quinta-feira, 26 de dezembro de 2024
135 - Breve síntese de acções relacionadas com investigação
terça-feira, 24 de dezembro de 2024
134 - Indicadores de controlo da forma urbana - sua aplicação nos Instrumentos de Gestão Territorial
Também em muitas cidades portuguesas, sobretudo ao longo do último século, os planos foram ganhando parâmetros claros para o desenho urbano das áreas de expansão, um pouco por todo o país. A partir da década de 90 do séc. XX, com a introdução de legislação específica para planos de escala municipal, publicaram-se uma série de normas visando o controlo administrativo dos processos de gestão urbanística e de edificação (Costa Lobo et al, 1990). Desde então, os Planos Directores Municipais (PDM's) são um instrumento obrigatório e quotidiano da gestão autárquica corrente, incorporando parâmetros urbanísticos para sua aplicação em todo o território concelhio e, por vezes com maior detalhe, nos aglomerados urbanos.
No entanto, os indicadores habitualmente usados em Portugal na elaboração destes Planos têm permanecido muito centrados na forma urbana e nos processos de transformação de uso do solo. Reconhece-se actualmente que uma abordagem convencional, focalizada em métricas sectoriais (através de indicadores económicos, sociais ou ambientais) teve sequência em abordagens algo mais integradas, holísticas e interdisciplinares, em função das problemáticas emergentes, como por exemplo a sustentabilidade, a saúde ou a qualidade de vida. Surgiu assim a necessidade de maior investigação sobre o tema, para integrar diferentes perspectivas, a qualidade do ambiente urbano (Partidário, 2000), o desenvolvimento sustentável, a avaliação da execução dos planos e a monitorização da evolução territorial.
O conceito de indicador não é uniforme na sua utilização por parte de diferentes áreas científicas. No âmbito do urbanismo, ele deve permitir uma interpretação qualitativa, que possibilite fazer juízos de valor relativos ou absolutos, sobre processos que são por natureza multi-dimensionais, não deixando de assegurar a sua operacionalização para efeitos de controlo das transformações territoriais. Por outro lado, perante uma maior participação pública em processos de governança de escala supra-municipal (Florentino, 2011), os indicadores deverão proporcionar legibilidade e compreensão a vários níveis técnicos e políticos.
Já na terceira década deste século, com o desenvolvimento das novas tecnologias de informação e comunicação, extensíveis ao conceito de “Smart Cities”, parece oportuno manter-se a atenção sobre os indicadores que permitem a leitura de parâmetros urbanos e territoriais, tendo em vista a eficiência da gestão municipal e o aperfeiçoamento da elaboração dos Planos, em formatos mais inteligentes, digitais e de crescente complexidade. Este artigo visa sistematizar o conhecimento da aplicação de indicadores nos Instrumentos de Gestão Territorial em Portugal.
Como propósito genérico, pretende-se contribuir para a melhoria das capacidades de planeamento e gestão dos municípios, preparando-os para um novo ciclo de desenvolvimento, em face de novos contextos de mudança: desafios ambientais, económicos e administrativos, ligados à reabilitação urbana e da paisagem, à sustentabilidade económica e à crescente disponibilidade de informação geográfica e novas tecnologias de forte potencial em visualização, simulação e interacção com os diferentes actores. De forma mais concreta, o trabalho tem o objetivo de estabelecer uma relação entre os indicadores de controlo da forma urbana e as diferentes características e problemáticas territoriais dos municípios portugueses.
Considerando que os PDM’s se irão manter como principais instrumentos de gestão urbanística e territorial, poder-se-á assim entender na generalidade dos casos, antecipadamente, a avaliação da adequação dos indicadores às questões emergentes e ao desenvolvimento de novas referências métricas e de formulação. Nos PDM’s de primeira e segunda geração é comum verificarem-se propostas de continuidade tipológica, por exemplo em territórios de baixa densidade permitia-se unicamente a habitação unifamiliar, em área urbana histórica aplicava-se um índice de construção líquido e numa área de expansão urbana exigia-se um parâmetro de cedência para equipamentos e espaços verdes.
Este tipo de regulamentação simples e directa revelou-se, com o tempo, não ser a mais adequada ao ordenamento do território, à necessidade de maior flexibilidade nas execução dos planos e à diversidade da forma urbana. Importa assim confirmar a eficácia dos indicadores habitualmente utilizados no controlo urbanístico, propondo em sequência, de modo fundamentado, as alterações que neste domínio poderão contribuir para melhorar a gestão do território.
