Em Fevereiro de 2011 publica-se o primeiro número dos Cadernos de Arquitectura e Sustentabilidade Urbana. Este foi um Inverno pródigo em acontecimentos de consequências globais. Dias de frio prolongado paralisaram vários aeroportos na Europa e nos Estados Unidos, deixando no ar, mais uma vez, a sensação de quanto são limitadas as nossas tecnologias. Também o clima económico baixou para níveis inesperados. Portugal enfrenta uma grave crise de endividamento a credores internacionais, como um novo rico que se habituou a luxos (in)dispensáveis, mas que não tem dinheiro para os pagar. Já não se vislumbra a forma de acreditar na classe política para ultrapassar o problema e as soluções apontadas são igualmente pouco credíveis. É uma geração europeia à rasca, de parvos por terem pensado que a qualidade de vida estava garantida.
Noutro quadrante, geram-se revoltas que em poucos dias derrubam poderes de muitos anos. Terá o Egipto dado o primeiro estilhaço de um novo mundo árabe? Estejamos atentos, porque ali a dimensão demográfica e cultural é talvez demasiado pesada para o Ocidente. Em qualquer CASU, abrem-se janelas de oportunidades para os jovens, que muito bem aceitam o risco de trabalhar por esse mundo fora, por exemplo na Praia, em Cabo Verde, ou em Tripoli, na Líbia. Em especial para eles vai esta imagem da praça central de Marrakech, que proporciona experiências memoráveis.
Editoriais mais disciplinados reservam-se para futuros números dos Cadernos. Nesta primeira edição, Patrícia Canelas resume o enquadramento da avaliação ambiental em arquitectura, Joana Lavado aborda o ordenamento da dispersão territorial em Leiria e Gonçalo Machado destaca a importância urbanística do comércio de proximidade, que me lembrei de completar com um breve texto sobre as ruas, enquanto espaço público básico para o funcionamento da cidade.
Boas leituras,
domingo, 20 de fevereiro de 2011
sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011
1.1 - Certificação Ambiental de Edifícios de Habitação
por Patrícia Canelas *
Os sistemas de Certificação Ambiental de Edifícios exigem a introdução de medidas que minimizem os impactes causados pela sua construção e utilização, sendo ao mesmo tempo uma ferramenta que permite identificar os melhores desempenhos, mais confortáveis e saudáveis, e fornece informação técnica a uma sociedade progressivamente mais informada.
Em Portugal, como país de clima ameno, tanto o aquecimento como o arrefecimento do ambiente são hábitos ainda recentes, encontrando-se os sistemas de certificação numa clara fase de crescimento. Mas noutros países existem processos já bastante testados, de que são exemplo o BREEAM e o ECO-Homes, aplicados desde 1990 no Reino Unido (Buildind Research Establishment), o PINWAG, promovido na Finlândia pelo City Planning Department e o Ministério do Ambiente, e o sistema LEED desenvolvido nos Estados Unidos pelo Green Building Council.
Para a classificação de uma moradia em Portugal, estima-se que o tempo necessário para um teste de aplicação do ECO-Homes seja de entre 6 a 8 horas. Neste sistema, verificou-se uma importância gradual, de aproximadamente 21% para os parâmetros de Energia, 15% para as questões dos Solos, Materiais, Poluição e Qualidade e conforto, 10% no que diz respeito à Água e 8% quanto à Mobilidade. Em termos de critérios específicos, atribui-se maior importância relativa às emissões de CO2, ao aproveitamento das águas e ao ciclo de vida dos materiais.
* Arquitecta
Bartlett School of Planning
Os sistemas de Certificação Ambiental de Edifícios exigem a introdução de medidas que minimizem os impactes causados pela sua construção e utilização, sendo ao mesmo tempo uma ferramenta que permite identificar os melhores desempenhos, mais confortáveis e saudáveis, e fornece informação técnica a uma sociedade progressivamente mais informada.
Em Portugal, como país de clima ameno, tanto o aquecimento como o arrefecimento do ambiente são hábitos ainda recentes, encontrando-se os sistemas de certificação numa clara fase de crescimento. Mas noutros países existem processos já bastante testados, de que são exemplo o BREEAM e o ECO-Homes, aplicados desde 1990 no Reino Unido (Buildind Research Establishment), o PINWAG, promovido na Finlândia pelo City Planning Department e o Ministério do Ambiente, e o sistema LEED desenvolvido nos Estados Unidos pelo Green Building Council.
