O Expresso tem a nossa idade. Faz 40 anos. É o jornal da geração de Abril. Da anterior e da posterior. E soube ir mudando com o tempo. Antecipando as necessidades de actualizações. De formas e conteúdos. Um dos directores que mais o marcou foi José António Saraiva. Arquitecto. Hoje Director do concorrente "Sol". Que escrevia assim. Exactamente. Muito nos influenciou. Com estas nano-frases. E assim descobrimos uma relação. Entre os seus editoriais e este blog. Que é um blog de nano-artigos.
Neste Verão, o Expresso deu voz a vários arquitectos. O que nos fez pensar novamente no modo como a arquitectura se apresenta ao público informado. Inicialmente, confirmámos o óbvio. Que os arquitectos dizem e escrevem coisas que não se percebem. Numa conversa com Zeinal Bava, Carrilho da Graça diz que "inovação é o reacerto entre o homem e o mundo quando falamos de arquitectura". Como? O que é que isto quer dizer? O problema deve ser nosso, porque é mesmo uma frase que o jornalista destacou em "letras gordas". Outro exemplo (se calhar o problema foi ter sido no início da conversa): "A arquitectura constrói-se e nós construímos milhões de metros cúbicos permanentemente em todo o mundo. A lógica ou a racionalidade ou a falta dela nesse conjunto de construção é decisiva." (?) Obviamente, Carrilho da Graça também diz coisas que se percebem, e interessantes, mas esta tendência para afirmar pensamentos profundos é um fenómeno dos arquitectos. Da qual nos temos afastado. Porque gostamos de escrever de uma forma simples, para descomplicar. Sobretudo daquelas coisas que não são de facto simples.Lá para o meio do Verão, precisamente talvez por isso, na segunda entrada de arquitectos, desta vez em conversa com Sobrinho Simões, Souto Moura fez esta analogia com o corpo humano. Que a estrutura e as fachadas dos edifícios são o esqueleto e a pele da arquitectura. E que as cidades sempre se construiram mais ou menos da mesma maneira, com base num traçado ortorreticular. Mileto, Buenos Aires, Lisboa, New York. Então ficámos mais satisfeitos, o que se confirmou com as entradas de Manuel Mateus, em conversa com uma boa aluna de Arquitectura, e de Álvaro Siza Vieira, em conversa com D. Manuel Clemente. E até o também Vereador Manuel Salgado se destacou, numa notícia sobre a implantação de novos pavimentos no chão de Lisboa, intercalando o calcário e o granito. Para evitar as quedas nos passeios.
Muito a propósito, Branca Neves escreve neste número sobre o espaço pedonal na requalificação da sua cidade. Ao que se juntam outras duas dissertações de Mestrado: de Ricardo Sousa Lopes sobre os bairros de habitação social após 74, com o sugestivo título de "Aprender com os erros"; e de Ana Baptista sobre a re-utilização de antigos Mosteiros, aproximando-nos do património, um tema a que muito provavelmente voltaremos noutros CASU's. Para além de um pequeno "abstract", cumpre-se assim um dos principais objectivos deste blog, de divulgar trabalhos académicos que tivémos também a oportunidade de discutir e avaliar.