presente fora dos centros
urbanos mais turísticos. As zonas históricas da Coroa Norte de Lisboa, no Paço
do Lumiar, em Carnide, e na Ameixoeira, apresentam essa potencialidade – eram
os núcleos dispersos da antiga Direção Municipal de Reabilitação Urbana. Estes
três bairros integram arquitetura e espaço público tradicional, que devemos
continuar a preservar, mantendo a sua identidade e carácter.
Considerando as fases iniciais do planeamento, de informação e debate, para elaboração de um programa, torna-se indispensável a análise de indicadores, que é o objetivo destas linhas. Alguns dados básicos de população residente e evolução dos preços da habitação permitem uma primeira leitura, que embora insuficiente nos oferece uma situação relativa e de valores absolutos. As três freguesias objeto de estudo (Carnide, Lumiar e Santa Clara) representam cerca de 88 mil habitantes, aproximadamente 16 % da população da capital, segundo os censos de 2021. Mas a sua superfície territorial, de 13,6 km2, é precisamente um pouco menor, não chegando a 14 % do município.
Estas freguesias, apesar de periféricas, apresentam assim densidades relativamente altas, de 49 habitantes por hectare em Carnide, a 70 e 71, respetivamente no Lumiar e em Santa Clara. E são também as freguesias com menor percentagem de casas vazias de Lisboa, a par de Marvila (9 % do total de habitações): também segundo os últimos censos, eram 455 em Santa Clara, 534 em Carnide e 1.143 no Lumiar. Em termos de evolução do número de residentes, notam-se algumas diferenças: Carnide perdeu cerca de 1.200 habitantes entre 2011 e 2021, enquanto Lumiar e Santa Clara somaram mais 730 e 1.165, respetivamente. Face à média concelhia no mesmo período, de menos 1,2 % ao longo da década, Carnide fica assim abaixo desse valor, ao contrário do Lumiar e especialmente de Santa Clara, que cresceu mais de 5 % em população.
Freguesia |
2023 (€/m2) |
2024 (€/m2) |
Diferença (€) |
Evolução (%) |
Carnide |
4.310 |
4.197 |
- 113 |
- 3 |
Lumiar |
3.632 |
3.885 |
253 |
7 |
Santa Clara |
2.783 |
3.416 |
633 |
23 |
Beato |
3.096 |
3.982 |
886 |
29 |
Preço médio de venda de habitação no 4º trimestre de 2023 e 2024, sua diferença e evolução (INE).
Quanto aos preços de venda em habitação, no quadro das
estatísticas periódicas oficiais, a tabela apresenta a diferença entre os
últimos trimestres de 2023 e 2024, onde se regista um crescimento médio de 5 %
no concelho de Lisboa. Para além das freguesias objeto de estudo, junta-se na
última linha a do Beato, que teve o maior crescimento relativo do valor por m2,
neste período. Destaca-se nesse sentido Santa Clara, que recebeu vários
edifícios novos, com um aumento percentual próximo e significativo, de 633 €
por m2. Por seu lado, os preços em Carnide estabilizaram, sendo bastante
superiores em valor absoluto, de mais de 4.000 € por m2, contudo longe do
máximo no final de 2024, correspondente à freguesia de Santo António, no
centro, de quase 6.000 €.
Estes dados complementam a análise urbanística, morfológica e
geográfica desta área da Corona Norte de Lisboa, tal como o olhar sobre a sua
envolvente, no interior do concelho, em especial a expectativa criada com a
futura utilização do enorme espaço aeroportuário. Mas também a observação para
o lado de fora, dos 3 concelhos limítrofes desta periferia, onde se encontram
freguesias de ainda maior densidade, em particular Encosta do Sol, na Amadora,
e Póvoa de Santo Adrião e Olival, em Odivelas. O exercício de planeamento será
assim mais consciente sobre os objetivos propostos, a par de condicionantes
ambientais, culturais, paisagísticas e de mobilidade. Só desse modo poderemos
concretizar uma área urbana com identidade e elevada qualidade económica e
social, possivelmente através de uma unidade operativa de gestão territorial.