Para a classificação de uma moradia em Portugal, estima-se que o tempo necessário para um teste de aplicação do ECO-Homes seja de entre 6 a 8 horas. Neste sistema, verificou-se uma importância gradual, de aproximadamente 21% para os parâmetros de Energia, 15% para as questões dos Solos, Materiais, Poluição e Qualidade e conforto, 10% no que diz respeito à Água e 8% quanto à Mobilidade. Em termos de critérios específicos, atribui-se maior importância relativa às emissões de CO2, ao aproveitamento das águas e ao ciclo de vida dos materiais.
* Arquitecta
Bartlett School of Planning
terça-feira, 15 de fevereiro de 2011
1.2 - Las calles en la ordenación ortorreticular de Lisboa
por Rui Florentino
Se propone el estudio de las calles como un problema urbano integrado. No solamente un tema de diseño, o de transporte, o de sociología, aunque merecedor de todas esas contribuciones. La calle es una estructura urbana linear, acotada lateralmente, que integra 3 dimensiones principales: la circulatoria, con los problemas de accesibilidad y movilidad, la social, con las funciones de estancia y encuentro, y la medioambiental, con los temas del escenario y confort. Las calles más interesantes de la ciudad son las que mantienen un equilibrio saludable entre estas 3 dimensiones. Pero mirando a los barrios contemporáneos, para que las calles promuevan alguna vitalidad urbana, hay que añadir aún la densidad poblacional y la mezcla de usos, lo que nos devuelve de inmediato a la disciplina del planeamiento.
Queríamos entender que evolución han tenido las calles que forman parte de la familia de planes de ordenación urbana ortorreticular. Desde Lisboa, estaba claro que se trataban de unas formas de crecimiento más bien delimitadas, tanto en el espacio como en el tiempo, pero el análisis comparativo resulta evidente. De la clara estructura reticular pombalina, de longitudinales y transversales, en relación con la arquitectura y las plazas, se ha pasado a un espacio público riguroso, de mayor calidad y amplitud, característico de los ensanches, y luego a un diseño moderno, separando funciones, aunque ya totalmente adaptado al automóvil. Esto nos conduce en definitiva a la diversidad urbana, en detrimento de la supuesta homogeneidad de la retícula ortogonal, que sólo la reducción normativa más reciente será capaz de generar.
Se propone el estudio de las calles como un problema urbano integrado. No solamente un tema de diseño, o de transporte, o de sociología, aunque merecedor de todas esas contribuciones. La calle es una estructura urbana linear, acotada lateralmente, que integra 3 dimensiones principales: la circulatoria, con los problemas de accesibilidad y movilidad, la social, con las funciones de estancia y encuentro, y la medioambiental, con los temas del escenario y confort. Las calles más interesantes de la ciudad son las que mantienen un equilibrio saludable entre estas 3 dimensiones. Pero mirando a los barrios contemporáneos, para que las calles promuevan alguna vitalidad urbana, hay que añadir aún la densidad poblacional y la mezcla de usos, lo que nos devuelve de inmediato a la disciplina del planeamiento.
Queríamos entender que evolución han tenido las calles que forman parte de la familia de planes de ordenación urbana ortorreticular. Desde Lisboa, estaba claro que se trataban de unas formas de crecimiento más bien delimitadas, tanto en el espacio como en el tiempo, pero el análisis comparativo resulta evidente. De la clara estructura reticular pombalina, de longitudinales y transversales, en relación con la arquitectura y las plazas, se ha pasado a un espacio público riguroso, de mayor calidad y amplitud, característico de los ensanches, y luego a un diseño moderno, separando funciones, aunque ya totalmente adaptado al automóvil. Esto nos conduce en definitiva a la diversidad urbana, en detrimento de la supuesta homogeneidad de la retícula ortogonal, que sólo la reducción normativa más reciente será capaz de generar.
sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011
1.3 - Comércio e Revitalização Urbana
por Gonçalo Machado *
É difícil dissociar, historicamente, a cidade da função comercial. As tipologias dos diferentes usos contribuem para a organização geral e a posterior dinâmica dos espaços urbanos, tal como o seu ordenamento afecta, significativamente, o potencial das actividades comerciais.