* Resumo da comunicação apresentada na 11ª Conferência da Rede Lusófona de Morfologia Urbana (PNUM), que decorreu em setembro de 2023, em Sintra.
133 - The Shared City. Housing and Tourism in the metropolitan areas of Lisbon and Porto *
The recent transformation
of both Lisbon and Porto city centres has been subject of significant social
debate mostly between 2010 and 20 – the decade of higher touristic pressure
(Tenreiro, J.P., 2021). Porto is often addressed for his urban evolution and socioeconomic
shift, as well as the Lisbon downtown, focused in several recent literature on the
subject (Fernandes, J.A.R. et al., 2019). Nonetheless, the transformations beyond
central areas remain unaddressed and need to be considered in the mark of sustainable
development.
Before the covid 19 health
crisis, there was a huge transformation of the two Portuguese major cities,
causing conflicts that affected the urban environment, their social and
economic activities, housing, citizens, and neighbourhoods. The international
tourism came as an economic key element for their metropolitan governance and,
possibly, it will be even more relevant in the coming years. This
research will balance the Lisbon and Porto case studies, in order to study and
propose shared places for housing and tourism beyond the central areas,
contributing to preserve urban identities and improve their sustainable
development and governance.
In the present decade, the
return of tourism attracted for cultural heritage has challenged again the
metropolitan areas. And also previous research has shown that there is some
negative perceptions of residents, concerning tourism and urban landscape
(Freitas, I.; Sousa, C.; Ramazanova, M., 2021). Therefore, it is important to
be prepared and manage integrated urban changes, by national, regional, and
local housing policies, for a more sustainable development, either in Lisbon or
in Porto.
The need of balance to
solve these kinds of problems is connected to the idea of shared cities and places,
appropriate for both local inhabitants and tourists. This emerging concept in
the field of urban planning matches the contemporary way of business, referred
as shared economy. A larger scale approach may improve the quality of public
realm, as the new technologies applications, which share the access of goods
and services, extending his benefits to wider territories and communities.
This paper emerges from the
embryo research project “MetroPoLis”, funded by CIAUD, with a combined
methodology of quantitative data and foresight studies, an important tool to
understand what will come, as the increase of specialized sectors and clearly
impacts on housing, either for landowners or tenants. In the context of the
sustainable development goal for cities and communities (SDG nº 11), it is
possible that a shared economy will contribute to reduce conflicts and extend
their positive effects to a metropolitan area. This goal is connected to the
Portuguese competitiveness strategy, especially in what concerns the
exploration of the cultural heritage, and link also to the regional development
strategies: the domain of symbolic capital, technologies and tourism services
in the North, and the intention to reinforce the Lisbon brand, at a larger
regional scale.
* Resumo do artigo apresentado no 5º Congresso de Habitação no Espaço Lusófono, dia 3 de outubro de 2024 no Laboratório Nacional de Engenharia Civil, em Lisboa.
132 - Álvaro Siza and the contemporary university values of university architecture *
The exceptionality of university buildings has been seldom
addressed by the 20th Century World Heritage, in contrast with the plan and
architecture of Brasilia by Lúcio Costa and Óscar Niemeyer, or the serial
nominations of selected works of Le Corbusier, Frank Lloyd Wright and Josef
Plecnik. Nevertheless, the program and typology of university campus were particularly
developed after the World War II, expressing a cultural symbol of the
educational standards evolution, through the last century (Edwards, 2000; Calvo
Sotelo, 2009).
This paper aims to discuss the possible differential
values of the Porto School of Architecture (FAUP), building upon previous
research about other four university centres and environments, built in the
same period and cultural framework, in the Iberian Peninsula region. For this
purpose, qualitative approach has been applied, through the study of architectural
designs and their interrelation with the campus, the urban landscape, with
similar program and scale. The scope of the analysis was the 2nd criterion of
the operational guidelines for the implementation of the World Heritage
Convention, exhibiting a significant exchange of human values, over a period or
within a cultural area, on developments in Architecture, Urbanism or Landscape.
The project for FAUP started around four decades ago
and reflects an original example of Álvaro Siza design thinking methodology.
Years later, he built the Santiago de Compostela School of Communication, and
several university buildings, such as the Library of Aveiro, the Rectorate of
Alicante or the Pedagogical School of Setúbal, among others. Most of the Portuguese
and Spanish well-known Architects were influenced by him and have works in the main
cities and university campuses of these two countries.
