terça-feira, 28 de julho de 2015

14.1 - Arquitetura Religiosa: a adequação da solução arquitetónica atual ao rito litúrgico

por Jorge Martins *


Em 1962, o papa Pio IX convocou o vigésimo primeiro concílio da Igreja Católica, denominado como Concílio Vaticano II. No essencial, este concílio visava uma modernização da Igreja através da reintrodução de aspetos litúrgicos, que se tinham perdido ao longo dos tempos. O eixo principal desta reforma é a centralidade da eucaristia e a participação ativa do povo e, como forma de operacionalizar estas alterações litúrgicas, são produzidos vários documentos, concretamente na abordagem arquitetónica, é publicada a Constituição Sacrosanctum Concilium, sendo este o documento que rege, coordena e orienta a nova conceção de espaço sacro.
Neste sentido, esta pesquisa abordou dois pontos (objetivos): identificar os princípios espaciais implícitos na Constituição Sacrosanctum Concilium e quais os reflexos práticos que as mesmas produziram na conceção do novo espaço religioso; observar a adequabilidade da arquitetura religiosa atual, produzida no Alto Minho, tendo em conta o ritual e simbolismo litúrgico. A metodologia utilizada foi do tipo de investigação do método de estudos de caso (multicaso), baseado na natureza comparativa de três igrejas posteriores ao referido concílio, onde o tratamento da informação recolhida é de origem qualitativa. Os estudos de caso foram selecionados tendo em consideração os seguintes critérios de seleção: territorial; temporal; cultural e autoria.
Desta forma, os espaços religiosos selecionados que contêm as características pré-definidas foram: Capela de Moledo – Caminha; a Igreja da Sagrada Família – Viana do Castelo; a Igreja Nova da Correlhã – Ponte de Lima. A triangulação entre a análise documental, as entrevistas e a observação recolhidas para cada caso permitiu a abordagem interpretativa de toda a informação colhida, correlacionando os resultados da análise comparativa com a fundamentação teórica.
Assim, esta pesquisa indica a tendência de que a arquitetura religiosa atual não cumpre na íntegra as normas constantes nos documentos eclesiásticos, ainda assim, a nova conceção do espaço religioso salvaguarda as normas primordiais que fomentam a participação ativa, sendo esta a grande aspiração da revigorada liturgia. Desta forma, a centralidade do presbitério, o despojamento ornamental no interior e a comodidade física e sensorial dos fiéis evidenciam-se como os pilares sobre os quais fica expressa a funcionalidade do templo atual.


* Mestre em Arquitectura e Urbanismo pela Escola Superior Gallaecia (2015). Resumo da sua Dissertação de Mestrado, sob a orientação da Professora Mónica Alcindor.

Ilustração de http://oblogdocalo.blogspot.com. Pormenor da Igreja da Correlhã, Ponte de Lima, obra do Arquitecto Luís Teles.

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