Nas últimas décadas, as novas infraestruturas e tecnologias urbanas, o aumento extraordinário da mobilidade e as alterações gerais nas formas de consumo produziram efeitos substanciais nestes espaços vitais. Com problemas estruturais internos, os amplos segmentos da oferta do chamado "comércio tradicional" apresentam hoje uma extrema debilidade competitiva, agravada com a crescente procura das "grandes superfícies comerciais".
O planeamento urbanístico, pela sua missão fundamental de ordenar os usos e as formas dos espaços, possui recursos de intervenção e capacidade para influenciar a organização territorial das diferentes actividades comerciais, sensíveis à distribuição e às qualidades intrínsecas de cada área urbana. Com a emergência de novos instrumentos municipais e a inclusão de uma carta de ordenamento comercial no novo Plano Director, Lisboa tem uma grande oportunidade para desenvolver propostas urbanísticas que fortaleçam a relação entre a actividade comercial e a vivência do espaço público.
No contexto do comércio de proximidade, o formato do equipamento conhecido por Mercado Municipal, pela ampla oferta e variedade de produtos, bem como pela sua localização estratégica no interior dos bairros, constitui uma referência urbana muito forte, que interessa não só preservar, mas principlamente dinamizar. Neste sentido, os seus valores patrimoniais e funcionais são pontos de partida para fazer deles uma importante âncora com vista à revitalização do centro da cidade, invertendo o actual panorama de degradação e desertificação diagnosticado.
* Arquitecto
Ecoperfil. Sistemas Urbanos Sustentáveis
É difícil dissociar, historicamente, a cidade da função comercial. As tipologias dos diferentes usos contribuem para a organização geral e a posterior dinâmica dos espaços urbanos, tal como o seu ordenamento afecta, significativamente, o potencial das actividades comerciais.
Nas últimas décadas, as novas infraestruturas e tecnologias urbanas, o aumento extraordinário da mobilidade e as alterações gerais nas formas de consumo produziram efeitos substanciais nestes espaços vitais. Com problemas estruturais internos, os amplos segmentos da oferta do chamado "comércio tradicional" apresentam hoje uma extrema debilidade competitiva, agravada com a crescente procura das "grandes superfícies comerciais".
O planeamento urbanístico, pela sua missão fundamental de ordenar os usos e as formas dos espaços, possui recursos de intervenção e capacidade para influenciar a organização territorial das diferentes actividades comerciais, sensíveis à distribuição e às qualidades intrínsecas de cada área urbana. Com a emergência de novos instrumentos municipais e a inclusão de uma carta de ordenamento comercial no novo Plano Director, Lisboa tem uma grande oportunidade para desenvolver propostas urbanísticas que fortaleçam a relação entre a actividade comercial e a vivência do espaço público.
No contexto do comércio de proximidade, o formato do equipamento conhecido por Mercado Municipal, pela ampla oferta e variedade de produtos, bem como pela sua localização estratégica no interior dos bairros, constitui uma referência urbana muito forte, que interessa não só preservar, mas principlamente dinamizar. Neste sentido, os seus valores patrimoniais e funcionais são pontos de partida para fazer deles uma importante âncora com vista à revitalização do centro da cidade, invertendo o actual panorama de degradação e desertificação diagnosticado.
* Arquitecto
Ecoperfil. Sistemas Urbanos Sustentáveis
domingo, 6 de fevereiro de 2011
1.4 - Planeamento Sustentável com base na análise e previsão de crescimento de uma Unidade de Paisagem do Concelho de Leiria
por Joana Lavado *
Analisa-se um dos sistemas de paisagem definidos pelo PDM de Leiria – a Unidade de Paisagem do Centro (freguesias de Souto da Carpalhosa, Ortigosa e Regueira de Pontes), com base na previsão do desenvolvimento socio-económico e territorial.
A posição intermédia desta Unidade, entre a área do centro urbano e a zona de maior potencial turístico a Oeste, apresenta-lhe igualmente condições de desenvolvimento, em especial se aproveitar a vocação de complementaridade face à envolvente.
Tendo em consideração a evolução do uso do solo, desde a década de 60, observou-se que o espaço agrícola e florestal vem perdendo superfície para o espaço construído. O processo de planeamento tradicional e o seu sistema de regulação, através do método de zonamento, tem permitido o crescimento de áreas monofuncionais e com baixa densidade. Este modelo simplifica o processo de licenciamento, tornando conhecidas as viabilidades de construção de cada parcela rústica ou urbana.
