por Ana Baptista *
No âmbito do trabalho a ser desenvolvido para tese de doutoramento na
Universidade de Sevilha, em cooperação com a Escola Universitária das Artes de
Coimbra, com o título “O caso das aldeias serranas – importância e limites destas
unidades sociais e patrimoniais na sustentabilidade do território”, pretende-se
apresentar neste Congresso uma reflexão teórica sob o tema: Aldeia sem
sociedade.
As transformações verificadas nos meios rurais, que enquadradas no ambiente
europeu foram em Portugal bastante tardias, bem como a crise que os atravessa,
a perda das suas actividades agrícolas, o despovoamento e os desafios que
enfrentam configuram um cenário de mudança identitária desses lugares.
Perante este facto, pretende-se reflectir sobre o que tem sido a
“descoberta” (recente) deste património edificado. Como caso de estudo são
analisadas as Aldeias de Xisto, assim designadas administrativamente,
situadas na região centro (Beira), como possível instrumento, recurso de
sustentabilidade e motor para o desenvolvimento destas áreas.
Assumindo que a valorização dos lugares e da sua memória, a potencialização
de recursos, de culturas e actividades, assim como a divulgação de espaços
esquecidos, cuja marca perdura no território, poderá ser uma forma de acção em
contextos sócio – económicos deprimidos, particularmente em comunidades rurais
fragilizadas, fortemente despovoadas e com dificuldades de afirmação como
estas, a questão que se coloca é a de saber até que ponto (em alguns casos),
este património tem vindo a ganhar uma dimensão retórica, folclórica e muitas
vezes encenada, a pretexto de uma estratégia de desenvolvimento e promoção
local, promovendo muitas vezes símbolos de singularidade, (de uma sociedade que
lhes deu origem, mas que seguramente já não existe) utilizando-os apenas como
atracções paisagísticas, gastronómicas ou arquitectónicas.
* Arquitecta.
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