domingo, 4 de fevereiro de 2018

94 - Xangai e o urbanismo na China


Este é um breve texto sobre o seminário "a construção e o planeamento urbanístico para os países de língua portuguesa", em que participei junto com colegas do Brasil, da Guiné-Bissau e de Cabo Verde, em Agosto de 2017. O curso constituiu uma oportunidade para conhecer a China e, em particular, Xangai. Em complemento, realizou-se ainda uma visita a outras duas cidades da costa leste da China: Dalian e Quingdao.
O seminário foi estruturado em 9 sessões, que se podem reunir em quatro partes: na primeira, a introdução à cultura do país; na segunda, três conferências sobre o planeamento urbanístico, em Xangai, alguns projectos estruturantes da cidade e a gestão da energia; na terceira, quatro conferências de desenvolvimento, sobre a gestão do sistema de mobilidade, o planeamento de algumas áreas centrais, a gestão da água e as infraestruturas portuárias; a finalizar, a visão sobre o futuro das cidades à escala mundial.
Foi importante perceber como é gerida uma grande metrópole de 25 milhões de habitantes, em 6.000 km2, onde 10 milhões circulam diariamente nos transportes públicos, indicadores muito diferentes da realidade urbana em Portugal. Em todas as sessões houve oportunidade para um debate interessante entre os cerca de 40 participantes.
Por que a economia da China cresceu tanto nos últimos anos? As reformas implementadas nas últimas décadas do séc. XX produziram os seus frutos no desenvolvimento do país. As lideranças, na administração central e a nível local, foram capazes de decidir e fazer implementar soluções urbanísticas de forma muito rápida, respondendo de maneira eficaz aos desafios de um mundo cada vez mais global.
Em complemento ao seminário, realizaram-se várias visitas de estudo, de entre elas ao Instituto de Urbanismo e à nova Torre de Xangai, de 623 metros de altura, um dos ícones da cidade, cujo projecto foi explicado pelo Eng.º Zenfeng Gao, do Grupo de Construção de Xangai.
Devido à sua relevância na gestão urbanística, a mobilidade foi igualmente um dos temas mais interessantes, pela forma de tornar possível diferenciar as velocidades de circulação e evitar os conflitos, através de uma rede viária em vários níveis, que praticamente dispensa os semáforos, como apresentou o Eng.º Jin Li, da Câmara Municipal de Xangai, a par dos eficientes sistemas de transportes públicos e bicicletas partilhadas.
Em ambos os casos, os chineses evidenciam orgulho na utilização da tecnologia mais avançada, seja num elevador capaz de atingir os 18 metros por segundo ou no novo comboio magnético, que faz a ligação ao também recentemente inaugurado aeroporto internacional de Hongquiao, com um pico de velocidade de 300 km/hora.
A competência técnica foi sentida também durante as visitas às “cidades médias” de Quingdao e Dalian, que apresentam igualmente uma dimensão urbana muito superior à que conhecemos em Portugal (7 e 9 milhões de habitantes).
Notou-se aí o interesse do país numa colagem ao que consideram ser os valores da arquitectura europeia, não tendo pudor em caricaturar pequenos aspectos de cidades como Veneza ou Paris, ainda que sem qualquer programa funcional, ao lado das grandes torres de vidro e dos centros políticos ou de negócios. São representações de gosto duvidoso, talvez para o consumo de um turismo interno em crescendo, mas que os chineses não questionam em apresentar, mesmo no contexto da diplomacia técnica e profissional.
Os arquitectos internacionais que trabalham para a / na China conhecem por certo as diferenças culturais que têm de enfrentar, para além das práticas sociais e administrativas, que em nada se assemelham com as nossas. Por exemplo a sua noção de património arquitectónico parece-nos bastante mais artificial, mas apesar de todas as barreiras, das parcerias locais necessárias e da exigência tecnológica, é interessante participar do desenvolvimento deste grande país, cada vez mais importante até na economia portuguesa. Os chineses são um povo muito eficiente em tudo o que fazem e nisso podemos aprender com eles.
Actualmente estas cidades relevam a escala internacional necessária à competitividade global, sem descurar as suas características mais singulares do urbanismo tradicional. Depois do esforço de internacionalização e da melhoria económica e social, o segundo passo poderá ser aqui um “renascimento urbano”, para valorizar identidades locais, mantendo a atractividade e o turismo em crescimento, tanto a nível interno como externo.


93 - Pedra e Vinho. História e Desenvolvimento da Paisagem Cultural do Pico


As áreas classificadas pela UNESCO são paisagens culturais singulares, espalhadas por todo o mundo. Alguns destes lugares integram uma arquitetura popular menos conhecida, devido ao seu carácter local e tradicional. No entanto, eles são capazes de fomentar o desenvolvimento económico e a coesão social das cidades e regiões em que se inserem.
O projeto de investigação 3D Past, que é liderado pela Escola Superior Gallaecia e financiado pelo programa Creative Europe, estuda e promove o conhecimento destes lugares singulares. Em Portugal, foi escolhida a paisagem cultural classificada da Ilha do Pico, onde os habitantes construíram muros de pedra para produzirem um vinho precioso. Neste artigo, serão discutidos a história e o desenvolvimento de alguns espaços da freguesia de Santa Luzia, que assentam num modo de vida ancestral, presente ainda nos dias de hoje.
Ali, a escassez de recursos naturais e as dificuldades de deslocação entre as vilas acentuaram os efeitos da insularidade, mas a continuidade da cultura, passada entre gerações, deu frutos e é motivo de orgulho. Nesse sentido, a classificação patrimonial da UNESCO deve enquadrar-se de forma a valorizar as suas gentes e paisagens.
O artigo apresenta primeiro os principais períodos do povoamento, ao longo dos séculos XIX e XX. Num segundo momento, centra-se no desenvolvimento da ocupação em Santa Luzia, pela leitura dos seus indicadores e da transformação do território, reconhecendo os valores culturais e paisagísticos que devem ser protegidos.