To fulfil that purpose, architectural works have been
analysed in the university campus of Coimbra, Guimarães, Vigo and Madrid, by
Gonçalo Byrne, Fernando Távora, Alfonso Penela and Alberto Campo Baeza,
respectively. The analysis focused on the values of urban integration, the
program distribution and the construction, respecting the classical Vitruvian
triad. As it occurs with FAUP, the other exemplars are placed in urban development
areas, with an irregular environment, and somehow an eccentric relation with
city centres (Angelillo, 1998; Penela, 2004; Fernandes, 2013; Campo Baeza,
2021).
The analysis carried out confirms that these works are
relevant contemporary heritage of university architecture, either at local,
regional or international level. However, they do not assertively demonstrate the
same remarkable values as the Campus of Siza. Indeed, several critical readings
have already confirmed the exceptional recognition of FAUP’s cultural
significance, a built manifesto of a contemporary design culture, which has
taken root and constitutes a milestone worldwide (DGPC, 2022), according to the
report of the General Directorate of Cultural Heritage, which classifies this
masterpiece as a National Monument.
The urban design for a new aesthetic symbol in the
landscape of the river Douro, as well as the genius of the author to guide the
user between the buildings and exterior areas of the old Quinta da Póvoa, all
completed and maintained by his hand, confer indisputable differential values,
integrity, authenticity, and a unique architectural and landscape character. Nonetheless,
more recently, the project for a new metro bridge nearby raised questions about
aesthetic and environmental impacts. The competition was wined by architect José
Carlos Nunes Oliveira, who gained experience precisely by working at Álvaro
Siza’s office.
Alvaro Siza and Eduardo Souto Moura were invited to
work on the urban (re)design, when the metro line faces the limits of the
University property. In fact, the intervention by the author contributes
directly to reduce the risk of disfiguring its cultural significance. In this
sense, it is expected that FAUP will maintain his unique character and value,
as a complete masterpiece that builds by itself a university campus.
The study concludes by discussing what shall be the
limits of acceptable change in such properties and their intricate relationship
with the urban landscape. Lastly, in terms of the contemporary heritage
governance, some Portuguese cultural institutions, as Casa da Arquitectura,
already promote the cultural tourism of Álvaro Siza architecture, mainly his
earlier works in the municipality of Matosinhos, the well-known Tea House and
Marés Pool. Complementary, the Porto City Council started to implement
strategies that may decentralize the urban economy beyond the historical areas
(CMP, 2024).
Finally, the FAUP building as a lively place, whose educational
environment is surrounded by other research units, has also already
demonstrated competences to design and maintain their own heritage management
plan (Ferreira & Fernandes Rocha, 2017). All the interventions in Campo
Alegre by Álvaro Siza are a lesson of architecture and present a challenge for
future readings regarding the contemporary university campus.
* Artigo redigido em co-autoria com o Doutor Bruno Andrade (REMIT-UPT) e a Prof.ª Goreti Sousa (CIAUD-UPT), apresentado na conferência final do projeto FCT SizaAtlas: Filling the gaps for World Heritage, dia 12 de setembro de 2024 na FAUP. Este projeto foi coordenado pelas Professoras Soraya Genin (ISCTE), Mariana Correia (UPT) e Teresa Ferreira (FAUP).
131 - A Cidade Partilhada *
Num dos mapas do cais da linha amarela da estação da Trindade, em direção
ao Hospital de São João, encontrava-se um desenho à mão indicando o desejo de
ligação com a ferrovia de Leixões. Em boa hora, a CP está a retomar o serviço
de passageiros nesta via única, prevendo-se que no início do próximo ano seja
já possível ir novamente de comboio entre Campanhã e Matosinhos. O aumento da
oferta e da partilha, na arquitetura da intermodalidade, pode ser uma alternativa
para certos movimentos pendulares e talvez sirva à descentralização do turismo,
a exemplo do que acontece nas linhas de Sintra e Cascais.
A mobilidade é um dos elementos essenciais da política urbana, tal como a
conectividade entre os espaços verdes e as linhas de água e a gestão dos usos,
no património edificado. São aliás as dimensões decisivas para a integração das
estratégias a apresentar nos planos territoriais, cuja aplicação poderá garantir
a qualidade do ambiente urbano. Mas em particular nas nossas áreas
metropolitanas, a problemática da habitação tem-se agravado em resultado da
pressão exercida pela procura turística. Com efeito, este sector representa
quase 15 % do PIB, sendo responsável por cerca de metade da sua taxa de
crescimento.
