Este é um breve texto sobre o seminário "a construção e o planeamento urbanístico para os países de língua portuguesa", em que participei junto com colegas do Brasil, da Guiné-Bissau e de Cabo Verde, em Agosto de 2017. O curso constituiu uma oportunidade para conhecer a China e, em particular, Xangai. Em complemento, realizou-se ainda uma visita a outras duas cidades da costa leste da China: Dalian e Quingdao.
O seminário foi estruturado em 9
sessões, que se podem reunir em quatro partes: na primeira, a introdução à
cultura do país; na segunda, três conferências sobre o planeamento urbanístico,
em Xangai, alguns projectos estruturantes da cidade e a gestão da energia; na
terceira, quatro conferências de desenvolvimento, sobre a gestão do sistema de
mobilidade, o planeamento de algumas áreas centrais, a gestão da água e as
infraestruturas portuárias; a finalizar, a visão sobre o futuro das cidades à
escala mundial.
Foi importante perceber como é
gerida uma grande metrópole de 25 milhões de habitantes, em 6.000 km2, onde 10
milhões circulam diariamente nos transportes públicos, indicadores muito
diferentes da realidade urbana em Portugal. Em todas as sessões houve
oportunidade para um debate interessante entre os cerca de 40 participantes.
Por que a economia da China
cresceu tanto nos últimos anos? As reformas implementadas nas últimas décadas
do séc. XX produziram os seus frutos no desenvolvimento do país. As lideranças,
na administração central e a nível local, foram capazes de decidir e fazer
implementar soluções urbanísticas de forma muito rápida, respondendo de maneira
eficaz aos desafios de um mundo cada vez mais global.
Em complemento ao seminário,
realizaram-se várias visitas de estudo, de entre elas ao Instituto de Urbanismo
e à nova Torre de Xangai, de 623 metros de altura, um dos ícones da cidade, cujo
projecto foi explicado pelo Eng.º Zenfeng Gao, do Grupo de Construção de
Xangai.
Devido à sua relevância na gestão
urbanística, a mobilidade foi igualmente um dos temas mais interessantes, pela
forma de tornar possível diferenciar as velocidades de circulação e evitar os
conflitos, através de uma rede viária em vários níveis, que praticamente
dispensa os semáforos, como apresentou o Eng.º Jin Li, da Câmara Municipal de
Xangai, a par dos eficientes sistemas de transportes públicos e bicicletas
partilhadas.
Em ambos os casos, os chineses
evidenciam orgulho na utilização da tecnologia mais avançada, seja num elevador
capaz de atingir os 18 metros por segundo ou no novo comboio magnético, que faz
a ligação ao também recentemente inaugurado aeroporto internacional de
Hongquiao, com um pico de velocidade de 300 km/hora.
A competência técnica foi sentida
também durante as visitas às “cidades médias” de Quingdao e Dalian, que
apresentam igualmente uma dimensão urbana muito superior à que conhecemos em
Portugal (7 e 9 milhões de habitantes).
Notou-se aí o interesse do país
numa colagem ao que consideram ser os valores da arquitectura europeia, não
tendo pudor em caricaturar pequenos aspectos de cidades como Veneza ou Paris,
ainda que sem qualquer programa funcional, ao lado das grandes torres de vidro
e dos centros políticos ou de negócios. São representações de gosto duvidoso,
talvez para o consumo de um turismo interno em crescendo, mas que os chineses
não questionam em apresentar, mesmo no contexto da diplomacia técnica e
profissional.
Os arquitectos internacionais que
trabalham para a / na China conhecem por certo as diferenças culturais que têm
de enfrentar, para além das práticas sociais e administrativas, que em nada se
assemelham com as nossas. Por exemplo a sua noção de património arquitectónico
parece-nos bastante mais artificial, mas apesar de todas as barreiras, das
parcerias locais necessárias e da exigência tecnológica, é interessante
participar do desenvolvimento deste grande país, cada vez mais importante até
na economia portuguesa. Os chineses são um povo muito eficiente em tudo o que
fazem e nisso podemos aprender com eles.
Actualmente estas cidades relevam
a escala internacional necessária à competitividade global, sem descurar as
suas características mais singulares do urbanismo tradicional. Depois do
esforço de internacionalização e da melhoria económica e social, o segundo
passo poderá ser aqui um “renascimento urbano”, para valorizar identidades
locais, mantendo a atractividade e o turismo em crescimento, tanto a nível
interno como externo.