sábado, 3 de fevereiro de 2018

92 - Prémio Rafael Manzano de Nova Arquitectura Tradicional 2017




Video realizado por Irene Pérez-Porro


José Baganha nació en Coimbra en 1960. Estudió Arquitectura en la Universidade do Porto y en la Universidade Técnica de Lisboa y es Doctor por la Universidad del País Vasco. En 2001 fundó su propio estudio, trabajando desde entonces en proyectos residenciales, hoteleros, comerciales, de equipamientos y urbanos en los que destaca su cuidado por la adaptación al contexto, su respeto por las construcciones preexistentes y su voluntad de humanizar y embellecer los lugares en los que se ubican.  Ha sido profesor en la Facultad de Arquitectura de la Universidade Católica de Viseu y conferenciante invitado en diversas universidades europeas. Fundó INTBAU Portugal, fue co-fundador del Council for European Urbanism y es coordinador del área de Patrimonio en la Ordem dos Arquitectos. Además del Premio Rafael Manzano 2017, las mencionadas cualidades de su obra le han valido otros reconocimientos internacionales, tales como el Prix Européen pour la Reconstruction de la Ville 2011, otorgado por la Fundación Philippe Rotthier.

Primeros proyectos

Entre sus primeras obras destacan la Casa nas Sesmarias (Salvaterra de Magos, 1992), a medio camino entre los palacios y las casas de campo ribatejanos; la Casa da Quinta da Pedra Taboleira (Viseu, 1999), que diseñó para su padre en un enclave natural rodeado de viñedos, afrontando el difícil reto de reconfigurar y embellecer un inacabado y mal construido edificio preexistente; y la Farmacia Grincho (Parede), edificando un volumen que completaba la composición del nunca terminado edificio adyacente.

Escala más urbana

La voluntad de realizar sus diseños desde la base del lugar, con su paisaje, su memoria y su identidad, incorporando a los mismos las construcciones previas, desarrollándose con ellas o a partir de ellas, transformándolas y enriqueciéndolas, seguiría presente en toda su obra. Este mismo método de respeto por lo precedente, de rediseñar el lugar sin traumáticas transformaciones, en continuidad con él, puede apreciarse incluso sus obras de mayor escala y de carácter más urbano, tales como la Casa do Médico de S. Rafael (Sines, 2005-2006), edificio concebido al mismo tiempo como residencia para médicos retirados y como espacio para diversos eventos organizados por el Colegio de Médicos de Portugal, en el cual rescató de la ruina un antiguo edificio del siglo XVIII que había sido sentenciado a ser demolido, reconstruyéndolo y convirtiéndolo en el corazón del nuevo conjunto, conectado a través de un pasaje elevado con una nueva pieza en la que dispuso la residencia propiamente dicha. Una operación de este tipo puede verse en su complejo residencial As Janelas Verdes (Lisboa, 2005-2006), en el que trató la manzana a edificar no como un único bloque, sino como una secuencia de edificios contiguos, cada uno con su propio carácter, que utiliza para pasar de la escala más urbana y el lenguaje más clásico de la calle principal a la que se abre la manzana a la dimensión más doméstica del barrio que se extiende a partir de ella y del que toma el lenguaje y las soluciones constructivas utilizadas. Integró en este conjunto la fachada principal del más notable de los edificios que existían en el solar, y, al tener que ampliarlo en altura, determinó hacerlo con un ático amansardado que no distorsionara su escala y composición originales.

La arquitectura tradicional del Alentejo

Es, en todo caso, en la continuación de las tradiciones vernáculas de la región del Alentejo en lo que la maestría de José Baganha se ha desplegado de forma más destacada.  Muestra de ello son la serie de “montes” (término con el que se denomina a este tipo de casa de campo alentejana) que ha ido realizando en los últimos años, tales como Monte do Carujo (Alvito, 2001), Monte da Heredade do Rego (Vila Boim, 2003), Monte da Quinta (Terena, 2007-2009), y Monte do Prates (Montemor-o-Novo, 2007-2009), o el restaurante que está actualmente en fase de construcción en Terena. Queda reflejado en ellas su continuado estudio exhaustivo de los diversos aspectos de la tradición arquitectónica de la región, así como de sus variaciones dentro de este amplio territorio: su estructura urbana y paisajística, sus formas clásicas y vernáculas, su procedencia, evolución y consolidación, su relación con el entorno, los oficios, sistemas constructivos y materiales locales o los diferentes tipos edificatorios. En algunos de estos proyectos, como en Monte do Carujo, Monte da Quinta o Monte da Heredade do Rego, vuelve a integrar en su obra ruinas y construcciones preexistentes, desde las que se desarrollan los nuevos volúmenes, enriqueciendo y actualizando el lenguaje local, recurriendo siempre que le es posible a sus materiales y soluciones características, como las prominentes chimeneas, los refulgentes encalados, las bóvedas de ladrillo, las estructuras de madera o los muros de tierra, y generando todo un nuevo paisaje en el que no menos importantes resultan el romero, la lavanda, el tomillo, los olivos o los viñedos propios de la zona.