Contudo, num contexto de incerteza, perante as actuais aspirações da população e as legítimas expectativas das futuras gerações, é importante que exista flexibilidade na implantação das actividades. Para um desenvolvimento mais sustentável, considerando a informação ambiental, económica e social a longo prazo, terão de ser definidos objectivos com vista à determinação das capacidades de carga do meio e à elaboração de cenários que determinem qual o caminho mais eficiente em termos globais e locais. Nesse sentido, afiguram-se necessárias medidas, tais como flexibilizar a aplicação do regulamento do PDM, visando a possibilidade de alteração de densidades e usos dentro de cada zona, face a propostas de melhoria evidente do nível de qualidade de vida, e definir zonas amplas para a implantação de usos complementares, de equipamentos e serviços. Estas medidas potenciam a redução dos movimentos pendulares e estão em linha com as propostas de conservação ambiental e de áreas não impermeabilizadas, em função da diversidade de usos previstos.
As condicionantes que impõem uma proximidade física e formal são de especial relevância, pois aproximam-nos dos objectivos de sustentabilidade. De modo a corrigir as actuais tendências de ocupação humana neste Concelho, caracterizadas pela crescente dispersão e descentralização, será assim importante construir um novo sistema de planeamento, através do estabelecimento de núcleos urbanos que funcionem em rede. Poderíamos chamar-lhe de modelo hierárquico de desenvolvimento urbano para o território municipal, permitindo relações funcionais entre os vários núcleos, devido à proximidade entre as localidades, evitando-se a dependência excessiva de um aglomerado central mais distante.
* Arquitecta
CL + Associados. Arquitectura, Engenharia, Informática e Design
Analisa-se um dos sistemas de paisagem definidos pelo PDM de Leiria – a Unidade de Paisagem do Centro (freguesias de Souto da Carpalhosa, Ortigosa e Regueira de Pontes), com base na previsão do desenvolvimento socio-económico e territorial.
A posição intermédia desta Unidade, entre a área do centro urbano e a zona de maior potencial turístico a Oeste, apresenta-lhe igualmente condições de desenvolvimento, em especial se aproveitar a vocação de complementaridade face à envolvente.
Tendo em consideração a evolução do uso do solo, desde a década de 60, observou-se que o espaço agrícola e florestal vem perdendo superfície para o espaço construído. O processo de planeamento tradicional e o seu sistema de regulação, através do método de zonamento, tem permitido o crescimento de áreas monofuncionais e com baixa densidade. Este modelo simplifica o processo de licenciamento, tornando conhecidas as viabilidades de construção de cada parcela rústica ou urbana.
Contudo, num contexto de incerteza, perante as actuais aspirações da população e as legítimas expectativas das futuras gerações, é importante que exista flexibilidade na implantação das actividades. Para um desenvolvimento mais sustentável, considerando a informação ambiental, económica e social a longo prazo, terão de ser definidos objectivos com vista à determinação das capacidades de carga do meio e à elaboração de cenários que determinem qual o caminho mais eficiente em termos globais e locais. Nesse sentido, afiguram-se necessárias medidas, tais como flexibilizar a aplicação do regulamento do PDM, visando a possibilidade de alteração de densidades e usos dentro de cada zona, face a propostas de melhoria evidente do nível de qualidade de vida, e definir zonas amplas para a implantação de usos complementares, de equipamentos e serviços. Estas medidas potenciam a redução dos movimentos pendulares e estão em linha com as propostas de conservação ambiental e de áreas não impermeabilizadas, em função da diversidade de usos previstos.
As condicionantes que impõem uma proximidade física e formal são de especial relevância, pois aproximam-nos dos objectivos de sustentabilidade. De modo a corrigir as actuais tendências de ocupação humana neste Concelho, caracterizadas pela crescente dispersão e descentralização, será assim importante construir um novo sistema de planeamento, através do estabelecimento de núcleos urbanos que funcionem em rede. Poderíamos chamar-lhe de modelo hierárquico de desenvolvimento urbano para o território municipal, permitindo relações funcionais entre os vários núcleos, devido à proximidade entre as localidades, evitando-se a dependência excessiva de um aglomerado central mais distante.
* Arquitecta
CL + Associados. Arquitectura, Engenharia, Informática e Design
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