Os últimos censos de 2021 revelaram essa transformação urbana. Ao
desagregar os indicadores à escala da freguesia, no caso do Porto, somente
cresce o número de habitantes para lá da VCI, em Aldoar, Paranhos e Ramalde. O
município tem feito a gestão de coexistência, não permitindo novos registos de
alojamento local nas freguesias centrais, quando atingem 15 % do número das
habitações permanentes. Em complemento, delineou o objetivo de descentralização
dos fluxos turísticos, medida a articular com os operadores, para desenvolver a
atratividade e diversidade do património periférico.
A cidade partilhada entre habitantes e turistas apresenta números mais
expressivos em Lisboa. As freguesias da Baixa perderam mais de 20 % dos seus
residentes nos últimos dez anos, quase 650 por ano entre 2011 e 2021. Mas a
perda ocorre igualmente fora do centro, é também maior que 5 % nas freguesias
residenciais da 2ª Circular, Ajuda, Benfica, Carnide, Marvila e Olivais, por
certo devido ao crescimento dos alojamentos turísticos, com efeitos no mercado
imobiliário. O aumento do número de habitantes está curiosamente nas Avenidas
Novas, assinalando talvez a internacionalização da procura, com preços em alta.
Ao seu lado, na freguesia de Arroios concentra-se a imigração que serve
esta economia urbana e merece igualmente atenção. A dicotomia entre estas
densidades, de turismo e serviços, é bem visível, tal como desde há alguns anos
noutras capitais ocidentais. A Câmara de Lisboa promove agora a oferta de
projeto e licença em solo público, visando a formação de novas cooperativas, em
bairros centrais e periféricos, para enfrentar a perda de população e a procura
de habitação a preços controlados. A gestão da cidade partilhada assume, nestes
casos, uma clara dimensão metropolitana, através da necessidade de políticas
concertadas entre as diversas autarquias, de acordo com a geografia de cada região.
Nesse âmbito encontra-se o direito à mobilidade urbana, que se mede não
só em distância, mas sobretudo em tempo. E nesta perspetiva de cidade
partilhada, de habitantes, turistas e serviços, terá de ser gerida de forma
sustentável. A Lei de Bases do Clima e a recente aprovação europeia da Lei do Restauro
da Natureza, a par deste novo conceito, convocam à alteração da cultura de
ordenamento do território. Para tal, devemos melhorar e atualizar a formação
dos responsáveis pelo planeamento e desenho urbano.
* artigo publicado no jornal on-line Observador: https://observador.pt/opiniao/a-cidade-partilhada/
terça-feira, 12 de novembro de 2024
130 - MetroPoLis - Lisbon and Porto shared metropolis
The main speaker was the Councilor for Urbanism, Public Space and Housing of the Porto City Council, Arch. Pedro Baganha, who presented the city’s recent development and its current challenges to the UPT students of the Integrated Master in Architecture and Urbanism and the degree in Tourism. The morning session also included the participation of Prof. Helena Albuquerque, from the Department of Tourism, Culture and Heritage, and Prof. Rui Florentino, Principal Research of the project.
In the afternoon, the meeting took place among the students of the Executive Program in Sustainable Urban Mobility, with interventions by Mónica Alcindor and Telma Ribeiro, also professors of the Architecture and Multimedia Department and researchers of the project, and the international approach of Arch. Paulo Silvestre, specialist in urbanism, planning and mobility management. The event concluded in workshop mode, with the presentation of the ongoing projects by this course students.
Previously, on may 17th, the first meeting served to publicly present the research project, in a cycle of conferences developed by Portucalense University (UPT), within the scope of the “More than Houses” pedagogical program. We had excellent participations: Dr. Carlos Brazão, from the consortium for one of the new Lisbon international airport possible locations, Dr. Catarina Santos Cunha, Councilor for Tourism in the Porto City Council (CMP), and Architect Sergio Portela, which addressed the proposed theme, from the variety of scales and points of view.
After the interesting presentations by the speakers, and the introduction to the research topic, there was a debate concerning the tourism in the city of Porto and its implications for housing, as well as urban and metropolitan mobility. It was considered relevant to develop a territorial strategy focusing on the decentralization of flows, aligned with the concept of a “shared city”, between residents, tourists and services, aiming to ensure the quality and sustainability of the different centralities, enhanced by local and regional heritage.